O pânico dos camaleões

|Hélio Bernardo Lopes|
Os nossos canais televisivos, até mesmo muitos dos nossos jornais, estão repletos de jornalistas, analistas e comentadores que trabalham melhor para a direita que os próprios políticos desta.

Muitos destes jornalistas, analistas e comentadores de direita, nestes quatro anos que o Governo de Pedro Passos Coelho leva de vida, com grande frequência surgiam a debitar, quase a um ritmo semanal, contra a ação da política do Governo. E a situação era de tal ordem, que os próprios moderadores quase ficavam atónitos com que iam ouvindo.

Porém, à medida que se aproximou a campanha eleitoral e em face dos resultados que as empresas de sondagens iam debitando, começaram a operar uma ligeira mudança de posição: a direita foi sendo razoável, depois boa, a seguir excelente, e tudo isto em concomitância com a situação inversa do PS. A falta de coragem política ditou o resto, como se dá com Pedro Santana Lopes, Rui Rio e João Jardim.

Estes mesmos comentadores, de um modo imensamente geral, ficaram nas nuvens com a saída de António José Seguro, crentes de que com António Costa a direita dos interesses poderia continuar a ter no PS um partido serviçal, porventura até melhor que a maioria que ainda anda por aí. Bom, para já enganaram-se.

Claro que António Costa não é um suicida, nem se determinará, alguma vez, a seguir a linha que todos vimos com Alexis Trypras – teve um significado enorme e muito positivo para uma imensidão de europeus –, mas a verdade é que a qualidade que mais foi em si apreciada não foi a de ser mentiroso, mas a de um homem bom. De resto, é fácil darmo-nos conta desta realidade e desde há muito.

Pois, aí está já, bem à vista, o pânico dos camaleões que hoje enxameiam os nossos canais televisivos, fazendo lembrar a atribuição dos prémios literários em Portugal, tal como há dias, em mais uma sua interessante entrevista, referiu Mário Cláudio. Num ápice, passaram ao ataque a António Costa, hoje já a roçar uma linguagem soez.

A grande verdade é que estes nossos camaleões estavam desejosos, e de há muito, de ver Pedro Passos Coelho pelas Costas, tal como Paulo Portas, mas nunca imaginaram que PCP e Bloco de Esquerda pudessem ser dirigidos por gente séria, patriota e com bom senso. Bom, surgiu o pânico por quase todo o lado. Até mesmo nos que estão desejosos de ocupar o lugar de António Costa, embora reconheçam estar a anos-luz do seu valor. Mas que importância teria tal facto, se pelo serviço aos grandes interesses da direita se pudesse, um dia, vir a receber uma excelente prebenda profissional? Uma porra...

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