Elevada qualidade e esperança

|Hélio Bernardo Lopes|
Tomou posse, finalmente, o Governo liderado por António Costa e suportado parlamentarmente pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes. Foi uma circunstância com três marcas, todas elas expectáveis: alívio com a saída do anterior Governo, encimado por Pedro Passos Coelho, esperança no que agora tomou posse e confirmação do politicamente nefando papel de Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República.

Quanto ao alívio com a saída da coligação entre o PSD e o CDS/PP, pouco há a dizer, para o que basta recordar o que atingiu a generalidade dos portugueses durante estes últimos quatro anos, com o fantástico desemprego criado, a pobreza gerada e o volume emigratório que se noticia agora continuar a ter lugar, parece que, no mínimo, para o Reino Unido.

No que diz respeito ao nefando papel político desempenhado pelo Presidente Cavaco Silva, basta ter acompanhado este seu histórico discurso da tomada de posse do Governo de António Costa. Melhor do que o que aqui pudesse escrever, é tentar visiona-lo e do mesmo concluir o que terá sido a real causa dos mil e um desaguisados criados com a governação de José Sócrates. Muitos disseram ontem esta evidente realidade: o discurso constituiu-se em mais uma intervenção típica da personalidade política do Presidente Cavaco Silva. E é tudo. Ao que parece...

Tudo isto, porém, justifica que se compreenda este dado simples: há hoje uma Direita radical que pretende pôr um fim em tudo o que possa ligar-se à Revolução de 25 e Abril. É essa Direita que pretendeu, quatro décadas depois, voltar a lembrar os acontecimentos de 25 de novembro de 1975. Por acaso, quase sempre mal contados, sobretudo por via dos mitos de que o PS se procurou ir alimentando. Sempre botando faladura em nome da (essencialíssima) democracia, esta Direita radical nunca nada fez em defesa daquela ao tempo do regime da Constituição de 1933.

Importa, por tudo isto, que os portugueses percebam que uma Maioria-Governo-Presidente se constitui num risco para a Constituição de 1976 se o Presidente da República for um concidadão nosso oriundo do PSD ou do CDS/PP. Percebe-se esta evidência se recordarmos o que se passou com as presidências de Eanes, Soares ou Sampaio, e as compararmos com estes dez anos da presidência de Aníbal Cavaco Silva. E por isso vale a pena recordar um velho ditado popular digno de registo: à primeira todos caem...

Por fim, o novo Governo de António Costa e a esperança que consigo transporta. Trata-se, indiscutivelmente, de um Governo de mui elevada qualidade, seja política ou técnica. Um Governo, pois, de que a generalidade dos portugueses espera que avance no sentido sempre desejado e que é o inverso do que se mostrou destruidor com a anterior Maioria-Governo-Presidente. Quero acreditar que esta esperança não irá ser defraudada, embora não possa esquecer-se a posição já assumida pela atual oposição – PSD e CDS/PP –, de que irá obstaculizar tudo o que possa vir do Governo ou da sua maioria parlamentar de apoio, haja ou não grande interesse para Portugal e para os portugueses. No fundo, uma atitude política completamente consonante com este mais recente discurso do Presidente Cavaco Silva. É, afinal, a Direita de sempre da III República.

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