![]() |
|Hélio Bernardo Lopes| |
A REDE, SEMPRE ELA
Nunca irei esquecer as palavras de Joana Marques Vidal, hoje nossa Procuradora-Geral da República, quando um dia referiu a existência de uma rede que se movimenta ao redor dos interesses geridos pelo Estado.
Como teria de dar-se, de pronto se viu posta em causa, sob o cínico argumento de que havia sido pouco clara, a todos de algum modo inculpando. Embora raros, a verdade é que logo pude escrever que essa rede existia (e existe!), mas que se tratava de uma estrutura dinâmica. Vindo assintoticamente de muito longe, havia encontrado excelentes condições no tempo de troca-tudo-passa-tudo que se vem vivendo no mundo atual.
Pois, aí está mais uma manifestação dessa rede, desta vez, ao que se noticia, ao redor do tema rodoviário, envolvendo umas quantas instituições e, alegadamente, alguns concidadãos nossos. Veremos o que virá a dar-se por provado, sendo que tudo só depende de se procurar, um pouco que seja, pelos mil e um lugares potencialmente típicos.
UM DIA DE EXTREMA ALEGRIA
Lá chegou, finalmente, o tão esperado acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa na sequência do pedido mais recente de José Sócrates, ao redor da entrevista do juiz Carlos Alexandre. Bom, como seria lógico, não foi dado provimento à ação judicial apresentada pelo antigo Primeiro-Ministro José Sócrates.
Como se torna evidente – quase todos perceberam isso –, as palavras de Carlos Alexandre em nada influenciariam o decorrer do processo em causa. E se é verdade que o juiz devia ter evitado proferi-las, dado que as mesmas seriam sempre interpretadas como dizendo respeito à sua posição em face do caso, também o é que as mesmas têm um valor causal nulo no âmbito do processo. Até da opinião dos portugueses em face do caso, a que, de facto, já nada ligam.
Foi um dia de alegria para a generalidade dos portugueses que acompanham os noticiários televisivos, porque deste modo se evita uma perigosíssima imagem de ligações entre a Justiça e certos concidadãos. Ninguém deixaria de tirar uma tal conclusão, ainda que a mesma não tenha correspondência com a realidade.
DÚVIDAS
Por outro lado, nunca deixará de ser visto como uma terrível martelada na confiança dos portugueses no atual Governo do PS a ideia, ontem surgida pela voz de uma sindicalista da UGT, de que o Governo pretende continuar, em 2017, a mesma prática instituída pelo anterior Governo, no sentido de pagar o subsídio de Natal em duodécimos. Dirá o Governo que tal se deve a uma razão técnica...
Se assim for, tal acabará sempre por ser olhado pelos portugueses como uma manutenção de um desgraçado passado político. Tão desgraçado, ou tão pouco, que uma grande maioria de portugueses – socialistas democráticos, comunistas, bloquistas e verdes – se determinaram a exigir a unidade que poderia parar o caminho de tragédia humana e social que vinha sendo paulatinamente trilhado pela anterior Maioria-Governo-Presidente. Depois do estado da Saúde, começam agora a surgir mais dúvidas, mas de natureza social...
A SOLIDARÍSSIMA ÓRÓPA
Já numa verdadeira corrida para a frente, o Governo Alemão adotou hoje um projeto de lei que restringe, de um modo profundo, o acesso às prestações sociais dos imigrantes provenientes da própria União Europeia.
Assim, os cidadãos europeus que vivam na Alemanha sem trabalhar deixarão de ter direito às ajudas sociais antes de uma permanência legal de cinco anos no país, embora possam requerer um subsídio transitório, pelo período máximo de um mês, até, porventura, deixarem o país.
Esta medida, de facto, surge na sequência das anteriores posições de David Cameron, então postas em causa pelo Governo Alemão. A verdade é que este acabou agora, por igual, por seguir o caminho que condenava. Percebe-se, pois, que tal medida terá de vir a alastrar. É a estrordinária solidariedade da famigerada Óropa, como alguns outros a pronunciavam.
E NINGUÉM SABIA?...
Um estudo recente veio colocar à vista do mundo que foram poucos os criminosos de guerra nazis que cumpriam penas de prisão. Objetivamente, chega a dar a sensação de que tal realidade era desconhecida, quando se sabe, à saciedade, os mil e um apoios dados a tais criminosos, incluindo por parte da própria Alemanha, supostamente já desnazificada.
