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|Hélio Bernardo Lopes| |
Um caos que quase ninguém quer, mas que tarda em ser parado por via de iniciativas políticas fora de controlo e de toda a lógica humanista.
GUTERRES EM CARTAGENNA DAS ÍNDIAS
Foi de tudo isto que António Guterres terá tratado na sua intervenção na Cimeira Ibero-Americana de Cartagena das Índias, embora, nos termos do noticiado, não tenha deixado pistas a explorar pelos políticos do mundo, que convidou a que se mobilizassem com a finalidade de parar e de inverter o caos que referiu e que se constitui numa pleníssima realidade.
Recordando Russell Ackoff, nós conhecemos as respostas, todas as respostas, o que desconhecemos são as questões. E assim acontece com o caos que tem vindo a ser gerado, um pouco por todo o mundo. De facto, os problemas estão bem à vista de todos. Infelizmente, a generalidade das figuras públicas do mundo evita falar das causas para se ter chegado a um ponto como o apontado por António Guterres. Simplesmente, há um dado que é certo: o modelo que vem sendo posto em prática pelos Estados Unidos e pelo Ocidente, em geral, depois do fim do comunismo, é o que está na base do desastre global que se materializa no caos referido por Guterres. Será que este terá a coragem de falar claro? Não creio.
AS CÓCORAS DOS POLÍTICOS PORTUGUESES
Os que já têm uma boa idade e que souberam, ou viveram, o que foi a ação da oposição à política de Salazar durante a II Guerra Mundial, podem agora comparar o modo completamente subserviente como os que criticavam aquele político se mostram hoje de cócoras em face das bacoradas de Wolfgang Schäuble sobre a vida interna de Portugal. Quase nem uma palavrinha.
Desta vez, logo me surgiu ao pensamento as palavras do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa nos Estados Unidos, quando entrevistado por um jornalista que o não conhecia: há o hábito de não comentar os assuntos de política interna dos outros Estados. Pois, assim não pensa o incendiário ministro alemão, que não deixa de zurzir nos portugueses e na sua vontade política sempre que, em nome da Direita, pensa ser esse o melhor caminho. Temos a democracia…
PORTUGAL PRIMEIRO
Ao mesmo tempo, e havendo que vender jornais, lá nos vão surgindo inúteis notícias sobre Rui Rio e a sua suposta intervenção política. A verdade, como já nos habituou, é que, depois, simplesmente nada.
Não é coisa nova em Rui Rio, e mostra uma faceta muito portuguesa de estar na vida: só se concorre, ou combate, com garantia prévia de não perder. A verdade, como pude já escrever por vezes diversas, é que Pedro Passos Coelho está de pedra e cal na liderança do PSD. Mesmo com maus resultados eleitorais. O resto é conversa.
A CAIXA, OBVIAMENTE
Desta vez, sem mais nada para propor que não seja o que já haviam feito, PSD e CDS/PP lá se determinaram a fazer andar a roda da Caixa Geral de Depósitos. E sem que seja novidade, os partidos da Esquerda logo se determinaram a ir na onda, tal como já haviam feito com o PEC IV, e que trouxe aos portugueses o desastre social e humano que se conheceu e sofreu. A verdade é que temos aí o velho ditado popular digno de registo, de que não há uma sem duas.
TRADIÇÃO E DESASTRE
É muito usual dizer-se que somos um país de doutores. Desta vez, desconheço se houve engano ou não. A verdade, porém, é que, não há ainda muito tempo, foi possível escutar a Helena Sacadura Cabral que logo ao início do seu casamento com Nuno Portas a este exigiu que deixasse o cinema e fosse para arquitetura, porque estar casada com o Senhor Nuno não estava na sua mente. Até gente socialmente bem e com nível intelectual pensa deste modo. E por isso não admira que, mesmo não sendo legalmente exigível, o Senhor Doutor seja tomado como de grande relevo. Tradições.
O DIREITO AOS CUIDADOS DE SAÚDE
Todos acompanhámos os acontecimentos de Ponte de Sor, que envolveram a agressão de dois jovens iraquianos a um outro, mas nosso concidadão. O tema tem vindo a percorrer o seu caminho, tendo-se noticiado que o Embaixador do Iraque em Lisboa mandou pagar as despesas hospitalares. Embora tal não seja essencial para as conclusões de agora, creio que essas despesas atingiram os dezoito mil euros. Ora, esta realidade deixou-me bastante preocupado, porque mostra que um de nós, se por acaso for agredido por um assaltante em plena rua e precisar dos cuidados do jovem Ruben, terá de pagar o montante em causa, desde que o culpado não seja encontrado.
De modo que pergunto: quem é que hoje tem aquele montante para pagar a um hospital? E não é verdade que o Serviço Nacional de Saúde tenderá a ser gratuito? Portanto, o que tem a dizer-nos Adalberto Campos Fernandes, que é o Ministro da Saúde? O que é feito, afinal, do Estado Social, desde há tanto tão apoiado por quase todos os portugueses? Cá está, temos a democracia.
SISTEMA BINÁRIO ABSOLUTO
Mesmo depois de tudo quanto tem podido ver-se ao redor da Síria e do Iraque, bem como dos extraordinários militares da coligação liderada pelos Estados Unidos, ao invés da apregoada situação de Aleppo, com sírios e russos, a verdade é que a propaganda anti-russa e pró-americana não para. Desta vez noticia-se que os terroristas do Estado Islâmico estarão a usar um milhão de iraquianos de Mossul como escudos humanos. Tal é, pois, o número superior de mortos pelas tropas da coligação liderada pelos Estados Unidos. Depois, os nossos jornalistas dirão que tais mortes não foram operadas pela tal coligação, mas vítimas da atitude dos homens do Estado Islâmico.
