A história desta descoberta começa em Janeiro deste ano quando o ESO lançou o projecto Pale Red Dot com o propósito único de tentar detectar planetas em torno de Proxima Centauri. Não demorou muito. No passado dia 24 a descoberta foi publicada na revista Nature por uma equipa liderada por Guillem Anglada-Escudé do Queen Mary University of London. A equipa usou observações realizadas com dois dos espectrógrafos mais precisos do mundo: o HARPS, instalado no telescópio do ESO de 3.6 m, no Observatório de La Silla, e o UVES, instalado no telescópio Kueyen, um dos gigantes de 8 metros do Observatório de Cerro Paranal.
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A análise dos dados recolhidos pelos espectrógrafos permitiu determinar a existência de um sinal que parece ser devido à presença de um planeta com pelo menos 1.3 massas terrestres orbitando a estrela a cada 11.2 dias, a uma distância média de apenas 7 milhões de quilómetros (Mercúrio, o planeta mais interior do Sistema Solar, orbita o Sol à distância de 59 milhões de quilómetros). Proxima Centauri é mais pequena e muito menos luminosa do que o Sol pelo que, mesmo a esta distância aparentemente pequena, o planeta se situa na sua zona habitável, uma região em torno da estrela onde as temperaturas permitem a existência de água no estado líquido.
O que sabemos sobre o putativo planeta resume-se praticamente no parágrafo anterior. Apesar disso, boa parte das notícias que lemos sobre a descoberta fazem passar a ideia de que existe um planeta semelhante à Terra (sem aspas) mesmo aqui ao lado — o sensacionalismo vende mais. Esta abordagem não reflete a abordagem cautelosa ao anuncio pela comunidade científica. Para começar, qualquer alegada descoberta tem de ser verificada independentemente por outras equipas de investigadores, usando outros instrumentos, metodologias e análises de dados, antes de ser universalmente aceite.
Por outro lado, o facto de um planeta com massa e dimensões aproximadas da Terra se encontrar na zona habitável de uma estrela não implica que seja habitável, muito menos que tenha vida. O próprio conceito não é consensual na comunidade científica. Por exemplo, alguns modelos colocam Vénus na zona habitável do Sol e em termos de características físicas este planeta é quase um gémeo da Terra, no entanto é um mundo inóspito, sem vida. E que dizer da possibilidade de vida em Europa e Encélado, muito para lá da zona habitável do Sol? No caso de Proxima Centauri b, o planeta está tão próximo da estrela que poderá ter sempre o mesmo hemisfério voltado para a estrela (tal como a Lua com a Terra), uma situação muito diferente da da Terra. O Proxima Centauri b é também irradiado por um fluxo de raios-X, um tipo de radiação extremamente nociva para a vida, que é 400 vezes superior ao suportado pela Terra.
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Para já, as medições da velocidade radial da estrela obtidas pela equipa permitem calcular as datas de possíveis trânsitos do planeta. As equipas de investigadores podem assim pedir tempo de observação nos poucos, e muito requisitados, telescópios capazes de os detectar. As probabilidades jogam, no entanto, contra os astrónomos pois as características do sistema permitem calcular que existe uma probabilidade de apenas 1.5% para a ocorrência de trânsitos. Mas a sorte favorece os audazes…
Na realidade, portanto, e admitindo que a descoberta será confirmada independentemente no futuro, não sabemos quase nada sobre o “Proxima Centauri b” e por isso pensar em terras e vida é especulativo, para usar um eufemismo.
Luís Lopes*
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva