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|Hélio Bernardo Lopes| |
Por acaso, uma zona fortemente católica da Alemanha. Como se percebe, toda a gente sabia dos campos de extermínio, na Alemanha e noutros lugares, mas, tal como se dá com os refugiados que hoje demandam a União Europeia – por acaso, também a Alemanha –, fingia-se não ver.
Ora, na sequência da má vontade alemã contra o povo grego, o Governo da Grécia determinou um levantamento exaustivo dos crimes praticados pelos alemães do nazismo durante a sua presença na Grécia. Pois, a lista apurada foi agora dada a conhecer: uma lista interminável de tragédias. Foram as conclusões documentadas da historiadora que dirigiu o levantamento em causa.
A documentação levantada mostra relatórios do comando Exército da Alemanha na Grécia, mas também diários de militares que relatam execuções, saques e a destruição de aldeias inteiras. Estes dados, ora postos a nu, eram semanais, expondo listas de bens apreendidos, incluindo gado, trigo, azeite e mesmo tapetes de lã. E tudo isto num tempo em que a grande maioria dos gregos passava uma terrível fome. Esta documentação refere-se a um período de quatro anos, que se desenvolveu desde a invasão da Grécia, em 1941, cobrindo a Batalha de Creta, a ocupação de Atenas e o combate à resistência grega, até 1944.
O caso de Creta é muito sintomático, dado que a resistência grega foi aqui especialmente tenaz. E a consequência foi que o comando militar determinou que por cada soldado alemão morto ou ferido dez habitantes dessa zona deviam ser executados. Em todo o caso, o que também é verdade é que este foi procedimento o adotado pelas autoridades norte-americanas logo que terminada a guerra na Europa: por cada militar americano morto eram executados, ao acaso, vinte alemães.
Acontece, como se sabe agora bem, que uma situação deste tipo – uma cambiante – está a ter lugar na União Europeia, um verdadeiro barco que deu à costa. Neste mesmo momento está em vias de ser posto em funcionamento um verdadeiro plano destinado a impedir a entrada de refugiados no espaço europeu, mesmo que tal iniciativa leve à morte de muitos milhares de refugiados. Depois de se erguerem muros de tipo diverso em Estados vários da União Europeia, também a própria Alemanha se prepara para erguer o seu na sua região mais oriental. E tudo isto perante o silêncio do Papa Francisco, cujo desconhecimento não é possível imaginar. O que nos faz perceber o valor e o alcance do conjunto de palavras da tal ideia de uma família por paróquia...
Tudo isto, porém, ocorre na pátria da Volkswagen e de outras marcas, agora que se conhece bem a gigantesca fraude praticada, seja contra os compradores, seja contra Estados diversos do mundo, seja contra o próprio Planeta. E já não custa perceber que a União Europeia, perante um crime que deve ser muito geral, tenta fingir que vai pôr as coisas no lugar. Desta vez sim, a coisa vai mesmo ao lugar...
É interessante constatar como tanta gente anda preocupada com o regime angolano, ou com a Guiné Equatorial, e como até epitetavam o povo grego e os seus atuais governantes do SYRIZA e do seu parceiro de coligação, como infantis, mandriões e corruptos, e nem lhes ocorre exigir a punição criminal adequada em face de uma fraude tão grave e tão gigantesca. O nazismo era mau – era um horror! –, mas deixar morrer à fome, ao frio e à chuva centenas de milhares de refugiados, para mais como consequência de uma guerra criada pelos Estados Unidos e apoiada pelo Ocidente, é coisa sem real importância. E que é feito das Nações Unidas, e do Tribunal Penal Internacional ou do Tribunal Europeu de Justiça? Por onde anda o poder judicial europeu, seja o nacional ou da comunidade?
Por fim, é essencial tentar perceber o que é hoje, de facto, a União Europeia. E o melhor que pode encontrar-se para satisfazer tal objetivo, é ler o que Yanis Varoufakis disse ao Expresso e em Coimbra. Está ali, naquelas suas duas intervenções, um verdadeiro dicionário para que se possa perceber a vergonha da União Europeia dos nossos dias. Vale a pena ler tais intervenções, porque elas explicam a fantástica mentira do nosso tempo na Europa.
Os gregos terão feito muita coisa censurável, mas não causaram duas guerras mundiais nem andaram a enganar o mundo inteiro. Em mérito relativo, ficam muitíssimo acima dos alemães, até por terem sido mais uma das suas vítimas e em larga escala.