O debate americano

|Hélio Bernardo Lopes|
Lá teve lugar o tão esperado e badalado debate entre Hillary Clinton e Donald Trump. Depois de ter combinado comigo mesmo não acompanhar o debate, dada a hora de Portugal a que iria decorrer, acabei por não adormecer, até que chegaram os quinze minutos que antecediam a transmissão.

Bom, acabei por ver, embora apenas cerca de cinquenta minutos, tomando o que vira até aí como um bom indicador da parte restante. Mas diz-se agora que o que não vi terá mostrado uma boa vantagem da americana sobre Donald Trump. Talvez sim, talvez não. É essencial ter presente o modo como se tratam os dois candidatos em Portugal...

Num certo sentido, porém, fiquei algo aparvalhado, porque a qualidade do debate foi muito má. Ao pé dos nossos debates entre líderes políticos, este ficou a autênticos anos-luz. E logo me ocorreram as palavras, por exemplo, dos nossos bispos católicos, lamentando que os debates que por aqui têm lugar não tratem os temas com verdadeiro interesse para os portugueses! Fingem não perceber que os portugueses têm uma diversidade vasta de temas que estão bem à frente dos debates políticos: futebol, novelas, música, casas de segredos, etc., etc..

Mas este debate mostrou, por igual, a fraqueza de Hillary Clinton. E se não refiro Donald Trump é porque dele se tem dito o pior que pode imaginar-se. Em todo o caso, esteve desta vez num tom muito diferente do normalmente utilizado. De resto, quem começou por tratar questões pessoais – e com que cinismo! – foi, precisamente, Hillary Clinton. Da parte do candidato o que se viu foi moderação e franca melhoria em face do seu comportamento até há pouco. O que, como se percebe, nem seria feito difícil de conseguir.

Também encontrei alguma graça aos nossos (ditos) intelectuais, preocupados com a origem dos apoiantes de Donald Trump, mas esquecendo, por exemplo, a cabal incompetência de Hillary – já expliquei, num outro texto, a razão de ser desta realidade –, mas também o facto de ter sido Bill Clinton o verdadeiro grande responsável pela revolta de milhões de islamitas em face dos constantes bombardeamentos depois da Operação Tempestade no Deserto. Mais de um milhão de mortos, a que ninguém liga, fixando-se sempre no Governo da Síria, como se tudo o resto seja coisa pequena e sem responsabilidade. E quem diz Bill Clinton, diz Blair.

Enfim, uma coisa é o que surgiu em sondagens, outra o resultado final da eleição e outra, ainda, se estes debates, de facto, têm grande influência sobre a decisão dos eleitores. Diferente é o efeito de possíveis falsas notícias sobre sondagens, porque podem produzir um abaixamento dos braços no eleitorado do apontado como menos votado. E hoje, como se conhece à saciedade, vale já tudo em política. Um dado me parece hoje certo: um debate sem um ínfimo de nível político e de qualidade, onde facilmente se percebe que Hillary é, de facto, a representante dos interesses dos plutocratas norte-americanos.

Por fim, a morte de Shimon Peres, em cujo funeral estará presente o casal Clinton. Sendo sempre de lamentar a morte de alguém, e sendo Shimon Peres uma pesoa simpática, nem tudo o que se diz é coisa clara. Um tema sobre que convido o leitor a tentar ler a obra, DE BEIRUTE A JERUSALÉM, do judeu norte-americano Thomas L. Friedman – eu disponho da 2ª Edição, datada de 1991 –, publicado pela Editora Bertrand Brasil S. A.. Será muito difícil encontrar esta obra, mesmo em boas bibliotecas, embora continue a ser a mesma publicada nos Estados Unidos e no Brasil. Por este trabalho se perceberá facilmente que os votos do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa nas Nações Unidas mais não são que simples forma. O mais provável será que a Faixa de Gaza e a Margem Ocidental do Jordão acabem por ser introduzidas no Estado de Israel. É um tema que não deverá ter outro futuro.

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