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|Hélio Bernardo Lopes| |
De um modo sucessivo e progressivo, foram surgindo cenários os mais diversos, naturalmente adaptados à realidade que era a de cada tempo e, dentro deste, no lugar. De um lado, os que entendiam que o Direito de Propriedade era absoluto, do outro os que viam no Estado a estrutura capaz de representar, de um modo absoluto, os direitos essenciais das pessoas. E à sombra desta dicotomia se desenrolaram acontecimentos os mais diversos, quase sempre fortemente aparentes e escondendo uma realidade que era um segredo.
É muito significativo o livro O FIM DOS SEGREDOS, da jornalista Catarina Guerreiro, em torno da Maçonaria e da Opus Dei, onde a autora nos expõe dados que eram, até há uns anos, coisa só de uns quantos. Dados que a sociedade aberta que se criou permitiram que viessem a ser conhecidos, embora a dinâmica veloz da atual comunidade internacional possa vir a pôr-lhe um fim. Porventura, a um prazo mais próximo do que muitos imaginam.
Isto mesmo está agora a dar-se com tudo o que vem girando em torno do Estado Islâmico. Já de um modo inquestionável, percebe-se agora que a entrada da Rússia no combate ao Estado Islâmico fez o que os Estados Unidos e o resto do Ocidente nunca haviam feito. Mais uma vez, o feitiço acabou por voltar-se contra o feiticeiro, acabando a França e a Bélgica, já depois de outros, por se ver atingida pelos que foi tolerando no seu seio, com as famigeradas secretas escondendo umas das outras o que cada uma sabia.
Pois, foi preciso que a Força Aérea da Rússia se tivesse determinado a destruir os centros criadores da riqueza do Estado Islâmico, vendida, candongueiramente, através da Turquia – no mínimo, claro está –, para que os Estados Unidos lá acabassem por também anunciar que iriam bombardeá-los... No Ocidente, de um modo já muito geral ao nível dos mais bem informados e sem outros interesses, percebeu-se que os Estados Unidos, mais uma vez, se mostraram completamente irresponsáveis – eu acho que até criminosos – em tudo o que vem envolvendo o caso da Síria.
Muitos terão acreditado na tal grande coligação defendida por François Hollande, e que também integraria a Rússia, mas foi sonho de pouca dura. Uma tal coligação impediria os Estados Unidos de prosseguirem com a sua estratégia de cerco e confrontação, tanto com a Rússia como com a China. Tive já a oportunidade, e por muitas vezes, de referir a Estratégia de Tensão, levada à prática pela OTAN na década de sessenta do século passado, e que se materializou em diversos atentados bombistas, ao menos em Milão e Bruxelas. Nunca se percebeu, com clareza, o real papel de Ali Agca e dos Lobos Cinzentos, realmente controlados pela CIA. E sabe-se já, fruto da velocidade e do volume da informação atual, que os recentes atentados na Turquia foram, de facto, orquestrados pelas secretas turcas.
Também acabou por perceber-se que os recentes acontecimentos, afinal, terão sido aproveitados para pôr um fim forte na leva de refugiados a caminho da União Europeia, ao mesmo tempo que se tornou clara a cabalíssima ausência de solidariedade entre os Estados daquela. E, por fim, lá se nos impôs uma velha realidade desde sempre percebida: o Acordo de Shengen é como um autêntico queijo suíço, hoje já um suporte essencial da grande criminalidade organizada transnacional que se desenrola na União Europeia, vinda do Afeganistão e dos Balcãs, do subcontinente americano ou de África.
Para já, pois, temos dois estados de emergência, em França e na Bélgica, com tudo o que isso acarreta em termos de restrição das liberdades, direitos e garantias. Pensando um pouco, custa acreditar que tudo isto seja apenas uma espécie de estrutura elástica com retardamento, percebendo-se que começam a nascer as condições destinadas a justificar mais limitações, porventura o regresso do serviço militar obrigatório, e tudo a ser encaminhado para uma guerra mais vasta, que será certamente arrasadora. É essa a razão da recusa dos Estados Unidos para com a tal grande coligação, que também incluiria a Rússia. Até Guantánamo parece estar de regresso, ao mesmo tempo que Donald Trump defende, abertamente, o regresso da tortura por simulação de afogamento. Tudo isto depois de se ter tornado público que a polícia, em certa cidade norte-americana, vinha raptando, desde há onze anos, mais de sete mil pessoas, sem direitos, liberdades e garantias. E já agora, com o mais recente incidente entre aviões turcos e um russo, que acabou por cair. Cá está: temos a democracia! E os portugueses que o digam...