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|Hélio Bernardo Lopes| |
Assim, Manuela veio defender a ideia de que António Costa e o PS só procederam como se tem visto pelo facto do Presidente Cavaco Silva não poder dissolver a Assembleia da República. E talvez até tenha razão, porque cada partido político, na defesa da sua interpretação do interesse nacional, atua sempre de acordo com o mesmo e dentro da legislação vigente. Precisamente o que fizeram António Costa e o PS.
Já Francisco Assis defende, precisamente, o mesmo que a antiga líder do PSD. E tudo isto também dentro da legislação em vigor e à luz da sua visão do interesse nacional e que é a do Presidente Cavaco Silva, de Paulo Rangel, ou, mais precisamente, do par político constituído pelo PSD e pelo CDS/PP. Tal como Maria de Belém e seus apoiantes.
Por outro lado, Manuela Ferreira Leite acha estranho que PS, Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes já tenham garantido que irão votar contra o próximo Orçamento de Estado, apesar de – é o que ela diz – ainda não se saber o que no mesmo se conterá. Ora, há dois dados que são conhecidos e a menos de um mínimo de erro: ou esse orçamento será mais do mesmo, ou mostrará modificações no sentido apontado pelo PS, BE, PCP e Os Verdes, mas que se sabe que nunca seriam cumpridas. Lamentavelmente, Manuela faz por esquecer o que se pôde ver ao longo de quatro anos.
Mas tanto Manuela como Francisco Assis persistem em defender o que praticamente todos os constitucionalistas já explicaram: não basta ter mais votos para formar Governo. Como se vê! Basta olhar um concurso literário cujo regulamento exigisse maioridade de vinte anos. Se um jovem de quinze concorresse e o seu trabalho fosse o melhor dos chegados ao júri, tal nunca lhe daria a vitória, porque era essencial ter vinte anos ou mais. Mas claro que Manuela só defende tal ideia porque assim procede o Presidente Cavaco Silva, porque se este tivesse a posição inversa, inversa seria a posição de Manuela Ferreira Leite.
Em contrapartida, Francisco Assis salienta que o PS foi, por diversas vezes, nos últimos quarenta anos, criticado pela extrema-esquerda, que acusava o partido rosa de estar cada vez mais à direita e de ser adversário dos valores de Abril. Bom, caro leitor, é mesmo essencial não possuir argumentos para se deitar mão deste arrazoado! Então e Adelino Amaro da Costa, que logo depois do segundo Governo de Soares explicou que o CDS se tinha unido ao PS para o destruir?! E o que o PSD e o CDS/PP já disseram do PS ao longo destes quatro anos?!
Depois, quando Francisco Assis refere que estarem a realizar agora o Bloco de Esquerda e o PCP um acordo com o PS revela um despudorado cinismo político, a conclusão que tem de tirar-se, para lá de duas outras, é que Francisco Assis não consegue compreender o que está hoje a passar-se no seio da nossa vida política nem percebeu o significado dos resultados eleitorais.
A uma primeira vista, Francisco Assis não compreendeu que os votantes no PS, no Bloco de Esquerda, no PCP e n’Os Verdes tinham um pensamento político primeiro: retirar a coligação do PSD e do CDS/PP da governação e pôr um fim na política com que estes dois partidos desgraçaram a vida da grande maioria dos portugueses. É uma atitude – esta de Francisco Assis – que mostra a enormíssima distância entre o eurodeputado e as naturais e justas aspirações de uma imensidão de portugueses.
Diz Francisco Assis que foi a extrema-esquerda que sempre se auto excluiu não só da esfera estrita de governação, como no horizonte mais vasto de definição das grandes prioridades nacionais. Uma frase fantástica, com aquela expressão – extrema-esquerda –, como se esta tivesse um ínfimo de sentido nos dias de hoje! Em todo o caso, uma frase que se adapta muitíssimo bem a Francisco Assis, para quem os partidos do atual Governo Grego são extremistas!!
Por fim, aquela frase já hoje mui bem caraterizada: o PS não se pode deixar aprisionar por compromissos impeditivos da prossecução de uma ação reformista de que o País notoriamente carece. Note bem, caro leitor: ação reformista... Ou seja, Francisco Assis, de facto, defende a destruição do Estado Social, que corresponde à tal ação que designa por reformista. E se o mundo dos grandes interesses especulativos internacionais definiu este caminho, é por ele que Francisco Assis prossegue.
De um modo hoje já evidente e indiscutível, este é o objetivo central do pensamento político de Francisco Assis, claramente identificado, na sua grande generalidade, com a ação política da anterior Maioria-Governo-Presidente. Mas Francisco Assis nunca aceitou bem a chegada de António Costa à liderança do PS. Recordo bem certo congresso do PS em que José Sócrates referiu, de um modo exclusivo e logo notado, o nome de Francisco Assis, que chamou ao palco. Tal gesto foi logo tomado como uma indicação de quem deveria ser o seu seguidor. A verdade é que a História traz-nos novidades a cada esquina.
Há também, neste gesto quixotesco de Francisco Assis, uma marca da sua enorme ambição pessoal, onde o que ontem não era verdade passou já a poder sê-lo. Espero bem que os militantes do PS, porventura também os seus simpatizantes, não se deixem levar por este palavreado de quem poderia estar bem melhor colocado no PSD de Pedro Passos Coelho que no PS, e que compreendam que esta ação de Assis é uma segunda via da inenarrável candidatura presidencial de Maris de Belém. Querem a pobreza e a miséria criadas pela anterior Maioria-Governo-Presidente? Ah, nesse caso votem em Maria de Belém e deixem-se levar por Assis. Mas se querem sair do pântano destes dias, retirem-no da equação resolutiva dos problemas dos portugueses.