Já vai no Carlos?!

|Hélio Bernardo Lopes|
Quem tiver utilizado algum do seu tempo para olhar, sem partidarismos, os resultados as anteriores eleições para deputados à Assembleia da República, terá percebido que o PSD só foi o partido mais votado por se duvidar de que o PS conseguisse, só por si, uma maioria absoluta.

Habituados, como sempre estiveram, à alternância entre PS e PSD, os portugueses nunca imaginaram que os quatro partidos que hoje suportam o Governo de António Costa fossem capazes de ler o sentimento profundo da grande maioria dos portugueses e se determminassem a dar corpo a uma alternativa à terrível governação de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.

Com Aníbal Cavaco Silva ainda no poder, muitos acreditaram que a atual maioria parlamentar não conseguiria vir a ver a luz do dia. Felizmente que o antigo Presidente da República se apercebeu de que a má vontade contra a anterior governação e contra os executores da mesma era enorme, acabando por atingi-lo também a ele. De resto, essa era já uma realidade distante, ao menos desde o tempo da questão do seu salário, que lhe valeu uma impensável petição pública e bem adversa. António Costa, pois, acabou por assumir as rédeas da governação, realizando o que os portugueses de há muito desejavam e que os anteriores governantes nunca realmente imaginaram. O caso da Caixa Geral de Depósitos, entre tantos outros casos, terá sido, porventura, o mais significativo.

Se o CDS/PP ainda se conseguiu dar conta de que o futuro não seria assim tão facilmente previsível, o PSD perseverou em manter a sua, sempre com esperança de que a governação de António Costa viesse a falhar, assim permitindo uma interpretação de que toda a razão sempre havia assistido ao anterior Governo. Como hoje se sabe bem, este pensamento estava completamente errado. Em todo o caso, tem-se mostrado difícil adotar um outro, o que é até simples de explicar.

Ao contrário do tantas vezes propalado, mesmo por gente respeitável e com experiência política já vasta, o PSD não foi nunca um partido social-democrata, sim um partido liberal, embora ao tempo do seu surgimento tivesse, naturalmente, de alinhar pelas posições historicamente dominantes. Perante a posição política do PS, aglutinando eleitorados muito amplos, foi difícil ao PSD assumir uma posição de rutura com a Constituição da República. Tudo se foi ficando por tomadas de posição avulsas de Alberto João Jardim, só de há uns poucos anos a esta parte tendo surgido as posições públicas de Rui Rio.

O que se passou com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, com uma tentativa longa de destruir o Estado Social, naturalmente em nome da sua própria salvação, só se percebeu depois da entrada em funções do anteriior Governo. Bem mais tarde, em entrevista a uma cadeia televisiva, Pedro Passos Coelho viria a dizer que se enganara, durante a campanha eleitoral, porque os dados publicamente conhecidos estavam errados!

Mais recentemente, foi-se desenvolvendo a sucessão de previsões catastrofistas, todas sempre caídas no olvido. Estavam objetivamente erradas, mais não sendo que projeções de fé num descalabro da vida nacional. Uma cabalíssima perda de norte político, misturando sonho, esperança e realidade. Começou, pois, a perceber-se que se estava perante um conjunto de condições muito restrito e de grande rigidez. Iniciou-se, deste modo, o surgimento de ideias e sonhos, mas que sempre terão dificuldade em fazer um caminho capaz. Um caminho que requer pessoas e ideias de cariz humanista, ingrediente hoje em crescendo de raridade por partes diversas do mundo.

Acontece, todavia, que o PSD terá sempre uma enorme dificuldade em encontrar um caminho alternativo, porque a grande maioria dos seus principais políticos de hoje abraçaram, com alma e coração, o credo neoliberal, suportado, desde logo, na destruição do Estado Social. E é bom nunca esquecer que as duas figuras portuguesas de topo na liderança do Grupo de Bilderberg foram sempre do PSD: Francisco Pinto Balsemão e José Manuel Durão Barroso. Ou seja e numa síntese simples: o PSD é hoje um partido neoliberal, membro do Partido Popular Europeu, que tem da social-democracia rigorosamente nada.

Significa isto, pois, que o tal acordo de regime, a ser feito com o PSD, terá sempre de significar novos passos no caminho neoliberal, com alterações constitucionais a maior ou menor prazo e com a destruição profunda do Estado Social. A verdade é que as pessoas de hoje são como as de sempre e requer-se, por isso, que sejam olhadas com dignidade, concedendo a cada uma e suas famílias a qualidade de vida que possa permitir a ascensão social, uma velhice digna, o acesso ao conhecimento e o direito a tentar salvar a vida. Para o PSD e o CDS/PP isto são coisas sem lógica, mas não para o PS. O que significa que não existe aqui um qualquer meio termo. Mesmo que seja apenas de natureza funcional, a experiência já mostrou que a Direita de hoje – PSD e CDS/PP – não abdica dos seus valores. Valores que, de facto, foram de sempre.

Malgrado tudo isto, ainda foi com estranheza que tomei conhecimento da entrevista de Carlos Encarnação, defendendo que o PSD precisa de mudar de rumo e a solução pode ser a realização de um congresso extraordinário. Mas o que é que um tal congresso tem que ver com o rumo do PSD, se este foi sempre um partido de ideologia liberal?! Nada! Rigorosamente nada!!

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