O que agora se mostra como novidade é que o Sistema de Justiça Alemão, que ficou a funcionar depois da II Guerra Mundial, acabou por ficar dominado por antigos nazis, que foram atuando concertadamente para proteger os seus antigos capangas. Em todo o caso, isto não passa de uma pequena parte da verdadeira realidade, porque o nazismo alemão teve, objetivamente, um amplíssimo apoio dos alemães, mormente na grande Baviera católica.
Este estudo recente também nos diz que em 1957 cerca de 77% dos funcionários com cargos de responsabilidade no Ministério da Justiça alemão eram antigos membros do partido nazi, sendo irónico constatar que tal situação superava a do tempo em que vigorou o nazismo na Alemanha.
O estudo diz que o ora dado a conhecer ao mundo ajuda a explicar a razão de tão poucos nazis terem sido condenados. Uma realidade estampada em mil e um livros, desde estudos a biografias diversas. A América Latina foi um dos grandes suportes para o refúgio de nazis, tal como a Espanha, a Croácia, a Suíça, os Estados Unidos e o Vaticano. A própria União Soviética só não recebeu mais nazis porque estes preferiram sempre o ambiente capitalista.
Isto explica, em mui boa medida, a atitude da Alemanha de Merkel em face dos Estados do Sul da Europa. Sempre o desdém que se vem vendo esteve presente, e também sempre se tentou desmentir a evidentíssima realidade. O que a Alemanha de hoje vem fazendo é o que Hitler não conseguiu com armas, mas agora através de jogos onde o deus dinheiro vem imperando. E o que se passa com o fantástico banco alemão, a cada dia com novidades quentinhas, mostra bem o rigor tão apregoado pelos alemães. Um rigor que vem já dos históricos carros. E ninguém sabia!...
FOI SEM QUERER…
É interessante constatar o modo como a Holanda está a reagir a uma decisão judicial que o considera responsável pela morte de três centenas de bósnios no massacre de Srebrenica, pelo meio da década de noventa do passado século.
Dando uma confrangedora sensação de cinismo, as autoridades holandesas fingem não ser possível imaginar que num tal tempo, em plena Europa, um genocídio pudesse ter lugar! A uma primeira vista, imaginam o comportamento humano como algo de linear e sempre no sentido do aperfeiçoamento moral e ético!
Com um pouco mais de cinismo e desfaçatez, as autoridades holandesas talvez até consigam escamotear o conhecimento do papel alemão, croata e vaticano no desencadear do desmoronamento da antiga Jugoslávia. Seria bom conseguir uma tradução para holandês da obra, DA JUGOSLÁVIA À JUGOSLÁVIA, de Carlos Santos Pereira. De resto, depois da pífia diplomacia alemã com Kristalina Georgieva, já não custa acreditar na ignorância agressiva de alemães e holandeses. Em todo o caso, sendo ocidentais, foi tudo sem querer...
ENTRE A DOUTRINA E A REALIDADE
Os portugueses mais velhos recordam, sem dúvida, Desmond Tutu, hoje a meio da casa dos oitenta. Ordenado sacerdote anglicano com trinta anos e nomeado arcebispo em 1986, Tutu usou a sua posição para defender a adoção de sanções internacionais contra o poder da minoria branca na África do Sul e, mais tarde, para lutar por direitos, de forma global, por aí vindo a receber o Prémio Nobel da Paz em 1984.
Desmond Tutu é hoje arcebispo emérito da sua Igreja, por cuja carreira defendeu, naturalmente, os valores cristãos. Simplesmente, ele vive as circunstâncias do seu tempo e da sua idade, percebendo que se aproxima o seu fim por entre nós. Neste sentido, salientou agora que se preparou para a sua morte, deixando claro que não deseja ser mantido vivo a qualquer custo.
Completando a sua explicação em face do que se aproxima no seu percurso de vida, disse esperar ser tratado com compaixão e que lhe seja permitido partir para a próxima fase da jornada da vida da forma que escolher. E continuou: sinto-me impelido a dar voz a esta causa, para aqueles que sofrem insuportavelmente ao chegarem ao fim das suas vidas, apenas saber que uma morte assistida está ao seu alcance pode dar um incomensurável conforto.
Aqui está como uma vida longa dedicada ao sacerdócio, suportado numa doutrina já muito antiga, não o impediu de perceber que o sacrifício e o sofrimento inúteis devem ser evitados, sem que tal se constitua numa atitude anti-humana. Pelo contrário, num mundo como o de hoje, e do que é de esperar estar para vir, está ao alcance da ciência médica e da consciência de cada um de nós evitar o dolorosamente inútil. Uma coisa é a doutrina, outra a realidade.
