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|Hélio Bernardo Lopes| |
Como seria natural, num ápice, milhões que raramente se ouviam sobre o criminoso papel das offshores vieram a terreiro pronunciar-se sobre o tema: pois claro, é terrível, embora também por elas se desenrolem atividades legais. E, como teria de dar-se, nenhum se recorda de referir o que há dias o académico Francisco Louçã expôs no seu TABÚ: esse dinheiro teve que passar pelos nossos bancos. Mero esquecimento, claro. Como aqueles de que temos voltado a ver imagens já anteriores, passados nas comissões de inquérito. O que me traz ao pensamento uma expressão minha de muito pequenito: num lemba...
Como muito bem referiu há dias Ana Gomes, ou mesmo Ricardo Costa, num outro programa, o caso está nisto: é, ou não, essencial pôr um fim nas offshores? Bom, ninguém disse que não. E neste mesmo sábado, com grande atino, Artur Santos Silva veio também a terreiro com esta sua tomada de posição: sou um grande defensor do fim das offshores, porque escondem muita coisa que não deve ser escondida.
Acontece que Artur Santos Silva tem aqui uma vantagem, digamos assim: foi banqueiro. Uma condição que lhe confere uma força grande nesta sua tomada de posição. Inteligente e sério, não se pôs a defender que sim senhor, mas que terão de ser todos e por todo o mundo. Essa metodologia, desde sempre defendida pelos que nunca verdadeiramente puseram em causa a miséria moral agora vista e sempre conhecida, foi, precisamente, o que permitiu que as offshores se desenvolvessem como cogumelos venenosos, conduzindo a generalidade dos povos do mundo à pobreza e à miséria, com uns pouco milhares a viveram como num paraíso.
Já por vezes diversas expus que nenhum dos nossos Presidentes da República, incluindo Francisco Costa Gomes, alguma vez em público e num areópago internacional alertou ou defendeu o fim das offshores. E mesmo agora, estranhamente, é pouco provável que figuras de topo da vida pública, mormente portuguesas, se determinem a lançar uma petição mundial para que as Nações Unidas proíbam a continuação das offshores.
Espanto dos espantos, eis que fui encontrar na edição do Diário de Notícias deste sábado um texto de Fernando Rocha Andrade sobre este tema. Nele nos é apresentado, num outro tom, um convite à resignação: nenhum país acaba sozinho com as offshores. É, mais uma vez, a remissão do tema para o tempo das calendas. A indicação do caminho para que tudo continue na mesma. A verdade é que todos temos momentos de infelicidade.
Ora, nós tivemos um líder da União Europeia – José Manuel Durão Barroso –, pelo que seria de grande utilidade que este nosso concidadão também se juntasse ao essencial movimento mundial de luta pelo fim das offshores. Um movimento que bem poderia ser lançado a partir de Portugal, até porque não faltam petições de tipos os mais diversos, postas em movimento entre nós e lançadas por concidadãos de grande notoriedade.
E mesmo agora, quando está a decorrer a corrida ao cargo de Secretário-Geral das Nações Unidas, seria de extrema utilidade saber o que pensa desta realidade o concidadão António Guterres e que estratégia entende dever seguir se vier a alcançar aquele posto político. E o que defende, como metodologia de ação política, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa?
Um dado é certo: nada acontecerá sem que um processo destinado a pôr um fim nesta realidade criminosa seja iniciado, seja lá por quem for. O histórico tema da simultaneidade não pode ser o caminho a seguir, porque a perceção diz-nos que a solução que lhe poderia estar associada nunca chegará. Nada fazer, ou fazer coisas como as que continuam a permitir as realidades ora vindas a público – sempre se percebeu que teria de ser esta a realidade –, significará, afinal, que os que realmente mandam são os que suportam esta máquina universal de criminalidade organizada.