Criticar sem limite: um modo de fazer política

|Hélio Bernardo Lopes|
Como pude já referir, não acompanho os debates presidenciais. Comportam um ínfimo de interesse, muito próximo do nulo. Mas acabo por ver algumas das suas passagens nos noticiários da meia-noite, quando procuro tomar conhecimento das primeiras páginas dos jornais do dia seguinte. E por aí vou confirmando a minha impressão de sempre: têm um quase nulo interesse.

Ora, com este mecanismo lá tive a oportunidade de ouvir a Henrique Neto a afirmação de que os portugueses estão cansados de ter académicos a dirigi-los. Trata-se, porém, de uma afirmação duplamente fora da realidade, porque nem os portugueses apresentam esse sentimento, nem o País tem assim tido tantos académicos a dirigi-lo. A verdade é que, desta vez, os portugueses têm esse nosso concidadão que é Henrique Neto, um não académico e que nem licenciado é, como fez questão de salientar. Veremos, pois, se o tal cansaço que referiu lhe irá dar a vitória que deverá esperar.

O que Henrique Neto não disse foi a verdade mais evidente: os portugueses estão fartos de banqueiros, a toda a hora a exigirem-lhes o pagamento de gigantescos calotes, para mais sem um infinitésimo castigo. E também não referiu que os grandes empreendedores e patrões nunca se determinaram a tentar servir o País por via da uma candidatura democrática. Até porque, à luz das ideias (erradas) de Henrique Neto, os portugueses deitar-se-iam a correr para votar num desses candidatos. E se por um milagre um deles ganhasse, bom, Portugal e os portugueses iriam logo por aí acima.

Um dos grandes cancros da nossa vida democrática, já com mais de quatro décadas, é a crítica fácil, mormente por parte dos que nunca realmente assumiram responsabilidades públicas, coisa muitíssimo mais complicada que ser patrão numa sociedade onde o modo de estar na vida é o por mim há dias referido: não viu, não ouviu, não sabe, não pensa, obedece. Estou em pulgas pela chegada do próximo ato eleitoral, de molde a poder saber, com precisão, qual a percentagem de portugueses que acreditou no palavreado de Henrique Neto. E já agora, embora por outras razão, também no de Paulo Morais. Já só faltam dezoito dias.

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