A chegada de Donald Trump à Casa Branca

|Hélio Bernardo Lopes|
Como teria de dar-se comigo, acompanhei em direto a cerimónia da tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos da América. 

Graças às novas tecnologias, tive mesmo a possibilidade de poder ver tudo o que se foi passando ao longo do tempo de transmissão televisiva, bem como os mil e um comentários até agora operados. Enfim, fiquei bem informado sobre o que se passou. E, recordando uma histórica frase de Salazar, num discurso seu, pude comparar.

Tratou-se, obviamente, de uma cerimónia pobre do ponto de vista político, com um discurso pouco qualificado, em boa medida desgarrado, mas completamente dentro do modo de atuar do Presidente Donald Trump. Em todo o caso, um discurso que veio na linha das suas intervenções de campanha e que está já a materializar no domínio da sua intervenção política.

O que parece estar presente na estrutura sentimental de Donald Trump terá algo de similar com o que há uns anos fez Manuel Valls, quando era Primeiro-Ministro de França. Numa qualquer entrevista lançou a ideia de retirar da expressão “Partido Socialista Francês” a palavra do meio, substituindo o nome do partido por um outro. Não o tendo conseguido, a verdade é que Valls mostrou, deste modo, já não acreditar no tal dito socialismo democrático. E assim parece estar Donald Trump com o que penso ser a sua postura e quanto a acompanha no seu íntimo: não deverá ser um grande crente na eficácia e na sinceridade da democracia deste tempo. E, de facto, ela vem desaparecendo aos poucos, fruto, entre outras, da intervenção do seu antecessor, ao fazer avançar o modelo neoliberal e global a todo o vapor.

Foi com um sorriso aberto que ontem mesmo escutei de Nuno Morais Sarmento a afirmação de que Trump desistiu da função de polícia do mundo por parte dos Estados Unidos. Um espanto que ficou a dever-se ao silêncio anuente de Ana Gomes. Ou seja: eles eram os polícias do mundo, sem que os nossos políticos e intelectuais se preocupassem com isso. A uma primeira vista, preocupavam-se imenso, mas no tempo de George W. Bush. Com Obama, porém, toda a preocupação desapareceu. E é agora, quando Trump desiste de tal posição, que este passa a ser criticado por tal decisão! No entretanto, lá vão continuar os colonatos israelitas, sem que as Nações Unidas de António Guterres digam uma palavrinha. Se fosse Vladimir Putin a fazer tal, bom, seria um horror dos diabos. Sendo Israel, para mais com a anuência dos Estados Unidos, nem um pestanejar se recomenda. É a Comunidade Internacional em ação, desta vez com Guterres à frente das Nações Unidas.

Mostra tudo isto, pois, a razão por que Donald Trump nada referiu em matéria de Comunidade Internacional. Simplesmente não vale a pena, porque as coisas vão continuar a ser, no Médio Oriente, como sempre foram desde a criação de Israel, sempre suportadas pelos Estados Unidos. Portanto, porquê mais considerações?

Verdadeiramente interessante foram dois fatores determinantes. Por um lado, a lembrança de Melanie Trump a Michelle Obama. Bom, Michelle nem sabia o que fazer com a caixa, oscilando para a esquerda e para a direita. Lá se salvou graças a Barack, que foi ao interior do edifício entregar ou colocar o paralelepípedo. Por outro lado, aquele sobretudo de Donald Trump ininterruptamente desabotoado! Dois atos que falam por si e representam, eles mesmos, uma marca de família.

Dizia-me um grande amigo académico já falecido que os Estados Unidos têm gente muitíssimo inteligente, mas que os presidentes, de um modo muito geral, são uns broncos. Dizia isto a propósito de Reagan, mas tinha a mais cabal razão. Pouco mais há para dizer sobre esta tomada de posse e sobre os atos que está já a praticar, porque tudo se enquadra no que sempre se conheceu de Donald Trump: ele é como se vê e sempre se viu, situação que não costuma ter lugar com os democratas.

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