PRIORIDADES
Hoje mesmo, dentro de pouco do tempo marcado pelos relógios de Portugal quando escrevo este texto, António Guterres falará perante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Como alguém já escreveu num destes dias, Guterres já provou ser o líder eloquente, com princípios e credível de que o mundo precisa nestes tempos exigentes. Falta agora, portanto, a prática.
A nossa concidadã, Inês Sofia de Oliveira, em Londres, hierarquiza seis desafios principais para António Guterres: o conflito na Síria; a monitorização do nuclear no Irão e a contenção na Coreia do Norte; a melhoria da imagem das forças de manutenção de paz; as tensões Ucrânia-Rússia e Arábia Saudita-Iémen; as mudanças climáticas; e a reforma interna da própria organização. Enfim, é um elenco possível.
Como pude já escrever, tenho para mim que António Guterres deverá organizar a sua lista de prioridades com base na ideia estratégica de que deverá cumprir dois mandatos. O primeiro mais dedicado a preparar, sempre com a colaboração e unidade dos membros permanentes do Conselho de Segurança, a estrutura futura das Nações Unidas. Um tempo em que terá, por igual que deitar mão da arte e do engenho essenciais a esfriar o atual clima de tensão, objetivamente criado, direta ou indiretamente, pelos Estados Unidos. O segundo, já num clima de nova era, mais voltado para a resolução, com caráter fortemente permanente, dos grandes conflitos regionais que por aí se desenvolvem e que, a não serem parados, bem poderão degenerar num qualquer apocalipse.
O conflito na Síria só pode ter o seu fim se os Estados Unidos aceitarem pôr cobro no apoio armamentista dado, por razões do cerco à Rússia, aos ditos rebeldes anti-Assad. De outro modo, tudo vai continuar e tudo poderá vir a acontecer. Mas não será bom para quase ninguém.
A contenção da Coreia do Norte será, para Guterres, porventura, muito mais simples do que pode imaginar-se. E, se acaso vierem a surgir dificuldades, elas residirão sempre na tradicional má-fé política dos Estados Unidos. Falta, para um diálogo capaz com o atual líder norte-coreano, um líder político mundial com credibilidade. De Obama, é o que se tem podido ver, e dos restantes é pior.
A melhoria da imagem das forças de manutenção de paz das Nações Unidas é muito fácil de conseguir, mas requer algumas mudanças em matéria de Direito Penal Internacional. Ainda assim, não será difícil a António Guterres conseguir um tal desiderato.
As mudanças climáticas também poderão ver o seu caminho muito facilitado, desde que as Nações Unidas se determinem a pensar novos modos de desenvolvimento com dignidade para a enorme parte do mundo que se encontra repleta de carências. O que falta colocar em condições terá de fugir do terrível modelo criado pelos Estados desenvolvidos do Norte.
Da reforma interna das Nações Unidas já atrás referi o caminho a seguir: operá-la sob manobra do Secretário-Geral das Nações Unidas, mas sempre e só de acordo com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. Por esta razão, este órgão terá de ficar para o final do que se impõe estudar.
Sobram, pois, o conflito na Síria, a monitorização do nuclear no Irão e as tensões Ucrânia-Rússia e Arábia Saudita-Iémen. Para o caso iraniano talvez se possa encontrar um caminho fácil, mas que sempre irá depender de um outro a que a nossa concidadã não se refere: o conflito entre Israel e a Palestina. Em contrapartida, a tensão Arábia Saudita-Iémen depende muito dos Estados Unidos. Estes têm na sua mão o poder suficiente para reduzir o conflito a um mínimo volume. E também o caso sírio depende, muito acima de todos, dos Estados Unidos. Isso mesmo nos explicou Hillary Clinton, creio que num entrevista ao 60 MINUTES. Foram eles, de facto, que criaram o estado de coisas que destruiu a Síria.
Por fim, o conflito Rússia-Ucrânia. É um conflito que deve levar a Ucrânia a colocar o problema aos tribunais internacionais, porque a alternativa será uma guerra com contornos finais imprevisíveis. Em todo o caso, terríveis. Um dado é, porém, certo: espera-se de António Guterres uma resposta para o histórico problema entre Israel e a Palestina, domínio sobre que tanta decisão existe já por parte das próprias Nações Unidas. De resto, decisões nunca cumpridas.
DESCOBERTA FANTÁSTICA!
De um modo verdadeiramente fantástico, a Turquia salientou ontem recear que a guerra na Síria evolua para um confronto mundial, com a persistência da tensão entre Rússia e Estados Unidos, que apoiam partes opostas no conflito. Em todo o caso, não referiu a Turquia quem é o responsável por se ter chegado à atual situação. E que é quem pode pará-la.
