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|Hélio Bernardo Lopes| |
Uma intervenção tipicamente singular, própria de quem se recusa aceitar as regras constitucionais, interpretando-as numa perspetiva subordinada a supostas tradições, completamente incapaz de compreender que não há regra sem exceção.
Fizeram bem o PSD e o CDS/PP em apresentar esta sua moção de censura ao programa do atual Governo, e certamente ao próprio Governo de António Costa. Mas também é verdade que nos deram, afinal – e mais uma vez –, a oportunidade de confirmar que a nossa Assembleia da República apresenta uma fortíssima correlação com a vontade materializada na distribuição do voto dos portugueses.
Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não terão ainda querido compreender que uma grande maioria dos portugueses estava pelas pontas dos seus maiores cabelos com o Governo destruidor de que faziam parte. Mas responderam, por igual, através do seu voto, à muito má campanha eleitoral do PS. E, como pode ver-se, nenhum sobressalto surgiu agora pelo facto do Governo se suportar no PS, no Bloco de Esquerda, no PCP e n’Os Verdes. E também assim teria procedido se alguns dos atuais governantes fossem dos restantes partidos para lá do PS. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, inacreditavelmente, ainda imaginam que os portugueses vivem nas aflitinhas com o perigo comunista!
Mas o mais interessante desta moção foi ver o PSD e o CDS/PP fazerem o que sempre haviam criticado ao PS e aos partidos de Esquerda, e que é a apresentação desta moção, que seria, desde sempre, garantidamente recusada, assim, mostrando que o Governo se suporta, afinal, numa maioria estável. Como se torna evidente, nenhum dos partidos que suporta a atual maioria voltará a cair no logro em que caiu ao tempo da votação do histórico PEC IV.
Infelizmente para o PSD e o CDS/PP, uma razoável maioria de portugueses não os deseja ter à frente da governação do País. E não creio que o esquecimento do que a generalidade dos portugueses sofreu seja assim esquecido num ápice. Simplesmente, isto é, para o PSD e o CDS/PP, uma terrível chatice. De molde que se tornou imperativo jogar com as palavras e as ideias, como se deu, melhor que com o PSD, com Paulo Portas. Só que o grande problema são os portugueses: eles querem resultados, não palavras, acompanhadas de um empobrecimento progressivo, com todo o património português à venda a quem desse mais.
Por fim, o mais espantoso para mim: o grau de radicalismo e de extremismo ideológico a que chegaram PSD e CDS/PP. Para os seus dirigentes as considerações de Francisco são simples palavras, com as empresas e os negócios sempre primeiro e à frente das pessoas. Foram dois dias de grande interesse para quem os tenha acompanhado, mas que se saldou numa evidente minoria de portugueses. PSD e CDS/PP fizeram aqui o que sempre criticaram ao PS e aos partidos de Esquerda. É caso para dizer: cala-te boca.