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Hélio Bernardo Lopers |
E não fica mal a um comentador a possibilidade de apontar ideias a concretizar pelos dirigentes dessa comunidade humana, Sobretudo, para quem, como Manuela Ferreira Leite, não deverá voltar a viver o seu dia-a-dia na política. Pois, isto foi o que, ontem mesmo, não fez a antiga líder do PSD.
Certamente não querendo prosseguir pelo caminho lógico, Manuela deitou-se a lamentar a falta de ideias, por parte de todos os partidos políticos, para os próximos anos. Simplesmente, por razões diversas que não quis explicitar, isto não é hoje passível de ser feito. Por um lado, porque a presença subordinada de Portugal no seio da famigerada União Europeia impede que os eleitos possam aplicar o modelo de desenvolvimento que pretendiam e prometeram. Por outro, porque a oposição atual também não pode agora aparecer a prometer que, se chegasse ao poder, voltaria a prosseguir pela anterior política de vende-tudo e retirando quase tudo à grande maioria de portugueses.
Neste sentido, Manuela foi de uma extrema imprecisão, até contradição, ao referir que o Governo se mantém preocupado em desmanchar ou anular aquilo que foi feito anteriormente, e toma isso como uma grande medida de futuro para o País, enquanto a oposição se desgasta a confirmar a bondade de tudo aquilo que fez.
Que esta última parte é verdadeira, pois não restam dúvidas, mas dizer que o atual Governo de António Costa só se mantém preocupado em desmanchar ou anular aquilo que foi feito anteriormente, e toma isso como uma grande medida de futuro para o País, bom é uma terrível enormidade.
As ditas reversões deste Governo nada têm que ver com o futuro do País, antes se constituem na materialização da promessa eleitoral de repor o que, à revelia do Estado de Direito, fora retirado aos reformados e aos funcionários públicos. Nunca estas decisões foram anunciadas pelo atual Governo como partes de uma reforma estrutural. São, acima de tudo, uma medida de justiça elementar, de resto suportada nas críticas de Manuela quando as foi destruindo a anterior Maioria-Governo-Presidente. O mesmo se deu, por exemplo, com a privatização dos transportes públicos. Depois, Manuela surge-nos com aquela sua máxima de que neste momento, a grande vitória ou derrota deste Governo cinge-se a acertar ou não no valor do défice. Mas não foi sempre esse o cavalo de batalha dos mil e um que passaram a mandar em Portugal, desde que, em má hora, nos meteram nesta desgraçada União Europeia?!
De seguida, Manuela diz-nos que, do ponto de vista dos portugueses, não temos nenhuma alteração nas nossas vidas se os números do défice forem contabilizados de uma forma ou outra, na sequência do que tem vindo a passar-se com a Caixa Geral de Depósitos. Sem um mínimo de dúvida, esta afirmação permite perceber que Manuela vive longe do tecido social, mormente da classe média que tanto foi atingida pela anterior Maioria-Governo-Presidente. Afinal, Manuela vive e convive com quem e em que país?
Por fim, Manuela salienta que existe uma visão estreita ou até nula relativamente àquilo que são os problemas do País!! Então e qual é a sua visão? O que nos tem a dizer, por exemplo, do silêncio do atual Presidente da República – e de todos os anteriores – sobre as consequências do TTIP? E dos partidos da oposição? E o que pensa das recentes palavras de Joseph Stiglitz sobre que Portugal, sempre com sacrifícios, terá mais a ganhar com a saída do euro do que com a sua continuação? Alguém diz o que quer que seja sobre estas palavras? É verdade que Joseph não passa de um Nobel da Economia e de um vice-Presidente do Banco Mundial, mas, enfim, sempre se poderiam dizer, aqui por estas bandas, algumas palavrinhas sobre esta ideia! E o que pensa Manuela Ferreira Leite? E, mesmo por fim, um desafio: escreva um livro com a sua ideia sobre a reforma do Estado Português, sobre como exportar e para onde e sobre como garantir a soberania. Será que a antiga líder laranja ouviu as palavras de Marcelo Caetano, de que sem o Ultramar Português, Portugal ficaria reduzido a uma província da Europa? E o que pensa desta profecia, digamos assim? E já agora: o segundo mandato de Aníbal Cavaco Silva, tal como escreve Fernando Lima, foi de definhamento político, ou não? Faltam a Manuela Ferreira Leite clareza, materialização de ideias e também coragem política.
E já agora – é realmente o fim deste texto –, faltou a Manuela Ferreira Leite a abordagem do magistral caso Rocha Andrade, por alguns também designado, em Espanha, por Caso Andrade Rocha. Este sim, é que é, de há muito, o caso central e mais condicionador do futuro do País. E tanto assim, que logo voltou à ribalta parlamentar no novo primeiro dia de trabalhos desta sessão legislativa. Só os incêndios florestais o eclipsaram, porque por todo o mundo não se fala de outro tema.