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|Hélio Bernardo Lopes| |
Foi o que se pôde ver ao redor de práticas pedófilas, com a expressa indicação de que tudo fique no interior do grupo, sendo aqui dirimidos os casos. Bom, era o que se passava e se diz não passar agora com a Igreja Católica.
O documentário mostrava, por igual, o constante incentivo a que os membros das Testemunhas de Jeová entreguem boa parte do que possuem à estrutura, a fim de ajudarem ao serviço de missão religiosa da mesma. Bom, sempre foi assim também com a Igreja Católica, embora tudo decorra com muito mais sofisticação, sem que os padres andem a pedir doações durante as missas. Ainda assim, parece que as Testemunhas de Jeová não possuirão nenhum banco, situação contrária à da Igreja Católica, que descobriu a necessidade de supervisão depois de instada pelos Estados Unidos e pela Itália.
Depois, as represálias em termos de amizades que os que saem sofrem por assim terem procedido. Mas se é verdade que esta não é a situação geral com os católicos, já o é, por exemplo, com quem saia, entre outros casos, da Opus Dei, mormente sendo numerário. E para se perceber o que também se diz da vida interna desta estrutura, há que ler o que nos vieram contar os que de lá saíram, sendo especialmente interessante o relato de Maria del Carmen Tapia.
Acontece que estes casos sempre me pareceram estranhos, por existir quem se determine a entregar a condução da sua razão e da sua vontade a terceiros, tomados como elos de ligação a Deus e verdadeiros intérpretes da Sua vontade e da Sua palavra.
Do que pude ir vendo ao longo da vida e que me pareceu ter agora sido confirmado, a generalidade dos membros das Testemunhas de Jeová, em Portugal, serão oriundos de um patamar baixo da comunidade, mormente em matéria de qualificações académicas. O documentário refere mesmo a existência de alguma pressão no sentido de pôr as explicações de tipo científico de lado, porque o futuro vem já aí, com ele se salvando uns, poucos e muito puros, e perecendo os outros nos infernos.
O problema das Testemunhas de Jeová, como o da generalidade dos crentes, é o de entregarem a sua consciência, a sua razão e a sua vontade ao controlo de terceiros, sempre em nome de uma qualquer fé que os transcende e lhes dá, aparentemente, uma explicação cabal para quanto se passou, passa e passará. São, para os que seguem à risca os seus magistérios, estruturas totalizantes de pensamento. Cada um deixa de ser livre, porque só pode fazer o que dizem os cânones, interpretados pelos intermediários entre eles e Deus. Ficam, pois, controlados, embora se deitem a tal por via da sua livre vontade.
O que é realmente certo é que cada um de nós precisa de Deus. Mesmo que Este não existisse, já existe. Mas esta fé, tão natural, pode perfeitamente ser vivida sem envolvências em estruturas religiosas, porque depois de nelas entrar, delas sair comporta complicações diversas, sejam maiores ou menores. A consciência, naturalmente, indica-nos o caminho a seguir para operar o que gostaríamos que também nós tivéssemos. Basta, pois, seguir os ditames da nossa consciência.
Um dado é certo: uma estrutura de natureza religiosa que se encontre marcada pelo segredo e pela obediência não poderá nunca deixar de correr um risco grande de ver enviesarem-se os ensinamentos que aponta aos seus membros. A verdade, até onde a conheço, é que as Testemunhas de Jeová ainda não deverão possuir nenhum banco.