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|Hélio Bernardo Lopes| |
Sendo que a generalidade dos portugueses evita pronunciar-se publicamente sobre casos deste tipo, mesmo de outros, a verdade é que, logo na noite desse dia e no imediato não faltaram opiniões e supostos conhecimentos deste tipo de casos por parte de quem defendeu as antigas províncias ultramarinas, durante o tempo da II República.
Ora, na noite de ontem, pelas onze horas, a RTP 3 passou o programa de Sandra Felgueiras, SEXTA ÀS ONZE, e em que estiveram presentes diversos convidados. Simplesmente, o programa foi completamente inútil, porque qualquer um de nós percebe facilmente que se algum dos convidados tivesse desde sempre ouvido falar de coisas deste tipo, até em ramos militares distintos e em tempos e lugares diversos, nunca ali iria dizer isso mesmo. Até porque, no mínimo, nem dispunha de provas de ter ouvido falar de tais casos.
Um caso houve, porém, que de pronto me assaltou o pensamento: o dos designados dinheiros militares do Ultramar, que Adelino Amaro da Costa, certamente com o conhecimento do Primeiro-Ministro, andava a averiguar. A verdade é que teve lugar o atentado de Camarate, Sá Carneiro e Amaro da Costa foram assassinados, mas nunca os tais dinheiros militares do Ultramar se viram esclarecidos. As autoridades militares simplesmente atiraram o tema para quem o quisesse deslindar, sendo que ninguém o quis fazer.
Acontece que este caso da Operação Zeus é praticamente inédito, mas nas suas dimensões atuais, porque no tempo da defesa do Ultramar Português tiveram lugar, no mínimo, dois casos, um deles posteriormente tratado por via de uma alcunha. A Revolução de 25 de Abril acabou por criar condições para que tudo acabasse por ter um fim legal.
Embora de natureza totalmente distinta, os casos dos massacres de Wiriamu, de Batepá e de macaenses, nunca foram tratados como crimes de guerra. E ninguém se preocupou com isso. De resto, a literatura sobre o caso de Wiriamu é até muitíssimo limitada, com a dos outros dois casos quase inexistente. Se há domínios onde a minha regra do não viu, não ouviu, não sabe, não pensa, obedece está presente, esses domínios são o militar, o das magistraturas, o das secretas, o das polícias, o das estruturas religiosas e o da banca. Entre outros. Nem são necessários acordos, mesmo que meramente tácitos, porque a natureza das estruturas e o modo português de estar na vida encarrega-se de fazer funcionar as coisas.
Por tudo isto, programas como o SEXTA ÀS ONZE têm uma utilidade quase nula. Será preferível que se opere um mínimo de jornalismo de investigação, ou se tratem problemas potenciais, mas na base da discussão de modelos de limitação preventiva à prática de situações como a ora surgida. Desde logo, uma rotação rápida de quem decide nos domínios em causa. Depois, operar auditorias anuais, simples, por parte de entidades que também vão mudando, sendo os resultados enviados à Autoridade Tributária e ao Ministério Público, para mera apreciação. Por fim, um levantamento capaz das empresas fornecedoras dos bens adquiridos pelas estruturas compradoras. E convém nunca esquecer a célebre ópera de Rossini: A OCASIÃO FAZ O LADRÃO. Tudo o mais é simples conversa.