Donald Trump e os neonazis americanos

|Hélio Bernardo Lopes|
Num destes dias, uma qualquer organização de neonazis reuniu-se nos Estados Unidos – pareciam ser muito poucos, assim como os que contestam Donald Trump –, resolvendo-se a apregoar a supremacia branca, a sua superioridade sobre os pretos – creio que nem os consideram pessoas – e a apoiar aquele.

Esta realidade permite tirar duas conclusões. Por um lado, o direito à asneira é livre. Por outro lado, tais reuniões e tomadas de posição não deverão ser ilegais, ou o atual procurador-geral teria feito aplicar a lei. Ao mesmo tempo, Donald Trump de pronto rejeitou estes gestos e condenou o ideário claramente anormal que os suporta. De modo que se me impôs expor hoje um pouco do que foi a vivência do nazismo nos Estados Unidos, numa saga que atravessou tempos históricos e personalidades políticas as mais diversas.

Tal como também teve lugar no Reino Unido, em França, na Áustria, em Itália, na Croácia e em Espanha – entre muitos outros países –, também a sociedade norte-americana mostrou grande simpatia para com o ideal nazi, logo que surgiu na Alemanha em 1920 e que, com cambiantes, se tem mantido até hoje. Até em Portugal teve lugar uma célebre zaragata, que chegou à troca de tiros, em plena sede da PIDE, entre simpatizantes nazis e aliados.

Também a amizade entre altos dignitários nazis e figuras proeminentes dos Estados Unidos foi uma realidade muito forte e abrangente. Naturalmente e para lá dos ideais, sempre ao redor dos interesses, tivessem estes a origem que fosse. Foi o que se deu, por exemplo, entre Hermann Göering e o presidente da Texaco, que vendeu uma imensidão de petróleo ao Governo Alemão antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Por seu lado, a Fundação Rockefeller financiou o programa eugenista de Joseph Mengele, com eugenistas norte-americanos a organizarem, no ano de 1934, uma feira científica para receber os médicos higienistas alemães. De resto, os Rockefeller, por intermédio do Banco Chase, têm vindo a ser investigados por receber dinheiro e ouro roubado pelos nazis aos judeus que prenderam e exterminaram.

De igual modo, James D. Money, vice-presidente das relações externas da General Motors, foi condecorado com a Ordem de Mérito da Águia Alemã de 1.ª Classe, atribuída pelo Governo Alemão, tendo a Ford mantido o fornecimento veículos militares à Alemanha nazi, usando a mão-de-obra que se encontrava detida nos campos de concentração e durante todo o tempo de guerra.

Também Prescott Bush – o avô Bush –, senador pelo Connecticut e banqueiro estabelecido em Wall Street, frequentou a Universidade Yale, e o mesmo se deu com o seu avô, que fundou, nesta universidade, em 1844, a sociedade secreta, Wolf's Head. Ora, em 1933, Prescott Bush participou numa conspiração destinada a derrubar Franklin Roosevelt, acompanhado, nesta sua iniciativa, pelas famílias Rockefeller e Heinz – por esta passou o anterior marido da mulher de John Kerry –, mas por igual a DuPont, o National City Bank, o J. P. Morgan e a Goodyear.

Mas o próprio Prescott Bush acabou por entrar para duas outras sociedades secretas, a Zeta Psi e a Skull and Bones, tal como se deu, mais tarde, com o filho, George H. W. Bush, e com o neto, George W. Bush. O próprio John Kerry é também membro da Skull & Bones. Ora, Prescott Bush, em 1933, foi um dos doadores da campanha de Hitler...

Ao mesmo tempo, existe nos Estados Unidos, ao menos desde o início da década de sessenta, o Partido Nazi Americano. Nega, até, o holocausto alemão, mas a verdade é que continua em vigor e a ser consentido. Foi este partido que agora se manifestou do modo bestial que pôde ver-se e que a grande comunicação social, naturalmente ligada à nomenklatura mundial neoliberal, tenta apresentar como algo de idêntico a Donald Trump e aos seus pontos de vista. Vivendo-se hoje num tempo de vale-tudo, pois, vale mesmo tudo.

Por fim, o já célebre John McCain. Reuniu-se este, em 2013, com o líder do antigo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Ucranianos – o atual Svoboda –, ao mesmo tempo que o Governo de Barack Obama enviou, em 2015, alguns militares para a Ucrânia, a fim de treinar o Batalhão Azov, que ainda hoje ostenta, orgulhoso, a simbólica nazi.

Porém, o mais significativo foi a votação do Governo de Obama, no Conselho de Segurança, em 2014, contra um projeto de resolução que condenava a glorificação do nazismo, sendo que os únicos países que votaram contra a proposta foram a Ucrânia, o Canadá e os Estados Unidos.

Tal como um jornalista britânico expôs há uns meses, o caso da má vontade contra a Rússia de Vladimir Putin, entre outros fatores, deve-se a uma russofobia. Haja o que houver, vota-se sempre contra a Rússia. Ou seja, também aqui Donald Trump se mostra pleno de razão, nada tendo que ver com o nazismo. E já agora: haverá alguém infiltrado no Partido Nazi Americano que tenta, assim, pôr em causa a imagem de Donald Trump?

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN