A omnipresente verdade

|Hélio Bernardo Lopes|
Tendo já perdido o interesse pelos comentários das nossas televisões, onde Hillary era sempre a excelente e Trump o péssimo, determinei-me a iniciar o meu sono um pouco antes da uma hora da madrugada. As obras que estão a ter lugar no andar sob o meu acabaram por levar-me a tomar consciência de que o dia havia já nascido.

E foi aí que me recordei dos resultados eleitorais nos Estados Unidos. Tendo ligado o rádio, em plena cozinha, eis que de pronto ouvi: …com esta vitória de Donald Trump. Ou seja, Donald Trump havia vencido as eleições para o Presidente dos Estados Unidos da América. Bom, não fiquei feliz nem infeliz, mas sorri com gosto.

Não se pode compreender este resultado sem ter em conta o estado atual do mundo, comparando-o com o recebido por Barack Obama ao tempo da sua primeira eleição. E o que essa comparação mostra é um abismo perigoso e deveras negativo. Incluindo para uma enorme parte de norte-americanos. Vejamos alguns aspetos que envolveram este acontecimento.

Em primeiro lugar, Donald Trump tinha razão: se perdesse, é porque teria tido lugar uma fraude. Uma frase tão criticada pelos jornalistas e analistas do sistema mundial de grandes interesses, que hoje se pavoneiam pelas televisões, mas que foi proferida com a consciência da grande revolta larvar no seio da sociedade norte-americana, onde a chegada de Obama ao poder fez valer, nos Estados Unidos e no mundo, a regra do vale-tudo.

Em segundo lugar, esta vitória surge num tempo de desagregação interna do Partido Republicano e de diluição moral do Partido Democrata. Realidades que se devem, precisamente, à triunfante prática neoliberal e globalizante, que se teria sempre de suportar na regra hoje praticada, a do vale-tudo.

Em terceiro lugar, Hillary Clinton estava longe de ser alguém bem aceite pela maior parte dos norte-americanos, que nela viam, corretamente, uma excelsa representante do tal sistema de grandes interesses que foi sempre pondo em causa Donald Trump, ao ponto de se ter percebido a existência de uma inibição na capacidade de se poder manifestar a seu favor.

Em quarto lugar, o nefandíssimo papel da grande comunicação social, desde a norte-americana à europeia. E também a completa mentira das sondagens, que também nós já pudemos viver em situações diversas. Que o diga o CDS/PP. Lia-se um jornal, acompanhava-se um debate televisivo, e lá nos surgia uma marca objetiva da propaganda do sistema mundial de interesses que nos conduziu à beira de um novo conflito mundial: Hillary, a maravilha; Trump, o Diabo.

Tal como pude escrever em texto meu anterior, Donald Trump tinha razão nas críticas que fez ao sistema que era usado contra si, de que eram peças fundamentais os grandes meios de comunicação social, fossem americanos ou europeus. É esse sistema que tem criado pobreza e a miséria por todo o lado, com países de primeira e outros usados como vassalos. Basta recordar, desta vez, o caso da combinata entre Hollande e a Comissão Europeia. Enquanto Hillary era uma peça fundamental deste sistema mundial de interesses, Trump materializou sempre o descontentamento e a reação das vítimas do mesmo. É este sistema mundial de interesses que permitiu o desenvolvimento da tal Rede, apontada por Joana Marques Vidal.

Em quinto lugar, o regresso do velho tique do perigo comunista, agora transmudado em perigo putinista. E não deixa de ser confrangedora a dimensão papagaia que vem vendendo esta fantástica e perigosíssima mentira, de há muito hipertrofiada pela política de Obama e da própria Hilllary, quando foi Secretária de Estado.

Em sexto lugar, a ausência de uma tomada pública de posição de Hillary Clinton em face dos resultados. Como foram estúpidos os americanos, talvez esteja ainda a pensar Hillary. A democracia dela é, em boa verdade, a dos seus interesses e a dos correspondentes grandes que se vêm desenrolando pelo mundo, sobretudo desde que Barack Obama assumiu o poder. Infelizmente, uma fantástica desilusão. Em sétimo lugar, a inacreditável utilização de meios afetos ao exercício das funções presidenciais de Barack Obama ao serviço da campanha eleitoral de Hillary Clinton. Duvido de que a generalidade dos políticos e dos cidadãos atentos do mundo não se tenha admirado com esta anormalidade. Objetivamente, percebia-se que Hillary, só por si, não iria lá. Foram precisas as preciosas ajudas do Barack Obama, utilizando os meios do Estado, e da grande comunicação social, afeta ao sistema mundial de grandes interesses, em favor de Hillary e em desfavor de Trump, a fim de tentar salvar a nau... E não mesmo assim se operou essa salvação.

E, em oitavo lugar, o que Donald Trump irá agora encontrar. O caos no mundo, fruto da regra do vale-tudo, o precipício para uma nova guerra mundial, objetivamente criado por Barack Obama, e um dissoluto estado moral e social da sociedade norte-americana, a que haviam regressado o racismo, a violência, o vale-tudo e um fosso social nunca visto. Até o medo de poder manifestar, publicamente, o apoio à candidatura de Donald Trump se acabou por implantar!

Mesmo por fim, alguns aspetos anedóticos, restos da política de Barack Obama. Desde logo, o receio de Angela Merkel pelo (suposto) facto da Rússia pode tentar influenciar as eleições legislativas de 2017 na Alemanha, através de ciberataques ou campanhas de desinformação! Aparentemente, não se recordou da ação de espionagem mundial da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos. Uma ação que, naturalmente, continua em vigor. E depois, a anedótica tomada de posição da chefe da dita diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, condenando ontem os recentes recuos na democracia na Turquia, nomeadamente a intenção de reintroduzir a pena de morte e as limitações à liberdade de expressão. Bom, simplesmente anedótico. Aliás, mesmo o anedótico é pouco.

Vamos agora esperar pelos noticiários da noite e pelos debates ao redor deste resultado, mas sempre com tudo a ser visto sob uma cama dura, não vá Donald carregar no botão nuclear...

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