Mário Soares sempre connosco

|Hélio Bernardo Lopes|
Não me surpreendeu a desagradável notícia de há cerca de meia hora, expondo o falecimento de Mário Alberto Nobre Lopes Soares, político desde muito jovem e sempre um concidadão interessado na natureza humana, nas suas manifestações e no devir deste mundo em que vivemos.

Não tendo a capacidade de prever o futuro, nem sendo tal algo de objetiva vantagem para cada um de nós, passei a acreditar no desfecho ora materializado a partir de certo momento, mais ou menos indefinido. Deixarei, pois, o caso material em si, quedando-me antes no que representa a vida e a obra de Mário Soares, embora da mesma não seja nnunca possível retirar a de quase toda a sua família.

Como pude já escrever, Mário Soares foi a figura cimeira da III República Portuguesa. Com quase um século de vida, sempre interessado nas coisas da vida dos humanos, com a sorte de ter podido ter um pai culto e experiente nas coisas da política, sabendo ouvir, Mário Soares teve também o sortilégio de ter atravessado um conjunto de singularidades históricas, mas por dentro das mesmas. Com maior ou menor intensidade.

O seu interesse pela política e pela cultura desde os tempos iniciais da sua juventude permitiram-lhe um conjunto de convivências deveras raro com a generalidade dos concidadãos do nosso mundo. E soube adaptar-se às realidades que foi conhecendo, conseguindo separar o sonho do que é real. Em todo o caso, nunca abdicando de realidades naturais e intrínsecas aos seus sonhos de sempre.

Com a Revolução de 25 de Abril de 1974 de pronto Mário Soares passou a manter um lugar de grande singularidade, logo a começar pela colocação andamento do Partido Socialista de que fora o primeiro fundador, mas por igual participando ativamente, até de um modo fulcral, na construção das bases da estrutura constitucional e democrática da nossa III República. Uma realidade só possível graças à ação dos Militares de Abril.

Aos poucos, Mário Soares foi-se centrando na nossa vida política, mostrando a capacidade de conduzir Portugal, a níveis diversos, para o tempo que ia chegando aos portugueses e ao País. Um tempo naturalmente incontrolável por qualquer de nós, mas que soube ler com a exatidão necessária e para o qual encontrou sempre a resposta mais adequada. Operou, deste modo, a essencial influência na vida de Portugal e dos portugueses, que sempre acabaram por conferir-lhe a confiança que foi pedindo.

Bom é recordar que Mário Soares nos deixa também um espólio cultural verdadeiramente singular. Aliás, tão singular como a sua própria pessoa e a sua familia ampla. Uma família desde sempre com a marca de seu pai, o Dr. João Lopes Soares. Deste espólio vastíssimo, impõe-se sempre destacar a Fundação Mário Soares, para a qual faço votos sinceros e profundos de que continue a desenvolver o trabalho a que deu corpo desde há muito.

Morreu Mário Soares, mas não é menos verdade que a sua figura e os seus valores continuarão sempre a acompanhar-nos e a nortear a vida pública do País. Não duvido, minimamente que seja, que por aí virão a surgir estudos da natureza mais diversa. Estudos operados por gente que com ele contactou, ou por quem tenha o natural interesse em desvendar a sua ampla obra político-social, ou mesmo pelas academias. Não faltarão elementos com interesse para servirem de base a tais trabalhos. E formulo votos para que o Partido Socialista dê corpo a uma obra de envergadura sobre o seu primeiro fundador.

Por fim, também não duvido de que Mário Soares, precisamente por ter sido a personalidade cimeira da nossa III República, deverá ter o seu lugar no Panteão Nacional. Sendo um dos nossos maiores, é aí que o devemos ter na nossa companhia. Para os de hoje e para as gerações vindouras. O meu obrigado a Mário Soares.

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