Em contrapartida, todos os mortos de Aleppo são sempre conseguidos pelas tropas de Assad e pelos aviões da Força Aerospacial da Rússia. Um bolo partido ao meio. Uma metade por via da ação da faca, a outra por não lhe ter resistido. E o mundo continua a girar, mesmo com António Guterres à beira de chegar à liderança das Nações Unidas.
MANCHA QUE ALASTRA
E assim prosseguem as históricas eleições presidenciais norte-americanos. Mais e-mails surgiram agora, expostos pelo diretor do FBI ao Congresso. De resto, Barack Obama veio, de pronto, salientar que nada de mal se pode apontar àquele alto funcionário.
Ao invés, o mesmo FBI deitou por terra a velha pancada do perigo comunista, agora mudado para perigo putinista, e a cuja luz Donald Trump seria uma marioneta de Vladimir Putin. Isto, caro leitor, é que é a dita grande democracia norte-americana... Percebe agora a razão de sempre ter eu dito que Hillary Clinton é uma incompetente e uma excelente representante dos grandes interesses dos Estados Unidos e do mundo? E já reparou que as nossas televisões nem referiram que o líder da Câmara dos Representantes apoia agora, explicitamente, Donald Trump? É que temos a democracia.
BARRETE
Dentro da grande tradição norte-americana, espiões chineses invadiram várias vezes as estruturas de segurança nacional dos Estados Unidos, conseguindo ter acesso aos planos secretos do Pentágono em caso de possível conflito com Pequim. Gente amante da Paz e sempre sem reservas mentais. Pode-se confiar nos americanos, tal como Salazar pôde ver com os Açores e depois pela conversa com George Ball...
O VOTO POPULAR
No entretanto, parece que, mesmo no Reino Unido, a democracia que conduziu à vitória do BREXIT pode vir a ser invertida. Tomando-se como certo que a democracia é a manifestação da vontade popular, dar agora o pinote neste domínio terá sempre de significar o fim da credibilidade do método democrático. Quase em definitivo. E estou convicto de que, por este andar, acabarão por tornar o voto obrigatório, a fim de tentar esconder o mal-estar das populações. A democracia...
SUICÍDIO ASSISTIDO
Em Espanha, tal como já se esperava, os socialistas democráticos do PSOE lá se vergaram perante a Direita de Mariano Rajoy. Precisamente o que se vem dando por quase toda a parte do mundo, o que criou a terrível situação de pensamento único neoliberal. A verdade é que o mundo caminha para uma pobreza global e para uma nova grande guerra. Como sempre, pelas mãos de presidentes norte-americanos democratas. Um verdadeiro suicídio assistido, este do PSOE em Espanha. Uma realidade já com muitas décadas na Europa.
ESTRATÉGIA
Sem um mínimo de novidade, foi como se pôde ouvir ao Papa Francisco, no seu regresso recente a Roma, que não acredita no fim da proibição da ordenação mulheres pela Igreja Católica. Francisco, nesta sua viagem à Suécia, foi recebido por uma mulher cardeal, líder da Igreja Luterana Sueca.
Já no avião, Francisco suportou-se em João Paulo II, que disse ter sido claro quando falou sobre este assunto: as mulheres não poderão aceder ao sacerdócio na Igreja Católica. Depois da homossexualidade – lembrar o padre polaco recentemente entrevistado na RTP 3 – e da manutenção do celibato, bem como do (dito) Banco do Vaticano, Francisco também mantém toda a ortodoxia de João Paulo II e Bento XVI no acesso das mulheres ao sacerdócio.
O que têm agora a dizer os progressistas que tanto têm apoiado este Papa Francisco, apontado como modernista e reformador? A grande reforma de Francisco foi simples: jogar com as aparências e usar da palavra naquelas situações de todo em todo inconsequentes. O que nos diria agora Mário Soares, depois do que se lhe ouviu sobre João Paulo II e Bento XVI?
JOGAR AOS DADOS
Finalmente, as recentes palavras do chefe do MI5 sobre a Rússia. Para lá da propaganda anti-russa e anti-Putin, pretende-se ajudar a criar o caldo psicológico propício ao desencadear da guerra que os Estados Unidos de Barack Obama – e de Hillary, se o mundo tiver o azar de vir a ser escolhida para Presidente dos Estados Unidos – têm vindo a preparar contra a Rússia. Uma realidade que já vem do tempo de Lytvinenko, depois continuada com o derrube do avião malaio por gente de Kiev.
Temos a democracia, temos o regresso do religioso à ribalta do poder mundial, mas a fome e a pobreza crescem, ao mesmo tempo que se dão passos de gigante no sentido de criar uma guerra mundial, na esperança de que os católicos ortodoxos acabem por sucumbir aos católicos de romanos, se sequência de uma imaginada vitória ocidental. Dado certo, isso sim, é que o mundo verá, finalmente e já sem comunismo, chegar a hora do inverno nuclear, mas sem comunismo e (apregoadamente) com democracia e um católico romano à frente das Nações Unidas. É caso para que gritemos: eu quér’ápláudirr!