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|Hélio Barnardo Lopes| |
A dado passo, encontrei o tenente-general Leonel de Carvalho na SIC Notícias, por aí ficando a escutar as suas considerações. E foi com um grande espanto que lhe ouvi, com um ar algo explosivo, salientar que não compreendia a má vontade contra Bashar al-Assad, porque a verdade é que a Síria estava bem, havia paz, calma e tolerância religiosa, onde até o apoio dado à comunidade cristã síria era uma realidade reconhecida por todos.
Bom, caro leitor, fiquei um pouco atordoado, tal foi a coragem do nosso militar para ali contar a única verdade ao redor desta fantástica mentira criada sobre a Síria. Um general português de rara coragem, moral e psicológica, à semelhança daquele coronel do quadro permanente do nosso Exército, que um dia explicou que o Governo da Ucrânia também dispunha de mísseis BUK, ou de Nuno Rogeiro, que logo ao início do conflito sírio, criado e alimentado a partir de fora, assegurou que os rebeldes – terroristas, portanto – também tinham já tido acesso às armas químicas de então.
Esta mesma realidade foi ontem confirmada pelo presidente Hollande, perante os parlamentares franceses, salientando que, na Síria, a França está a procurar uma solução política para o problema, que não é Bashar al-Assad, porque o inimigo da França na Síria é o Estado Islâmico. Sendo uma evidentíssima realidade, o que tudo isto mostra é que o mundo de hoje, no tempo pós-comunista, se move apenas por interesses ligados ao poder planetário, à riqueza e ao controlo das matérias-primas. Como ontem salientei, o território russo é uma verdadeira mina de riqueza, muita dela ainda por aproveitar.
Acontece que Vladimir Putin ama a sua Rússia, pelo que tenta defendê-la da cobiça das grandes empresas multinacionais sem pátria nem outro valor que não seja o dinheiro. Por isso o presidente russo terá definido que é necessário impedir os terroristas de tomarem o poder na Síria, porque o país deve permanecer soberano, manter a sua integridade territorial e continuar a ser um Estado secular e democrático. Uma decisão ora revelada pela revista alemã Der Spiegel. E eu pergunto, tal como Leonel de Carvalho: que mal há nisto?! Bom, caro leitor, há o mal que resulta de este caminho violar os objetivos estratégicos dos Estados Unidos, que passam de há muito por dar apoio a Estados que se venham a islamizar, no lugar de serem seculares. Expus ontem, no meu texto, HORROR, DOR E FARSA, os objetivos últimos desta grande estratégia dos Estados Unidos. Por acaso, uma situação formalmente idêntica à má vontade dos grandes interesses em Portugal contra o Governo de António Costa, apoiado pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes.
Por outro lado, o documento revelado pela Der Spiegel também refere que os Estados Unidos terão que pressionar a Turquia, seu parceiro na OTAN, para impedir o Estado Islâmico de continuar a vender o petróleo contrabandeado, precisamente, através da Turquia. Bom, caro leitor, uma verdadeira maravilha no domínio das relações internacionais, neste tempo pós-comunista. Uma maravilha!
Perante tudo isto, é bem possível que François Hollande e os responsáveis franceses tenham já compreendido o que Jean-François Fillon, antigo Primeiro-Ministro da França, agora veio explicar: o erro da França foi renunciar a uma aliança com a Rússia na luta contra o Estado Islâmico.
Ou, por palavras minhas: o erro da França foi não ter recusado deixar-se arrastar pela grande estratégia dos Estados Unidos, hoje virada para o apoio a Estados teocráticos islâmicos, de molde a conseguir, por mero mimetismo, tentar operar um levantamento dos povos islâmicos ainda hoje ligados à Rússia. Um pouco o que muitos esperariam que se passasse em Angola, onde uma sonhadora corrida à democracia plena permitisse, de facto, trazer muitos angolanos para a rua, mudando apenas os condutores do poder. Afinal das contas, nós também temos uma democracia, mas que só serve se for a Direita a ganhar, como em tempos expliquei a um conhecido meu, hoje já falecido.
Ora, neste recente cimeira do G20, Vladimir Putin apresentou os exemplos de financiamento do terrorismo pelos empresários de quarenta países, incluindo de alguns do próprio G20: imagens do espaço, que mostram claramente a verdadeira escala do comércio ilegal de petróleo e produtos derivados. E expôs também que a oposição síria está prestes a começar ações antiterroristas contra o Estado Islâmico no caso de a Rússia prestar suporte aéreo. E aqui tem o leitor a razão das recentes mudanças táticas dos Estados Unidos e do Reino Unido: a jogada fugiu-lhes das mãos...
Depois destes acontecimentos em França, as suas autoridades, tais como as de muitos outros Estados da famigerada União Europeia – até o governador do Alabama! – irão introduzir legislação extremamente restritiva das liberdades, direitos e garantias. Bom, caro leitor, está-se aqui perante uma espécie de utilização de antibióticos por tudo e por nada, não atacando a verdadeira causa do problema. Assim o queiram os Estados Unidos, e o Estado Islâmico irá desta para um outro mundo. Para se perceber ser esta a realidade, vejam-se os excecionais resultados da aviação russa e como num só dia, afinal, a aviação francesa destruiu cento e dezasseis camiões cisterna e toda a sede do Estado Islâmico. Porquê só agora?...
Por fim, uma ligeira mas mui oportuna nota: onde estão os culpados da última crise mundial, surgida nos Estados Unidos; e que é feito da tal trintena de responsáveis pelos crimes perpetrados com os carros de fabrico alemão? Vê o leitor alguma consequência ou castigo? Não vê? E que conclusões tira? E leu as notícias dadas pelos livros dos jornalistas Fittipaldi e Nuzzi, sobre o que continua a ter lugar no seio do Vaticano? E então? Ah!, nada. Pois, foi este nada que levou ao desastre global que tem vindo a ser criado pela grande estratégia dos Estados Unidos. Infelizmente, a famigerada União Europeia e os seus Estados não são liderados por verdadeiros estadistas, sendo que Angola, para já, lá conseguiu evitar mais um desastre num Estado africano. Lamentavelmente, o tempo pós-comunista acabou por mostrar-se-nos impregnado de uma terrível miséria moral.
Termino este texto com um conselho amigo e sincero: quem puder, tente ler o excecional e mui verdadeiro editorial de Manuel Alcino Fernandes, diretor do jornal, ALTO DA RAIA, surgido no seu número deste mês de novembro. O endereço eletrónico do jornal é: altodaraia@gmail.com. Vale a pena.