Donald Trump e a OTAN

|Hélio Bernardo Lopes|
Como pude já referir e hoje se percebe facilmente, a globalização criou uma verdadeira nomemklatura mundial de interesses. Uma estrutura que se colocou completamente para lá de qualquer valor espiritual, moral, ético ou pátrio. É, como usa dizer-se, o tempo do vale-tudo e a altíssima velocidade. Numa tal situação, como teria de dar-se sem espanto, a democracia deixou de ter qualquer interesse.

É nestas circunstâncias que as mil e uma reações à vitória de Donaldd Trump se têm desenvolvido. Sendo embora um multimilionário, Trump, manifestamente, nunca foi alguém da nomenklatura que hoje explora os povos e o mundo, tendo conduzido o Planeta ao estado hoje mundialmente reconhecido. A sua riqueza derivou da dos seus ascendentes e da situação, hoje já extinta, de serem os Estados Unidos o espaço onde se podia chegar a dispor de grande poder sendo oriundo de patamares baixos da sociedade. Hoje, quem ali nasce pobre morre pobre e que é rico morre rico e deixa descendentes nessa mesma circunstância. Acabou o dito americam dream.

Pelo meio da campanha eleitoral que conduziu Donald Trump à vitória, o ora Presidente eleito referiu que a regra de serem os Estados Unidos a pagar os custos da OTAN teria de ter um fim, passando os restantes Estados que da mesma fazem parte a ter de dar o seu contributo, tanto materialmente, como em tropas de combate. Bom, foi um bico-de-obra na boca dos bem pensantes de todo o mundo que vivem à custa da carne para canhão norte-americana e das exigências sobre os contribuintes americanos.

Claro está que nenhum europeu conhecedor deixa de reconhecer a cabalíssima incapacidade dos europeus defenderem o seu próprio espaço. De resto, não se trata de uma situação nova, porque a invasão alemã da França mostrou isto mesmo, bem como o quase completo colaboracionismo da França com Hitler e sua gentalha. Perante a invasão alemã, a França mostrou ser, objetivamente, um canal sem ruído. Portanto, o que Donald Trump fez foi apenas apontar o óbvio e nunca afirmar que os Estados Unidos, através da OTAN, não aceitariam defender um país desta que fosse atacado por um outro Estado. Resta saber o que se daria, por exemplo, num conflito entre dois Estados da própria OTAN, como teve lugar, por exemplo, no Vietname e na crise do Suez...

Uns dias passados sobre estas mais que lógicas palavras de Donald Trump, Jean-Claude Juncker veio apontar o imperativo de se constituírem umas forças armadas da União Europeia, mas de pronto outros vieram recusar uma tal ideia, por manifesta impossibilidade. Como de há muito se sabe, isso de combater não é coisa que se dê bem com os povos da Europa, com as notáveis exceções do Reino Unido e da Alemanha.

Por fim, este dado mais que evidente: Donald Trump sabe muitíssimo bem que nenhum Estado tem hoje em mente invadir um qualquer Estado que seja membro da OTAN. De resto, Donald até sabe bem que a generalidade do que se diz da Rússia e de Vladimir Putin se salda em mentiras propagandísticas, dado que as forças armadas da Rússia, embora preparadas para os riscos em que tentam colocar o país, não invadiram nenhum outro Estado. O que se passou com o Iraque, com o Afeganistão, com as ditas primaveras árabes e com a Síria foram obra da ação política dos líderes dos Estados Unidos, desde Bill Clinton a George W. Bush, Brack Obama e Hillary Clinton. Mormente os dois últimos cometeram a bestialidade de colocar o mundo à beira de um conflito mundial.

Em resumo: Donald Trump nunca referiu que os Estados Unidos sairão da OTAN, ou que deixarão de lado a aplicação do Artigo 5, se for caso disso, mas sim que os custos da instituição têm de ser suportados por todos os Estados que lhe pertencem. E só lhe ficará bem se exigir tropas de combate aos restantes Estados que pertencem à OTAN. Convém estar agora sempre de pé atrás com a propaganda anti-Trump...

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