Palavras significativas

|Hélio Bernardo Lopes|
Na tarde em que Maria de Belém apresentou aos portugueses a sua candidatura ao Presidente da República, naquele pequena sala do Centro Cultural de Belém, foi possível ouvir algumas palavras de António Almeida Santos, em geral acertadas e desfazendo a tragicomédia com que a generalidade dos jornalistas tem ajudado a destruir a imagem e a credibilidade da democracia portuguesa, da III República e da sua Constituição.

No meio das suas considerações, porém, Almeida Santos explicou a sua razão de apoiar Maria de Belém e não António Sampaio da Nóvoa, como o fizeram António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Vítor Ramalho, entre tantos outros elementos do PS. De modo que foi possível ouvir-lhe estas palavras, por acaso extremamente significativas: o PS, de facto, deu liberdade de escolha aos seus militantes, não assumindo um apoio oficial na primeira volta, o que foi um ato correto, mas eu escolho Maria de Belém, dado que é, das duas candidaturas em jogo, a que é de um membro do PS.

Esta explicação é extremamente interessante e significativa, porque mostra que a razão do apoio de Almeida Santos a Maria de Belém não se prende com a qualidade da candidatura, mas sim com a filiação partidária. Este mesmo António Sampaio da Nóvoa, se acaso fosse do PS e esta Maria de Belém o não fosse, o apoio de Almeida Santos iria para aquele e não para esta. O que significa que a escolha não é feita pelo lado substantivo das candidaturas, mas sim pela filiação partidária.

É claro que todos nós sabemos que as coisas são assim em Portugal, mas aonde eu pretendo chegar é a um histórico discurso de Salazar na década de cinquenta do passado século. Quando hoje se lê esse discurso, quase se fica a acreditar que o velho político da II República tinha acesso a Deus.

Por fim e a este propósito, volto a contar aqui o que se decidiu, há umas boas décadas, numa reunião de concidadãos nossos da direita e em que eu era um deles. Nuno Abecasis levou para essa reunião um Projeto de Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo, tendo salientado tratar-se do texto mais feito que vira na sua vida.

Simplesmente, ao final, explicou que a AD teria de votar contra, porque o texto era proveniente dos comunistas. Temos a democracia, como costumo dizer, mas não podemos escolher o melhor para Portugal e para os portugueses por causa de tiques partidários, realmente já sem um ínfimo de significado. Faz lembrar as palavras recentes da laureada (política) com o Nobel da Literatura, metendo no mesmo saco Estaline e Putin, o que é algo de inenarrável.

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