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Navarro-Costa PressRelphoto 2016 |
Durante o período de repouso, os óvulos desligam os seus genes de forma a conseguirem entrar num estado parecido com a hibernação. Quando despertam, precisam de voltar a ligar os seus genes para poderem crescer e preparar-se para a ovulação. A equipa de investigação liderada por Rui Martinho, do Centro de Investigação Biomédica da Universidade do Algarve e do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), e por Prashanth Rangan, da University at Albany (nos EUA), descobriu que a altura em que os genes são ativados é programada diretamente nos cromossomas do óvulo.
Para desvendar este mecanismo, a equipa de investigação conduziu uma série de experiências genéticas em moscas da fruta (Drosophila melanogaster). Paulo Navarro-Costa, primeiro co-autor deste estudo e investigador do IGC explica: “Tal como acontece nos seres humanos, os óvulos da mosca da fruta têm um período de repouso durante a meiose – o processo de divisão celular especializado necessário para a formação de células reprodutoras saudáveis. Desta forma, utilizámos este organismo fácil de manusear para descobrir exatamente como é que o óvulo consegue ativar os seus genes na altura certa, algo que permanecia um mistério até agora.”
Os resultados da equipa de investigação revelaram que os óvulos utilizam um processo semelhante a um relógio despertador para manterem a noção do tempo durante a meiose. Rui Martinho clarifica o mecanismo: “Quando os óvulos começam a ser formados, uma proteína chamada dKDM5 modifica os cromossomas de modo a que estes só consigam ativar os seus genes na altura certa. Se este despertador molecular for programado de forma incorreta, por exemplo devido a defeitos na proteína dKDM5, as fêmeas tornam-se inférteis porque os seus óvulos não conseguem completar a meiose.”
Uma propriedade inesperada deste novo despertador molecular consiste no facto de ser programado em fases iniciais da formação dos óvulos, muito antes destas células precisarem de maturar. “Estes resultados ilustram a importância das fases iniciais da vida do óvulo para a fertilidade feminina. No caso dos seres humanos, essas fases iniciais ocorrem antes das mulheres nascerem, quando ainda estão no útero da mãe. O período de desenvolvimento pré-natal é assim absolutamente determinantes para a futura formação de células reprodutoras saudáveis”, diz Paulo Navarro-Costa.
Este estudo foi conduzido no Instituto Gulbenkian de Ciência e na University at Albany, tendo sido financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Portugal) e pelo National Institutes of Health (EUA).
Ana Mena (Comunicação de Ciência - Instituto Gulbenkian de Ciência)
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva