Natal

|Hélio Bernardo Lopes|
E pronto, lá passou mais uma Noite de Natal. Como em todos os anos da minha já razoavelmente longa vida, passada em família, com os omnipresentes manjares e com as sempre ansiadas e desejadas lembranças. Lembranças que já foram do Pai Natal, vindo da Lapónia, que descia pela chaminé e as deixava ao redor da mesma.

Com a sorte da vida, todos estão ainda com excelente saúde, apesar de alguns dos amigos atravesem, neste domínio, um tempo de alguma preocupação. Felizmente, uma preocupação que, com elevada probabilidade, deverá vir a dissipar-se em todos eles. Ou antess, elas.

Depois do casamento do meu filho, aos poucos, foi-se criando uma estrutura de escolha de lembranças. Por um lado, oferecem-se livros, ideia que foi facilmente aceite por todos. Uma prática que, desta vez, permitiu o surgimento de vinte e três livros. Com grande satisfação, couberam-me OS PLANOS BILDERBERG PARA PORTUGAL, de Rui Pedro Antunes; O GOVERNO BILDERBERG, de Frederico Duarte Carvalho; CINCO HOMENS QUE ABALARAM A EUROPA, de Jaime Nogueira Pinto; A AMIGA GENIAL, de Elena Ferrante; VATICANUM, de José Rodrigues dos Santos; O LABIRINTO DOS ESPÍRITOS, de Carlos Ruiz Zafón e A RAPARIGA NO COMBOIO, de Paula Hawkins. E também ofereci três, a outros tantos familiares. Ao todo, pois, vinte e três obras, sendo que quatro das famílias presentes moram no interior de um círculo de seiscentos metros. Ou seja, ouro sobre azul.

Uma segunda vertente de ofertas prendeu-se – tem sido sempre assim –, também sob combinação prévia, com interesses próprios, em geral para uso pessoal. E mais com senhoras e crianças ou mesmo jovens.

E uma terceira vertente envolveu lembranças inesperadas. Comigo, por exemplo, surgiu-me mais uma gravata – tenho mais de seiscentas –, mas muito bonita e de excelente qualidade. Foi uma lembrança absolutamente inesperada. Pelo meu lado, ofereci quatro quadros pintados por mim a outros tantos familiares. Em geral, jovens adultos, mas também uma sobrinha casada, já quarentona. E um telemóvel novo para a minha mulher, dado que o atual – é a expressão por mim usada – de há muito entrou em podriture. Uma já razoável fonte de problemas.

Quanto aos manjares, simplesmente excecionais e sempre muito bem cozinhados, com a exceção dos bolos, de que, em geral, não constituem a minha preferência, para lá do bolo-rei e do bolo inglês, dois manjares de que gosto profundamente. De modo que, chegado a casa na Noite de Natal, aí pelas duas e pouco da manhã, de pronto me deitei sobre a cama que foi do meu filho, iniciando a leitura d’OS PLANOS BILDERBERG PARA PORTUGAL.

Deitei-me já com metade do texto vencido, vindo a acordar, no Dia de Natal, pelo meio-dia e vinte. Pelas três, seguiu-se o almoço do dia. Esta foi, pois, mais uma quadra natalícia, tal como sempre a conheci desde muito pequenote. Mas faltou – não era assim no meu tempo de criança e de jovem – um diálogo centrado ao redor de temas com qualidade e operados de modo concertado. Hoje, tudo roda em torno de coisas pândegas, ou carros, ou cenas passadas com este ou aquele conhecido e com os pequenotes e muitos dos grandotes a olharem os telemóveis. E sempre com o televisor ligado, mesmo que ninguém ligue ao que o mesmo vai debitando. É o aspeto que mais me choca – desagrada mesmo – nas atuais Noites de Natal.

Felizmente, todos dispusemos ainda da saúde e dos meios para assim podermos passar a Noite de Natal. A comunidade humana que temos bem podia organizar-se, a fim de levar a cada português e a cada família um Natal diferente e com as essenciais lembranças e manjares, marca sempre típica da circunstância.

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