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|Hélio Bernardo Lopes| |
Num destes dias, já com o final do ano letivo bem à vista, lá fui encontrar certo conhecido meu, que sempre teria de estar ali naquele dia, como tão bem eu sei. Espanto dos espantos, eis que o meu conhecido de há décadas, defensor estrénuo da União Europeia – e das estruturas que a antecederam – se saiu com esta, verdadeiramente inesperada: nunca imaginei que a Europa chegasse a um estado destes!
Lá lhe salientei que ele era vítima, como milhões de outros portugueses, da errada ideia de que os povos são todos iguais e que os Estados se regem por valores de altruísmo. Repeti-lhe, afinal, o que sempre lhe havia dito: a ambição material e o desejo de domínio comandam o mundo, pelo que a defesa dos mais pequenos pode ter de passar por fugir da grande estratégia dos grandes desse mundo.
E lá lhe voltei a referir o caso da descolonização, dado que a nossa, na sequência da Revolução de 25 de Abril, foi feita à luz de que esse era o caminho seguido pelos povos europeus colonizadores. O problema é que esses antigos colonizadores são todos diferentes entre si, mormente nos importantes domínios do poder, assente ele onde assentar. Há os que ganham mundiais de futebol, europeus de futebol, olimpíadas, óscares, Nobel, etc.. E há os que não têm caraterísticas para aí chegar. Não são inferiores, são diferentes. Ninguém imagina que o Nepal ganhe uma qualquer daquelas honrarias, embora sem ser por faltarem qualidades, ou mesmo organização. São povos distintos e com atitudes diferentes perante a vida. Acontece que um dos filhos deste meu conhecido é banqueiro, pelo que lá lhe coloquei, com simpatia, esta naturalíssima questão: então e a banca? Bom, fez um esgar, abriu os olhos e respondeu: já não sei o que deva dizer!
Já não vivendo hoje o tempo de ansiedade e depressão da infeliz era da anterior Maioria-Governo-Presidente, a verdade é que os portugueses estão agora a dar-se conta da grande mentira da atual União Europeia e que esta está a destruir, objetivamente, o valor da prática e da vivência democrática. Os mais atentos não poderão deixar de estar preocupados com o fatal tratado entre a União Europeia e os Estados Unidos, que irá pôr um fim, na prática, à democracia e à soberania dos povos europeus.
Por tudo nisto, recordei ao meu conhecido as palavras de Marcelo Caetano na tal Conversa em Família que já referi por diversas vezes: sem o Ultramar Português, Portugal ficaria reduzido a uma província da Europa. E logo o questionei: agora diga-me cá se ele tinha razão ou não... Bom, fez um novo esgar, mas nada mais acrescentou. E tudo isto ao mesmo tempo que chegou certa madame por ali residente e se apercebeu da minha presença na mesa do meu conhecido, com quem ia encontrar-se, a fim de tratar coisas de há muito conhecidas… Temos, pois, a democracia!