O interessante, neste caso, é a cabalíssima incapacidade de se ser claro neste domínio: quem causou esta guerra? Com que legitimidade a Turquia e os seus aliados ocidentais exigem a partida do Presidente Bashar al-Assad? E se os Estados ocidentais decidirem a saída de Erdoghan? Ou da liderança dda Arábia Saudita?
Não deixa de ser interessante escutar os nossos jornalistas referirem que Moscovo bloqueou uma proposta de resolução da França, mas nunca refrerindo que a França, os Estados Unidos e o Reino Unido fizeram o mesmo com uma outra proposta de resolução da Rússia. Se agrada ao Ocidente é bom, de contrário é mau.
DIFICULDADE EM APRENDER COM A EXPERIÊNCIA
Qual milagre, aí nos surgiu o magnífico Gorbachev, que foi corrido do poder pelo bêbedo de que nos recordamos, agora advertindo que o mundo está a aproximar-se perigosamente da zona vermelha. Mas que lição profunda! O leitor imagina que algum antigo presidente dos Estados Unidos, ou da França, tomaria um tal tipo de posição? Afinal, quem acha Gorbachev que tem razão?
Mas Gorbachev tem um bom caminho a seguir, se realmente deseja retomar as boas graças de Washington: abre as portas aos grandes interesses norte-americanos e ocidentais, abandona os amigos e deixa que a Federação Russa se divida e decomponha. No dia seguinte, depois desta segunda aplicação da sua doutrina já tão experimentada, tudo estará numa boa. Fico espantado com a atribuição de um Nobel da Paz a um político tão incapaz e com tamanha falta de coragem política!!!
UMA QUESTÃO MAL FORMULADA
Ainda no mesmo sentido, eis que nos surgiu ontem o Papa Francisco, com um sentimento de urgência, renovando o seu apelo, implorando com todas as suas forças aos responsáveis para que seja assegurado um cessar-fogo imediato, que seja imposto e respeitado, pelo menos o tempo necessário para permitir a retirada dos civis, antes de mais as crianças. Infelizmente, cabe-nos perguntar para onde seriam levadas essas pessoas? Para a Europa? Para as paróquias da Igreja Católica, por esse mundo fora?
Claro está que o conflito na Síria é desumano, como o foram os ataques nucleares dos Estados Unidos ao Japão, ou o bombardeamento Aliado às cidades alemãs, ou a Guerra do Vietname, ou a Operação Condor, ou a Terrível ditadura de Franco, ou a pedofilia no seio das instituições religiosas, etc...
Infelizmente, Francisco não vai mais longe que lamentar a prática do mal, embora sem nunca referir a sua fonte primeira neste caso. Queixa-se, com razão, da venda de armamento por todo o lado, mas nunca refere que os Estados Unidos são, de muito longe, o seu primeiro vendedor e fornecedor. E sobre o conflito entre Israel e a Palestina, com as mil e uma desobediências por parte de Israel, a decisões da Comunidade Internacional, bom nada se lhe tem ouvido de muito importante. Nem a nossa concidadã Inês Sofia de Oliveira, em Londres, se lhe refere, nas suas prioridades para a ação de Guterres! São vastos e pouco claros os grandes interesses que vão pelo Mundo.
A GUERRA
A grande verdade é que a Rússia pediu já a todos os seus oficiais e altas figuras da sociedade para que façam regressar ao país os seus familiares. Tudo na sequência do aumento da tensão entre o país e os Estados Unidos. E é muitíssimo natural o que o Daily Mail noticiava ontem: uma guerra global poderá estar iminente.
Os Estados Unidos jogam tudo por tudo, voltando aos tempos do macartismo e das loucas ideias de Curtis LeMay. Um louco que desenhou um ataque preventivo à antiga União Soviética, sobre trinta das suas principais cidades, usando duzentas bombas nucleares como as usadas no Japão. A verdade é que pelo Papa Francisco o mal parece todo estar no Leste. Por acaso histórico-religioso, essa é a zona onde é mais vasta a Igreja Ortodoxa, sendo essencial não acreditar que a visita de Obama à Santa Sé foi apenas com o intuito de obter umas selfies com o Papa Francisco… Muitos anos antes, Vernon Walters teve um encontro semelhante, a sós, mas com João Paulo II.
UMA SUGESTÃO
Não perderá o leitor se acaso visionar os episódios do canal televisivo, ODISSEIA, sobre o Vaticano, a Máfia e o dinheiro. Têm vindo a ser recentemente transmitidos e são muito bem dirigidos. O que ali se encontra é uma parte ínfima da realidade, mas vale imensamente mais que mil palavras. Se vir, não perderá.