E propostas?

|Hélio Bernardo Lopes|
A generalidade dos portugueses atentos ao que vai por Portugal e pelo mundo não atribui hoje um ínfimo credibilidade ao Fundo Monetário Internacional, (FMI). 

Creio não estar errado se disser que, para os portugueses, o FMI a falar é como o Sol a corar. Talvez nem só para os portugueses, porque já todo o ambiente tecnicamente dominador teve a oportunidade de assistir a mudanças entre o branco e o preto em um ou dois dias por parte do FMI.

Transportando alguma surpresa, eis que o nosso concidadão Vítor Gaspar, atualmente a liderar o Departamento de Assuntos Orçamentais do FMI, nos surgiu a perorar sobre os Papeis da Mossack Fonseca. E o que nos veio, desta vez, referir Vítor Gaspar? Bom, surgiu-nos a condenar o comportamento dos ricos, que são quem devia dar o exemplo e pagar, mais do que os pobres.

Esta interessantíssima afirmação não comporta um ínfimo de valor, e menos ainda de eficácia. E essa é a razão para a cabalíssima ausência de reação dos grandes representantes dos visados nestas considerações do nosso antigo Ministro da Finanças. Tudo não passa de uma afirmação circunstancial, porque o seu efeito é nulo. Pois não é verdade que as offshores vão continuar? Portanto…

Mas Vítor Gaspar foi mesmo mais assertivo, salientando que numa altura em que as perspetivas económicas não são brilhantes e que, em muitos sítios do mundo, é pedido às pessoas para contribuir para as finanças públicas, é simplesmente inaceitável ter uma perceção de que os mais ricos não estão a pagar a sua parte no esforço, usando meios, legais ou ilegais, para se evadir ou evitar impostos.

Ora, o interessante nesta afirmação de Vítor Gaspar é o facto dele se referir à perceção das pessoas, assim como se a realidade possa nem ser tão terrível como é percebida. Além do mais, Vítor Gaspar ainda refere que as pessoas, no geral, à volta do mundo estão profundamente consternadas, o que, em minha opinião, não tem fundamento. E não o terá porque toda a gente atenta ao que se passa hoje no mundo de há muito sabe que isto – e o muito pior que se conhece ou percebe – é mantido pela classe política, objetivamente virada para servir os grandes interesses que hoje dominam o mundo. Só se ficaria consternado se o que agora se viu não fosse conhecido desde há muito.

Vítor Gaspar passa completamente ao lado, com estas suas palavras, da cabalíssima ausência de mudança no suporte fundamental da grande criminalidade, nacional ou internacional, suportada, precisamente, pelas offshores. Aliás, o que agora se pôde ver nem foi a profunda consternação das pessoas, mas a terrível aflição que tudo isto causou a uma boa montanha de gente do poder mundial. Aliás, uma aflição que começa já a dissipar-se. As offshores, como teria de dar-se, vão continuar.

Um pouco adiante, Vítor Gaspar garantiu que o FMI sempre defendeu a transparência fiscal e a boa governance. Bom, au até acredito que tal seja uma realidade, mas a verdade é que os resultados do que vai pelo mundo no domínio da negociata e das suas consequências para os povos deriva da falta de uma postura moral e ética que sempre terá de suportar-se para lá do dinheiro e ao serviço das pessoas. E disto o FMI viveu sempre cabalmente arredado. De resto, os resultados estão bem à vista de todos.

Faltou, nesta oração de Vítor Gaspar, a apresentação de propostas suportadas nos valores da moral e da ética, destinadas a servir as pessoas, mas que contenham garantias seguras de se poder vir a pôr um travão forte na ação criminosa das offshores. Simplesmente, sabendo todos nós e desde há tanto tempo que a realidade é a agora divulgada – pior, com toda a certeza –, a verdade é que quase tudo irá ficar na mesma. Da classe política, bom, o melhor é rirmo-nos um pouco, porque nada de si e de novo surgirá.

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