Subliminar

|Hélio Bernardo Lopes|
Quem esteja atento ao que se passa no seio da nossa comunidade nacional terá já percebido que o problema do desemprego apresenta duas causas principais: as derivadas da modernização empresarial, que necessita cada dia de menos mão-de-obra, substituída que está a ser, progressivamente, por trabalho automatizado; e as que se prendem com a política que foi sendo prosseguida ao longo destes últimos quatro anos. 

Significa isto, pois, que o desemprego, quase com toda a certeza, não deverá nunca vir a diminuir muito. Mesmo admitindo que as exportações continuarão a sofrer algum acréscimo, o desemprego não diminuirá em concomitância, nem por via de se poder conseguir bastante mais investimento em Portugal.

Quer isto dizer que o desemprego irá continuar. Deste, aquele que estiver ligado a gente qualificada, resolver-se-á por via da emigração, mas para o restante esta solução terá maiores limitações, o que determinará que boa parte dos jovens desempregados sem condições de emigrar por aqui ficará, em condições bastante difíceis.

Acontece que, já desde há umas décadas, se pôs um fim no serviço militar obrigatório. Só que esta solução, cabalmente desejada e apoiada pela generalidade dos portugueses, acabou por gerar um acréscimo de custos na manutenção da estrutura militar do País. Com a passagem do tempo e com o clima de paz que se vivia por todo o mundo, a tendência do poder político foi no sentido de diminuir os gastos com as estruturas militares. Ora, os recentes acontecimentos de Paris, gerados ao redor do Estado Islâmico, tão tolerado – até apoiado – no Ocidente, vieram relançar o espírito securitário, tornando-se já hoje evidentes os sinais de que poderão vir a ter lugar limitações, mais ou menos permanentes, no domínio das liberdades, direitos e garantias.

De molde que, objetivamente, para o ambiente militar profissional nada podia ter sido melhor. E quem diz militar, diz das estruturas de segurança do Estado, já hoje, entre nós, a solicitar mais meios e de maior amplitude de intervenção. No entretanto, os atentados foram-se sucedendo, tornando-se evidente que o mundo vai de mal a piorar. O Papa Francisco diagnostica tudo isto como uma III Guerra Mundial, mas em pedaços. E é a realidade.

Notem-se, a propósito, as palavras de Niall Ferguson na sua entrevista ao Expresso, surgida neste último sábado: o Ocidente já não existe, acabou…, é algo que perdeu significado e importância, (bastando olhar) a relação cada vez mais distante entre Europa e EUA, (com a primeira) de tal forma desmilitarizada que é incapaz de levar a cabo ações militares por si só, (ou seja), o declínio europeu parece-me irreversível, (e tanto) economicamente, como demográfica e psicologicamente. Bom, é um excelente retrato da realidade. Uma realidade que cada um de nós há muito identificou.

É neste contexto que tem de ser interpretada uma entrevista do general José Alberto Loureiro dos Santos – concedida a Ana Lourenço? –, em que já sinalizava que o regresso do serviço militar obrigatório estava em bom andamento. Um tema que voltou a ser tratado – de um modo cauteloso...– no mais recente programa da RTP 3, O PRINCÍPIO DE INCERTEZA, onde até Viriato Soromenho-Marques se lembrou do caso do cidadão-soldado da Suíça, que até tem a sua arma em casa, referindo mesmo o controlo democrático das aquisições de material militar. Imaginamos todos nós, e com grande facilidade, uma tal realidade em Portugal, para tal bastando recordar o caso dos submarinos...

Ora, se o serviço militar obrigatório regressar, tal terá esta dupla vantagem, digamos assim: baixará os gastos com as estruturas militares, mormente em termos de pessoal; passará a ocupar, através de dormida e alimentação, uma enorme parte dos portugueses ainda em idade militar e que se encontrem no desemprego, porventura ainda antes de o conseguirem lá por fora; e permitirá um alargamento dos quadros permanentes das Forças Armadas. Uma qualquer norma europeia determinará a proibição de conceder trabalho a quem, sendo português, seja refratário em Portugal.

Com este esquema, como se percebe facilmente, o desemprego baixa logo como que por milagre, dado que estar a cumprir o serviço militar obrigatório terá sempre de ser considerado um trabalho e não desemprego. Um serviço militar que não poderá durar menos de dois anos. Para mal da nossa Esquerda – dos jovens portugueses nem se fala –, lá irá ser este Governo, certamente apoiado aí pelo PSD e pelo CDS/PP, a reintroduzir o serviço militar obrigatório, mas sem que Viriato Soromenho-Marques se disponha a propor um referendo sobre esta ideia, tal como tantas vezes se dá na Suíça. Quem diria que, quarenta e dois anos depois da Revolução de 25 de Abril, lá voltaria a surgir o serviço militar obrigatório, para mais pela mão do PS, certamente apoiado aqui pelo PSD e pelo CDS/PP...

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