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|Hélio Bernardo Lopes| |
Ninguém hoje duvida de que a grande luta em favor da destruição do Estado Social, fortemente implantada pela anterior Maioria-Governo-Presidente, se suporta, precisamente, na dita democracia, hoje apenas presente e defendida com a finalidade de legitimar os atos e as decisões daquela minoria que realmente acaba por comandar a vida nacional.
Um dos grandes e cobiçados bolos desde sempre pretendidos pelos grandes interesses privados é a Segurança Social. Se o objetivo central da ação política fosse, de facto, a promoção da paz, centrada na dignificação das pessoas, ninguém poderia deixar de prosseguir pelo caminho hoje apontado, mais uma vez, pelo ministro José Vieira da Silva: o alargamento da contribuição para a Segurança Social não poderá ser operado no sentido do aumento da carga fiscal, mas no de ser menos concentrado apenas no fator trabalho. Há muito que José Vieira da Silva e eu mesmo temos defendido este caminho, até por ser extremamente evidente, embora sob a condição de se pretender continuar a defender a dignidade das pessoas.
Ora, uma das possíveis fontes de financiamento da Segurança Social é a criação de impostos sobre os lucros. Eu mesmo tive já a oportunidade de dar este exemplo conceptual: se, em um ou dois meses, Portugal visse operar-se uma mudança no seu tecido produtivo, com o desaparecimento do atual, substituído por uma só empresa, com um milhar de trabalhadores, mas gerando o mesmo PIB, que fazer com os restantes nove milhões de portugueses? Conceder-lhes o direito de eutanásia?
Acontece, porém, que este mecanismo, inteiramente lógico e de suporte profundamente cristão, só é suscetível de ser posto em funcionamento se o Estado for uma entidade forte e que seja suporte de um conjunto de valores humanistas. No presente caso português, seria necessário que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se determinasse, ele mesmo, a defender esta iniciativa, por aí apoiando as justíssimas e naturais ideias do ministro José Vieira da Silva.
Infelizmente, o Estado é hoje uma estrutura fraca, cume de uma organização política muito aberta e, por isso mesmo, fortemente estorvável por grupos fortes de interesses, desde os nacionais aos multinacionais. A própria Igreja Católica em Portugal, já sem grandes disfarces, coloca-se abertamente ao lado desses mesmos grandes interesses. Não basta, pois, ter razão e propor medidas de justiça fortes e humanistas. Em todo o caso, temos a democracia, como se pôde ver com a recente golpada brasileira.