Já dizia o Amaro da Costa: O direito à asneira é livre

|Hélio Bernardo Lopes|
Li com grande satisfação o recente texto de José Rodrigues dos Santos no PÚBLICO, apesar de o reprovar – ao artigo e ao autor, nesta matéria, se fosse arguente do tema. Li com grande satisfação pela completude asneirenta que comporta e que, nos termos do que penso, não pode ter sido debitada a não ser por gosto de brincar com o panorama que vai hoje pelo mundo em certos setores.

Como deverá ser do conhecimento de muitos dos leitores deste texto, José Rodrigues dos Santos tem sido atacado ao nível da qualidade dos seus livros. Pois, eu nunca concordei com tais tomadas de posição e tive até já a oportunidade de escrever este meu ponto de vista. Quase com toda a certeza, terei sido um dos poucos defensores públicos da obra de José Rodrigues dos Santos. Por isso mesmo, tenho-a quase toda.

De igual modo, foi com satisfação que vi a obtenção por José Rodrigues dos Santos do grau de doutor pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde, ao que creio, continua a reger uma ou mais disciplinas. Uma realidade que estando longe de ser coisa singular, envolveu uma figura que convive, quase diariamente, com cada um de nós.

Além do mais e ao nível da sua obra, muitos dos seus livros explicitam o agradecimento do autor a dois académicos da Universidade de Coimbra, por acaso pessoas da área conservadora, embora cientificamente conceituadas. Uma realidade que, em boa medida, confere às suas obras uma garantia de qualidade.

A verdade, como no-lo diz um ditado popular digno de registo, é que não há bela sem mácula. Uma mácula que começou a mostrar-se logo ao tempo da operação Tempestade no Deserto, em face daquele seu estilo muito próprio e conhecido, quase dando a entender que estaria, para lá de certa linha de cumeadas, o enormíssimo perigo dos homens de Saddam Hussein. Quem tivesse estado desatento, ou se caraterizasse por alguma ignorância, até poderia conseguir imaginar que os Estados Unidos iriam encontrar pela frente um outro seu similar.

Aos poucos, sempre no plano da sua intervenção jornalística, José Rodrigues dos Santos foi-nos surgindo sempre em correlação positiva com os ditos ventos da História. E como esta tem vindo a virar à direita, fruto do horroroso triunfo neoliberal, o mesmo se tem podido ver com o jornalista da RTP. Porventura, mera coincidência.

Já mais recentemente – uns anitos –, aí nos foi dado ver uma das suas mais lamentáveis intervenções jornalísticas, em face do modo como conduziu os programas de análise político-social de José Sócrates. Infelizmente, José Rodrigues dos Santos nem sequer conseguiu antever que estava a travar uma batalha perdida, dado que a distância que o separa de Sócrates, em matéria de experiência e de conhecimento político, é um abismo. Perdeu.

Já depois, foi-nos dado ver o modo absolutamente enviesado como foi cobrindo as eleições gregas: do zero que nos ia expondo diariamente, o que nos surgiu foi já próximo de infinito. E não duvido, por um momento curto, que se José Rodrigues dos Santos fosse membro de um júri que apreciasse aquele seu trabalho, mas feito por um jovem candidato ao lugar, o viria a reprovar. Confrangedor! Mas possível e sem grandes reações...

Até que nos surgiu este artigo recente no PÚBLICO. Tal como um dia disse Adelino Amaro da Costa numa entrevista televisiva, o direito à asneira é livre. Simplesmente, não consigo convencer-me de que José Rodrigues dos Santos acredite no que escreveu neste seu texto. Tomo como mais certo que, à luz dos ventos da História, o jornalista se resolveu a chatear a nossa chamada Esquerda. Dentro do que conheço do jornalista, é demasiado mau para ser verdade. Certamente por acaso, só consigo associar este seu texto com as recentes entrevistas de Francisco Assis.

Termino, pois, com esta minha sugestão: convide a RTP 3 José Manuel Barata-Moura para uma conversa a dois com José Rodrigues dos Santos, numa destas noites. Será, com toda a certeza, um programa repleto de interesse e muito clarificador para os portugueses mais interessados com a História e com as Ideias Políticas. Eu mesmo poderia ter tentado esta ideia junto do antigo Reitor da Universidade de Lisboa, porque ontem mesmo o fui encontrar, com neta e neto, num restaurante chinês onde almocei. Só que eu não sou da RTP 3 e não tenho o gosto de conhecer o nosso filósofo e homem de saber.

Termino com uma história que teve lugar ao redor do matemático António Almeida Costa em torno da Teoria de Galois, ao início da década de setenta, e que deixou um rasto historiográfico num dos vespertinos do tempo. Perante a insistência de certo nosso concidadão, Almeida Costa acabou, ao fim de umas boas tentativas – semanas –, por lhe dizer: não leve a mal, mas acho que deve estudar um pouco mais e com mais atenção, e leia bem os meus livros. Será que Barata-Moura viria também a dizer algo de semelhante a José Rodrigues dos Santos? A RTP 3 que siga o meu conselho de espectador atento.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN