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|Hélio Bernardo Lopes| |
Bom, esquecendo o caso Carvalhão Gil (e mesmo outros), tal não se constitui num acontecimento impossível. Basta ter presente o que se deu com diversos juízes franceses, italianos e espanhóis, e logo se percebe que, ao menos teoricamente, tal nada tem de acontecimento impossível.
Mais estranho, mesmo em Portugal, é tal informação ser proveniente do SIS e surgir publicada num diário nacional. Se já existiam dúvidas sobre instituições diversas no domínio da Justiça, vir agora a público uma suposta informação do SIS, haverá de convir-se, é algo um pouco risível. Para mais na sequência dos casos que vêm envolvendo a nossa comunidade de informações. Ou será que tal informação poderá nunca ter tido lugar?
Se o leitor pensar um pouco sobre esta notícia, talvez seja levado a concluir esta pergunta: a quem poderá beneficiar esta notícia? Então, se se noticia tal informação, admitindo ser verdadeira, será porque alguém a ser averiguado por Rosário Teixeira pretenderá parar a averiguação contra si existente. Esse alguém, de um modo rápido, terá sempre de ser identificado com a área política. É uma primeira conclusão possível.
Mas admita-se agora que a notícia não corresponde a uma realidade material substantiva. Tal terá de significar que a mesma poderia ter tido a sua origem numa das partes a ser investigada na área política. É uma outra conclusão possível. Mas poderia, por igual, ter a sua origem na zona que procede à investigação do que está a ser averiguado. Ou, por fim, em alguém com certa finalidade que não será difícil de perceber.
Quem acreditar no primeiro destes três cenários, facilmente concluirá que poderá estar a haver algum risco de surgirem acusações, porventura seguidas de condenações. No segundo cenário, a situação poderá ser inversa: percebendo-se que só com dificuldade se conseguirão operar acusações e mais ainda condenações, lança-se esta notícia, que bem poderá servir de suporte futuro para falhadas investigações.
Por fim, o terceiro cenário. É o mais complicado de analisar, dado que quem o pudesse ter operado teria objetivos difíceis de estimar sem mais. Um desses objetivos – e a quantos o mesmo conviria? – poderia ser o de, calma e pacatamente, ir alimentando a fornalha informativa ora acesa com novos dados, mas de molde a atingir o atual poder governativo. E, tal como em três casos italianos, com mentiras de todo o calibre. Um calibre tal que levou mesmo a suicídios, com o tal arrependido a contar mais tarde que tudo o que dissera eram mentiras.
Quase com toda a certeza, esta notícia de ontem vai continuar a desenvolver-se, não sendo impossível este meu último cenário. Procure quem se encontra pelos cabelos com o atual Governo, e logo perceberá que o Governo de António Costa está hoje, em mui boa medida, como Francisco Sá Carneiro se encontrava quando foi assassinado: uma imensidão de interesses poderosos contra si. E sabe o que lhe digo? Temos o tal Estado de Direito Democrático e Social!