De um modo muito geral, mormente em Portugal, a memória é muito curta. Uma consequência – e também causa – de sempre terem sido os portugueses muito desinteressados da democracia. Acabam, por isso mesmo, por se tornarem muito individualistas, egoístas e invejosos, o que torna muito difícil conseguir uma governação capaz e que permita que Portugal se desenvolva de um modo autossustentado.
Ao mesmo tempo, veem em tudo o que nos é exterior e próprio dos que alumiam duas vezes o grande exemplo a seguir, mas como se, instituindo oficialmente tais condições, as mesmas logo por aqui ficassem. O excelente clima produz algum apagamento destas realidades. A uma primeira vista, olhados de fora, parecemos diferentes e excelentes.
Introduzi estas considerações para ir ao encontro da desfaçatez da Direita atual, que atua como se tudo o que fez não tivesse determinado as mais graves consequências para a grande maioria dos portugueses. Sabe-se agora que a política da anterior Maioria-Governo-Presidente colocou mais de um terço da nossa população na pobreza. Para lá de ter quase anulado o significado da democracia, ao mesmo tempo que, sem pestanejar, subordinava a soberania portuguesa aos ditames da Alemanha que hoje ainda comanda a famigerada União Europeia. Para já não referir a venda a pataco de grande parte do património nacional, bem como o alheamento completo em face dos desastres do GES/BES e do BANIF. Uma catástrofe múltipla e com um grau de multiplicidade muitíssimo elevado.
Uma das estruturas que foram atingidas pela desastrosa política da anterior Maioria-Governo-Presidente foi a Polícia Judiciária e, de um modo mais geral, o próprio Sistema de Justiça. Ainda há dias o soubemos pelo juiz Carlos Alexandre, na entrevista que concedeu ao EXPRESSO.
O setor da Educação foi deixado num estado desgraçado, tanto nos meios quanto na funcionalidade. E em todos os graus de ensino. De modo que o surgimento do Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, com a sua mui qualificada equipa ministerial, criou um terrível engulho naquela franja da grande burguesia que nunca conseguiu aceitar de bom grado o acesso da generalidade dos nossos jovens ao ensino e ao saber.
No domínio da Saúde a realidade conseguiu ser ainda pior, sobrando-me hoje a dúvida sobre se o atual Governo conseguirá, de facto, inverter a situação de autêntica pré-destruição criada. Muito sinceramente, não creio neste devir. De resto, de pronto dei toda a razão à crítica de António Arnaut, há dias, a cuja luz o Serviço Nacional de Saúde, fruto do acesso dos privados à Saúde, acabará por ser reduzido a (quase) nada. Uma evidência para a qual não se vê da parte dos que realmente mandam em Portugal, nem do Presidente da República, nem do Governo, a determinação de inverter uma tal situação.
Por fim, a eterna e tão desejada Segurança Social, contra a qual aí nos surgiram outra vez os mandantes do pesadelo que dá pelo nome de União Europeia. Querem estes mandantes que o atual Governo prossiga com as (ditas) reformas da anterior Maioria-Governo-Presidente, ou seja, com os cortes sem parar nas reformas e nas pensões. De preferência privatizando todo o sistema.
Trata-se, como bem se sabe, de uma desastrosa herança, a que se poderiam juntar os casos da ASAE, das Forças Armadas, etc.. A verdade é que, sem espanto para os mais atentos e materialmente desinteressados, a Direita de hoje defende a maravilha que perseverou em destruir! Uma fantástica desfaçatez, só possível por serem os portugueses aquele tipo de gente com uma curtíssima memória e extremamente desinteressados da vida pública. Pessoas para quem tudo está bem. Infelizmente, este tipo de atitudes tem um preço, mas que atinge todos...
Uma desastrosa herança
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Hélio Bernardo Lopes,
Opinião
/ Foi publicado
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Notícias do Nordeste
