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|Hélio Bernardo Lopes| |
Seria para mim interessante conhecer a audiência dessa entrevista, relacionando-a mesmo com a dos restantes canais. E seria interessante, por igual, que se operassem sondagens sobre a imagem pública de Carlos Alexandre, Rosário Teixeira, José Sócrates e João Araújo, por exemplo.
Como pude salientar logo no meu primeiro texto, as considerações sobre não possuir contas em nome de amigos, nem amigos pródigos, deviam ter sido evitadas, porque seria altíssima a probabilidade de poderem ser tomadas como uma piada e, por aí, acabarem – seria uma tragédia para a imagem já má do nosso Sistema de Justiça – por se desenvolverem esforços no sentido de o afastar dos grandes processos que tem em mãos, mormente o caso Marquês.
Claro está – é evidentíssimo – que o que foi dito naquela entrevista em nada limita a ação de Carlos Alexandre, nem mesmo mostra que exista algum preconceito contra José Sócrates. No máximo, poderia ser tomada como uma piada, uma brincadeira, uma picadela, como usa dizer-se.
Acontece que Carlos Alexandre, tal como Rosário Teixeira, têm a cabeça a prémio desde que se determinaram a deter José Sócrates. Escrevi-o na altura e o tempo tem vindo a mostrar tratar-se de uma evidentíssima realidade. Basta recordar, por exemplo, as declarações de Mário Soares em Évora, quando visitou Sócrates pela primeira vez, ou até as de António Campos, quando também operou o mesmo itinerário. E podemos mesmo ir muitíssimo mais longe, lembrando, por exemplo, Aníbal Cavaco Silva, no dia imediato à constituição de Leonor Beleza como arguida, quando era Ministra da Saúde, e em que afirmou que se tratava de alguém sério, e isto quando a Procuradoria-Geral da República havia acabado de a constituir arguida. Ou as palavras de Mário Soares, em entrevista ao Expresso, quando era Presidente da República, com Carlos Melancia a ser julgado, dizendo, sem papas na língua: ele está inocente!
O que se pôde ver neste passado O EIXO DO MAL mostra uma atitude que está para a assumida pelos nossos intelectuais de serviço naqueles dois casos, assim como um está para infinito. O que pôde ver-se neste mais recente espetáculo foi uma cabalíssima crucificação do juiz Carlos Alexandre, assim como se por ele tudo o que passe seja algo de terrível, antidemocrático, mesmo de regresso a um outro Estado Novo.
Os nossos residentes d’O EIXO DO MAL, certamente por acaso, nunca se recordam dos restantes casos, para os mesmos exigindo justiça. Nem uma palavra, por exemplo, sobre o tempo infindo para a justiça brasileira tomar uma decisão sobre o caso do homicídio de Rosalina Ribeiro, nem sobre a cabal inoperância das autoridades internacionais, para mais no tempo que passa, sobre o paradeiro de Adelino Vera-Cruz Pinto, etc.. Nestes caso, de um modo muito geral, ou nunca falam, ou se o fazem é para sorrir e nos dizer: é a Justiça no seu melhor. Até Carlos Cruz já ali foi também ilibado, quando bastaria ter explicado como eu mesmo fiz: um outro tribunal poderia, com tudo o resto constante, ter tomado uma outra decisão. Isto, caro leitor, é que é a democracia portuguesa, a da nossa III República, para mais com Portugal já membro – um entre iguais, claro – no seio da famigerada União Europeia.
Com todo este triste espetáculo, há um receio que hoje me assola: o de que o Conselho Superior da Magistratura venha a substituir o juiz Carlos Alexandre no caso Marquês, porque se assim suceder, bom, será o cabalíssimo descrédito do nosso Sistema de Justiça. Qual será o português independente que não admitirá, de pronto, que uma absolvição de José Sócrates, em tais condições, será consequência da substituição do juiz que sempre todos reconheceram como alguém probo e corajoso? Ninguém!
Tal como pude já escrever, até em resposta a uma afirmação infeliz de José Sócrates, nada existe que garanta que irá ser condenado. Mas uma coisa será não o ser com os membros da equipa de magistrados tal como sempre esteve, outra se tal vier a dar-se após substituição do juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal. Teria sido bem mais avisado que não tivesse Carlos Alexandre tido autorização para conceder aquela entrevista. Chega a parecer mentira!