A lição de Capela

|Hélio Bernardo Lopes|
Nesta passada sexta-feira, minutos antes da uma da tarde, quando me preparava para iniciar o almoço, pude ouvir algumas palavras do árbitro João Capela, que iria arbitrar o jogo entre a Académica e o Benfica em Coimbra. E, como normalmente, terão surgido questiúnculas ao redor da sua escolha.

O interessante foi a sua exposição sobre o tema em causa, que apresentou ao jornalista com quem falava: não acompanha, de um modo muito geral, o que se noticia em torno da sua pessoa, nomeadamente antes dos jogos. Explicou mesmo que evitava, a todo o custo, tomar conhecimento do que se vai dizendo na grande comunicação social em torno dos clubes, dos jogos e das arbitragens.

Achei interessante esta postura, porque eu mesmo pude já defendê-la em diversas outras situações, mormente no futebol. Pude mesmo escrever que, se fosse treinador de uma equipa de futebol, sempre instaria junto dos meus jogadores no sentido de não se darem à leitura dos jornais desportivos, nem ao visionamento desses fantásticos quão inúteis programas sobre a bola nossa de cada dia, que hoje inundam os nossos canais televisivos.

Há já umas décadas tive a oportunidade de ver e ouvir as palavras de certo juiz conselheiro do nosso Supremo Tribunal de Justiça, à saída deste órgão, quando acabava de ter o seu fim o caso de Macau. E pude vê-lo levantar um exemplar do livro de Rui Mateus, ao mesmo tempo que dizia para os jornalistas: só agora vou lê-lo. Precisamente porque este juiz conselheiro desde sempre terá reconhecido a evidência das coisas: toda a gente é suscetível de ser influenciada.

Esta excelente lição do árbitro João Capela, talvez por um modo de ser nervoso, foi o que João Soares não praticou durante o tempo em que sobraçou a pasta da Cultura. Sendo, quase com toda aa certeza, um concidadão com temperamento nervoso, João Soares cometeu o erro de ligar ao achismo de boa parte dos críticos que foram da Esquerda, ao tempo da II República, mas se situam hoje na Direita pura, dura e trauliteira. Uma coisa é estar atento ao que se diz e escreve, sobretudo se tiver fundamento, outra passar a intervir ao nível da resposta sem fim à vista. Uma realidade agora com consequências conhecidas e que me traz ao pensamento aquela célebre frase dos filmes americanos: tem o direito a estar calado e tudo o que disser pode ser usado contra si.

No tempo que passa, o essencial, muito acima de tudo, é gerir bem a coisa pública, defender os interesses naturais dos portugueses, essenciais à sua dignificação e valorização, mas esquecer o que se vai queimando na fantástica fogueira de vaidades hoje alimentada pelos que ajudaram a atirar Portugal e a generalidade dos portugueses para a lamentável situação a que se chegou. E quem pensaria que tão bom senso poderia provir do ambiente da bola nossa de cada dia?

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