A entrevista do Padre Krzystof Charamsa

|Hélio Bernardo Lopes|
Do modo mais inesperado que possa imaginar-se, foi como ontem me dei conta de que o entrevistado de Vítor Gonçalves na RTP 3 era o padre Krzystof Charamsa. 

E num ápice referi a minha mulher que num texto de véspera eu havia apontado o caso deste sacerdote como um dos meus gritos ali tratados. Num certo sentido, tudo parou em nossa casa, tendo sido desligados os três telefones existentes.

Foi uma entrevista deveras interessante, extremamente elucidativa e que permitiu ficar a saber melhor o que cada um, com um mínimo de conjetura, poderia facilmente perceber. Se eu quisesse resumir a entrevista, diria que a mesma mostrou que a Igreja Católica é a mesma de sempre, hoje só limitada pelas vicissitudes históricas. Se estas não tivessem tido lugar, os líderes da Igreja fariam, por igual, o que outras religiões vão fazendo por todo o mundo. E é bom estarmos atentos, porque o circunstancialismo mundial está a levar-nos para esta situação...

Como havia já escrito na véspera, o que o padre Krzystof Charamsa já havia referido sobre o número de casos semelhantes ao seu andará por metade. No mínimo, ao nível vaticano. A conjetura indica-nos que é altíssima a probabilidade de tal acontecimento ser verdadeiro. E, como por igual referi no meu texto anterior, a causa de ser esta a realidade é estrutural. Basta recordar, por exemplo, as gravações áudio que mostram a zanga do Papa Francisco em face da continuação do mal que, internamente, tem tentado limitar, mesmo minimizar.

Também se não pode duvidar dos relatos do padre Krzystof Charamsa sobre o que se passa hoje na Polónia. O mesmo teria aqui lugar se, por um acaso, a Igreja Católica conseguisse dispor do poder, ou do seu comando, mais ou menos indireto. Basta que se recordem os casos do IMI católico e das fundações da Igreja Católica. E a tendência, se for consentida e alimentada, é para um poder de tipo absoluto. Qualquer pessoa de boa-fé sabe que é esta a realidade.

Mas o padre Krzystof Charamsa não tem razão na ligação que refere no livro entre a pedofilia dos padres e o celibato. Este fenómeno existe entre solteiros e casados, padres ou não. A causa principal deve-se ao facto de se conhecer que tais taras ficarão sempre, com elevada probabilidade, fora do conhecimento público e do castigo natural e expectável. E quem diz pedofilia, diz todos os restantes abusos de poder para com a comunidade geral.

Por fim, o grande problema do padre Krzystof Charamsa: a ingenuidade. Só a ingenuidade pode levar a crer que a Igreja é suscetível de grandes mudanças, ou que um general faz um exército. Um pouco de atenção à ação do Papa Francisco mostra, de um modo simples, que nada do que sempre se disse esperar da Igreja Católica no mundo mudou. Não mudou o celibato dos padres, não mudou o acesso das mulheres ao sacerdócio, não mudou o banco do Vaticano, etc., etc.

O que surgiu de novo foi o modo como o Papa Francisco atua num tempo que sucedeu à lamentável situação moral para que a Igreja Católica tinha sido atirada. Francisco deitou mão de uma postura humilde, desapegada, direta, moralizadora, mas sempre completamente ineficaz. De resto, é por ser esta a realidade que não foi ainda assassinado. Mas, enfim, foi um acontecimento deveras inesperado e muitíssimo interessante de acompanhar. No fundo, ficámos a saber o que já se conhecia.

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