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|Hélio Bernardo Lopes| |
Em primeiro lugar, as declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlüt Çavusoglu, a cuja luz os meios de comunicação na maioria dos países europeus não são livres e na Alemanha não são livres em absoluto. Bom, cada um de nós conhece esta realidade a um ritmo diário. E basta recordar o que Marcelo Caetano escreveu no seu DEPOIMENTO: mandei chamar os banqueiros à minha presença e disse-lhes que teriam de comprar os jornais, porque era imperioso pôr um fim na censura oficial.
Em segundo lugar, a mais recente demissão de uma juíza no Reino Unido – creio que é a terceira – por razões ligadas à paralisia com que é tratado o caso das broncas sexuais envolvendo gente da grande área política e social. Imagine o leitor o que não iria por essa União Europeia, ou nos Estados Unidos, se uma realidade deste tipo tivesse lugar, por exemplo, na Rússia de Vladimir Putin... Isto, caro leitor, é que é o Estado de Direito à moda da União Europeia no Século XXI.
Em terceiro lugar, a tal grande democracia americana, com o que se vem vendo com as mil e uma obstruções colocadas a Donald Trump pelos que vivem da exploração maciça da grande maioria dos americanos e do resto do mundo. Ninguém no jornalismo ocidental se preocupa com o facto de uma possível presidente dos Estados Unidos ter usado a sua caixa de correio eletrónico particular em assuntos da segurança nacional, ou que a mesma tenha agora sido processada pelos pais de militares mortos na Líbia. Tudo se fica por Donald Trump.
Em quarto lugar, o fantástico mito em que foi transformado Barack Obama. A grande verdade, porém, para lá do tom da voz e da sua aparente simplicidade e simpatia, é que pouco resolveu dos grandes problemas dos Estados Unidos e do mundo.
Não resolveu o caso de Guantánamo, não deu solução ao problema das armas a esmo no seu país, viu crescer, de um modo fantástico, o racismo e o número de tiroteios por todo o lado, foi incapaz de travar a brutalidade policial, numa situação de autêntico Estado dentro do Estado, não resolveu, um mínimo que fosse, o caso israelo-palestiniano, consentiu no desastre em que se transformaram as ditas primaveras árabes, alimentou um conflito com a Rússia, no Lesta da Europa, continuando a cercar esta última com falaciosas extensões da perigosa e belicosa OTAN, e, como agora se pôde já perceber, acabou por consentir na execução a distância da recente tentativa de golpe na Turquia.
Neste sentido, também eu compreendo as palavras recentes de Donald Trump, de que Barack Obama, é o fundador do grupo terrorista Estado Islâmico. Em mui boa medida, esta afirmação tem imenso de verdade, porque a Síria estava bem antes de Barack Obama se ter determinado a armar os mil e um criminosos que pretendiam destruir o regime de Bashar Al-Assad, colocando no seu lugar um outro Poroshenko que ajudasse a cercar a Rússia de Putin, assim acelerando a guerra pensada por Barack contra a Rússia.
Em quinto lugar, o caso da chinesa que esteve presa treze anos, condenada por homicídio após ter confessado sob coação, e que vai agora ser ressarcida em mais de duzentos e trinta mil euros.
A nossa grande comunicação social, sempre enviesada na análise destes casos, fornece a sensação de se tratar de uma singularidade chinesa, sempre esquecendo a imensidão de casos similares passados em países ocidentais, onde constantemente se brande o letreiro basofiento do dito Estado de Direito.
E, em sexto lugar, a santa ingenuidade da Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que nos veio dizer que esperava mais ajuda dos países europeus após o Governo ter acionado o mecanismo europeu de proteção civil! Insatisfeita com a resposta dos parceiros europeus ao pedido de ajuda de Portugal para fazer face aos muitos incêndios que lavram no país, Constança estava à espera de uma maior solidariedade dos parceiros europeus!!
Fico verdadeiramente admirado com esta reação, porque já todos os portugueses hoje reconhecem que solidariedade é qualidade cabalmente ausente da União Europeia. Basta estar atento às mil e uma referências do Papa Francisco a este propósito. Dado não ser possível que a ministra não se tenha já dado conta desta realidade, talvez fosse preferível evitar abordar o tema. Até porque tal abordagem seria sempre vista, precisamente, como uma santa ingenuidade.
Portanto, caro leitor, por aqui pode agora dar-se conta de como o caso Rocha Andrade se constitui, sobretudo neste momento, português e europeu, no grande e magnânimo problema de Portugal. E quem diz Rocha Andrade, poderá bem dizer-se Andrade Rocha, como parece ter escrito o La Vanguardia. A Europa connosco.