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|Hélio Bernardo Lopes| |
De modo que o resultado é o que todos iremos poder ver no próximo domingo: uma quase certa tareia eleitoral. E foi uma pena que Medina Carreira e António Barreto se não tenham candidatado, porque teríamos resultados similares ao que vai sorrir a Henrique Neto.
Interessante é constatar o cabalíssimo silêncio destes nossos concidadãos – e de uma imensidão de outros – em face da miséria, de todo o tipo, que varre hoje o mundo, para mais sendo pessoas que, supostamente, sempre se bateram em defesa da democracia, do socialismo democrático e da independência das antigas províncias ultramarinas. A verdade é que acabaram, com as sua tomadas de posição, por vir a dar razão a Orlando Vitorino, em quanto escreveu no seu pequeno texto, EXALTAÇÃO DA FILOSOFIA DERROTADA, já pouco lhes importando que tenha sido Portugal a perder a sua histórica independência, desta vez sem armas de fogo. Evoluindo, descobriram o socialismo democrático neoliberal...
É, pois, natural que Henrique Neto se mostre desiludido com o rumo da situação política, económica e social do País. Mas será que este nosso concidadão não vem sendo, já desde há muito, um contribuinte líquido para o descalabro a que se chegou, mormente por via das suas críticas constantes a tudo e a todos? E como foi possível que Henrique Neto tivesse tido a ideia de que a posição em que se encontra nas sondagens pudesse não ser a que idealizou e achou possível?
Muito mais objetividade foi o que revelou ao Expresso, salientando que poderá mesmo deixar de ser militante do Partido Socialista. Embora, como também referiu, ainda se encontre a digerir tal decisão! Como facilmente qualquer um pode perceber, se alguém como Henrique Neto continua filiado no PS, tal está longe de abonar em seu favor, mas por igual do próprio PS, sendo certo que uma tal situação, fruto da lógica das coisas, nunca poderia ter lugar com os restantes partidos com assento parlamentar.
Mas Henrique Neto vai mais longe, ao referir que há uma pedagogia a fazer, acreditando que existem coisas mais importantes do que a corrupção, porque a corrupção é o resultado de um conjunto de coisas, não é a causa. Bom, caro leitor, fiquei entre o perplexo e o sorridente.
Objetivamente, Henrique Neto parece esquecer tudo quanto pôde já ver ao longo da vida. Ora, ele viu que a generalidade dos portugueses nunca se importou muito com o deitar mão de esquemas diversos, aproveitando-se mesmo deles. Esqueceu que temos hoje um sistema político democrático, mas que as coisas deram no que se vê, percebendo-se que uma qualquer saída nunca será fácil. Com Neto ou sem ele. E parece não se dar conta de que esta situação só se mantém porque os portugueses, objetivamente, nada ligam às possibilidades que lhes são oferecidas pela escolha democrática.
Não há pedagogia melhor que a do desemprego, da pobreza, da miséria e da emigração, mas a verdade é que o PSD, malgrado tudo isto, acabou por conseguir mais votos e mais mandatos que o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP. De resto, até depois do tal meio século da II República, Salazar já havia vencido o concurso d’O MAIOR PORTUGUÊS DE SEMPRE. Em contrapartida, cheio de razão aparente, Henrique Neto irá receber, neste próximo domingo, uma autêntica tareia eleitoral.
A verdade é que mais vale tarde que nunca, pelo que se Henrique Neto deixar o PS, bom, terá praticado uma decisão verdadeiramente correta e – essa sim – coerente com o seu completamente inútil discurso público de há muito. Talvez pegasse uma tal posição com Marcelo, mas com Neto, Medina ou Barreto, a coisa ficar-se-ia sempre em nada. Ou – vá lá – quase nada. Terá desta vez conseguido compreender a verdadeira realidade do que está em jogo?