Um cinismo dos diabos!

|Hélio Bernardo Lopes|
Os mais velhos de nós acompanharam o mecanismo que se desenrolou no mundo na sequência do segundo conflito mundial. Perceberam, por isso, que este conflito guindou os Estados Unidos a uma posição cimeira no mundo, mormente pela preponderância criada com a reconstrução europeia. 

Entraram aqui para derrubar um louco e seus sequazes, mas ficaram, naturalmente, como consequência dos investimentos vastos que tiveram que aplicar, a fim de relançar o desenvolvimento europeu.

O tempo áureo do comunismo, realmente com quase nulos avanços pelo mundo, determinou a criação da OTAN e o incondicional alinhamento europeu da generalidade dos Estados. A grande verdade, porém, é que a dialética geopolítica vinha de muito antes do comunismo soviético, com a histórica disputa entre as ideias da supremacia do controlo marítimo ou do continental.

Hoje, como pode ver-se, já sem o comunismo soviético, as tensões no mundo vêm crescendo sem parar. E se John Kerry se mostra pesaroso com o facto de tudo ser agora menos controlável que no tempo da Guerra Fria, outros há que defendem abertamente que os Estados Unidos se deveriam assumir como superpotência e imperialistas. Gente até na casa dos quarenta... E tudo isto é confirmado pelo Papa Francisco, ao reconhecer que se está já na III Guerra Mundial, mas a decorrer aos pedaços.

A fuga de cérebros científicos da Europa para os Estados Unidos, durante o tempo de 1939/1945, permitiu – felizmente...– que a bomba nuclear tenha tido o seu nascimento neste último Estado. Num ápice, aí nos foi dado ver a sua utilização, com o fantástico poder destruidor que se descobriu. A partir daí, a corrida às armas nucleares nunca mais parou, alastrando a soviéticos, britânicos, chineses e franceses. Neste último caso, os Estados Unidos chegaram mesmo a pensar no assassínio de De Gaulle, mal souberam que a França estava a caminhar para a posse de armamento nuclear. Em pouco tempo, Israel entrou no clube nuclear, de pronto seguida da velha África do Sul. Mais tarde, também a Índia e o Paquistão.

Hoje, do ponto de vista doutrinário, a construção da bomba nuclear ou da de Hidrogénio já não comporta segredos. As dificuldades residem na capacidade tecnológica para certas finalidades essenciais e também no facto de se dispor de um conjunto de meios que permitem saber se alguém está a fabricar um tal tipo de armamento. De facto, não basta saber produzir uma qualquer dessas bombas.

Ora, um dos Estados que acabou por guindar-se ao clube nuclear foi a Coreia do Norte. Além de ter já operado quatro ensaios com este tipo de armamento e de também já dispor de mísseis de longo alcance, a Coreia do Norte é um Estado cabalmente fechado, suportado num comunismo doutrinário, mas também num estranho mecanismo de sucessão dinástica.

Pensando um pouco, percebem-se facilmente duas coisas: as armas nucleares da Coreia do Norte para quase nada lhe servem e a sua destruição física garantida, ultrapassado certo limite, é uma certeza. Ninguém disto duvida na Coreia do Norte. O que significa, tal como penso, que todo este alarido é inteiramente ilógico. Mas é muitíssimo mais que ilógico: revela um cinismo dos diabos!

Mostrando-se os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas inteiramente alinhados com o imperativo de parar com esta caminhada dos norte-coreanos, certamente também aqui apoiados pelos restantes Estados já detentores de armas nucleares, nada impede a aplicação de sanções fortes de isolamento à Coreia do Norte, deitando mão da China como principal elemento de diálogo com vista ao fim pretendido. O resultado, em minha opinião, surgiria em poucos dias. Uma coisa é fazer bluff, outra perceber que tal metodologia já não pega...

Interessante, no meio deste alarido, é constatar-se que, afinal, o que por aqui se disse ser – os políticos norte-coreanos devem estar a rir com gosto –, também parecia não ser, não devendo mesmo passar de mero bluff. E tudo isto depois de centenas de milhares de migrantes estarem a passar agruras inimagináveis para qualquer de nós e em pleno espaço da União Europeia. A solidariedade europeia e os seus Direitos Humanos... E que silêncio, o dos nossos intelectuais...

E como o caso Volkswagen parece ter já passado ao lado das suas preocupações... E como os povos lá continuam a pagar a incompetência sem castigo dos banqueiros... Enfim, um cinismo dos diabos!

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN