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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Mesmo estando longe de quase tudo, apenas pela importância conferida à idade e a partir do acompanhamento noticioso diário de quanto vai pelo mundo, facilmente se cria a certeza antes apresentada como uma pincelada ligeira.
Que a espionagem, a duplicidade e a traição estão presentes na vida política dos Estados, bom, é coisa mais que reconhecida. De um modo imensamente geral, os povos vivem a milhas da realidade propalada e gerada sem o seu conhecimento. Vem tudo isto a propósito da recente declaração do diretor do Instituto da Memória Nacional, instituição polaca, a propósito de uma alegada espionagem de Lech Walesa a favor das autoridades de espionagem comunistas do tempo, o SB.
Como seria de esperar, Walesa nega estas considerações, mas também reconhece que teve contactos com os serviços secretos comunistas, o SB. Garante, até, que não podem existir documentos escritos por si e que o vai provar na Justiça.
Em contrapartida, o diretor do Instituto da Memória Nacional assegura que documentos descobertos recentemente mostram que o líder histórico do sindicato Solidariedade, Lech Walesa, foi um espião do regime comunista nos anos 1970. Mais concretamente, no período de 1970 a 1976. E vai mesmo mais longe, salientando que num arquivo da SB existe um acordo de colaboração assinado por Lech Walesa, mas com o nome de código, Bolek, bem como recibos de dinheiro recebido assinados com esse nome de código. E ainda que foram descobertos novos documentos na casa do antigo Ministro do Interior comunista, o general Czeslaw Kiszczak, que morreu o ano passado, e que integra 279 documentos cobrindo o período 1970 a 76, nele tendo sido encontrados vários relatórios e atas de reuniões dos membros da SB com Walesa. E, por fim, o diretor da referida instituição salienta que um especialista em arquivos, que examinou os documentos, considerou-os autênticos.
Como se pode facilmente perceber, só pelo contexto das informações contidas e fornecidas pelo tal Bolek se pode ajuizar da probabilidade deste ser Lech Walesa. Mas pode tudo isto ser, por igual, uma atoarda, tendo como objetivo limitar o impacto de críticas de Walesa ao rumo que está hoje a ser seguido pelo poder polaco. Teremos de esperar. Em todo o caso, o tema nada tem de estranho ou de singular.
Acontece que o oportunismo também está presente na política. Ora, não é possível pôr de lado que João Paulo II foi eleito Papa a 16 de outubro de 1978, ou seja, dois anos depois do tempo sobre que se possuem já dados do tal Bolek. E também que o sindicato Solidariedade foi fundado em 31 de agosto de 1980, em Gdansk, já com dois anos de João Paulo II como Papa.
Estes factos ajudam a potenciar a ideia de que Walesa, tendo percebido que o comunismo polaco poderia estar em risco de ruir, se tenha colocado à frente da ideia de fazer nascer o Solidariedade, já então apoiado por João Paulo II, pela Opus Dei e pela Igreja Católica. Um ato de oportunismo, mas que está também muito presente na política. Resta-nos, pois, esperar pelo desfecho das averiguações em causa.
