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|Hélio Bernardo Lopes| |
Tais estruturas tornaram-se num pilar fundamental daquela minoria de usufrutuários das grandes jogadas financeiras, que acabaram por conduzir o mundo – a própria Terra – ao estado que se conhece. Os políticos, como agora pode ver-se à saciedade, eram os seus funcionários de mão.
Por ser esta a realidade, lá me voltou o sentimento de graça neste último fim-de-semana, por via da fantástica tomada de posição de Pedro Passos Coelho – Luís Marques Mendes designou-o, neste último domingo, por Primeiro-Ministro emérito –, ao salientar que a questão das offshores necessita de uma resposta à escala europeia e que o PSD vai apresentar uma recomendação ao Governo para um tratamento mais forte contra paraísos fiscais.
Perante esta máxima – é digna dos Dupont e Dupond – é caso para perguntar ao leitor: acha que é possível proposta mais vaga num domínio tão importante e perigoso, ligado como está à grande criminalidade organizada transnacional e a algumas das piores causas do degradado estado a que chegaram as pessoas, os Estado e o mundo? Ou ainda: consegue perceber que o que Pedro Passos Coelho e o PSD propõem é que tudo continue na mesma? E mais ainda: percebe que, afinal, Pedro Passos Coelho e o PSD – com o CDS/PP é o mesmo – se limitam a chutar para o Governo de António Costa uma solução deste problema, embora nunca exigindo o óbvio, ou seja, que o Governo de Portugal proponha, ao nível internacional – União Europeia e Nações Unidas – o fim total das offshores?
Assim, Pedro Passos Coelho e o seu PSD defendem é que os países tenham, dentro do espaço europeu, uma comunicação mais limpa, mais harmoniosa sobre o que significam e como deve ser feito o controlo sobre os paraísos ficais. Simplesmente fantástico! O que a vida dita democrática acaba por permitir, e sem que ninguém diga sobre o tema, ao menos num café, uma só palavra sobre o tema!!
Quando Pedro Passos Coelho salienta que ele e o PSD só veem que o controlo desta atividade criminosa possa ser exercido por autoridades financeiras e neste caso pelo próprio Banco Central Europeu, sobre a relação entre o sistema financeiro europeu e essas praças que têm regimes fiscais muitíssimo mais favoráveis, tal é como se nos dissesse que o controlo da atividade terrorista na Europa só poderia ser operado por uma procuradoria europeia e pelo Tribunal Europeu de Justiça. É, pois, o momento de o leitor poder largar a sua mais aberta gargalhada.
Fica o leitor a perceber, por via destas palavras, que pelo lado da nossa atual oposição tudo irá continuar na mesma. E pelo lado do Governo, como pelo dos restantes órgãos de soberania, também nada aponta para a única iniciativa realmente eficaz no combate à grande criminalidade que atravessa as offshores: pôr um fim nesta realidade. Portanto, se as offshores vão continuar, é porque a finalidade da sua criação continua viva e continua a valer a pena serem mantidas. Sabe o que lhe digo, caro leitor? Temos o Estado de Direito Democrático, realidade que agora mesmo pôde ver-se a funcionar no Brasil...