Como se vê, nada mudou

|Hélio Bernardo Lopes|
Desde a eleição do Papa Francisco que nem por um segundo duvidei de que nada do que se vinha dizendo deverem ser as mudanças no seio da Igreja Católica viria a ter lugar. Hoje, quando escrevo o presente texto, considero que está já demonstrado, a menos de um mínimo de dúvida, aquela minha expectativa. 

Objetivamente, a chegada de Francisco à liderança da Igreja Católica, de realmente substantivo, nada mudou. Vejamos alguns dos aspetos desde sempre mais referidos, ou mesmo mais importantes.

Em primeiro lugar, o tal acesso das mulheres ao sacerdócio foi logo liminarmente posto de parte. Ao mesmo tempo, Francisco assegurou que às mulheres seria dado um papel acrescido e absolutamente essencial no seio da vida da Igreja Católica. Simplesmente, nunca foi essa aa questão que levou os tais católicos progressistas, hoje quase eclipsados, a criticar os antecessores de Francisco.

Em segundo lugar, o acesso dos padres ao sacerdócio. Também aqui nada foi mudado, embora haja que reconhecer tratar-se de um tema que se refere à organização interna da Igreja Católica. Só cito aqui o tema porque os tais católicos progressistas sempre criticaram os anteriores pontífices por não porem um fim no celibato dos padres.

Em terceiro lugar, o caso do dito banco do Vaticano. Afinal de contas, o banco continuou. É claro que se diz hoje existir uma supervisão, mas facilmente se percebe que tudo não poderá passar de mera fachada, uma vez que banco é banco e que por cada um destes se terá sempre de passar o mesmo, embora com cambiantes. O próprio Adriano Moreira, questionado em entrevista pela revista STELLA, defendeu que a Igreja Católica não é compaginável com a posse de um banco, porque Jesus expulsou os vendilhões do templo, não os querendo lá.

Em quarto lugar, o histórico problema da pedofilia no seio de muitas estruturas da Igreja Católica. Com um mínimo de atenção, conhecendo-se hoje a dimensão que o problema atingiu, e que o mundo conheceu, já pelo final do pontificado de Bento XVI, percebe-se facilmente que tal problema é estrutural e que o modo como as estruturas da Igreja Católica se encontram organizadas, quase fechadas e sem controlo exterior, terá sempre de propiciar aquela horrorosa realidade. E convém não esquecer que os dados conhecidos dizem apenas respeito ao dito Primeiro Mundo, imaginando-se com facilidade o que deverá ter lugar no Terceiro Mundo.

Em quinto lugar, a completa incapacidade – uma realidade que se reforça – para reconhecer que o casamento católico de há muito se encontra marcado pela força da tradição, mas sem se suportar – é impossível – numa cabal assunção da doutrina que, teoricamente, lhe subjaz. A tal ponto assim é, que um membro espanhol da Opus Dei, há perto de uns vinte e cinco anos, chegou ao ponto de propor, em livro, três tipos de casamento: civil, católico admitindo divórcio e católico não admitindo divórcio!

Ora, nós temos aí, afinal, a nula mudança, no domínio dos casais católicos divorciados e recasados: continuarão a não poder comungar. Claro que se trata de mera enunciação de uma regra, porque a carência psicológica dos crentes acabará por levá-los a comungar num qualquer outro lugar. Os crentes, como um dia José Manuel Barata-Moura expôs a Maia José Nogueira Pinto num PRÓS E CONTRAS, precisam da sua fé, seja ela uma realidade ou uma mera criação do seu próprio espírito.

E, em sexto lugar, o caso do casamento homossexual. Tenho para mim que, neste domínio, a Igreja Católica defende a lógica das coisas da vida, mas recusa compreender a dinâmica cultural das sociedades. Bom, é um ponto de vista, mas que mostra que, de facto, a Igreja Católica em nada mudou. E por isso acho estranhas as tomadas de posição dos que, como Mário Soares, continuam a manter um olhar embevecido para com Francisco. Até para com Obama, que, depois de laureado com o Nobel da Paz, quase conduziu o mundo à porta de uma nova guerra mundial. O próprio David Cameron já garantiu que o Reino Unido poderá socorrer-se de armas nucleares, embora se estiver em risco a segurança inglesa. Como esta situação nos é transmitida pela grande comunicação social e dado que esta se encontra sob controlo dos grandes interesses, é bem possível que, num dia destes, o excesso populacional do mundo venha a baixar razoavelmente.

Mesmo por fim, aí nos foi dado observar o caso do padre Krysztof Charamsa, que depois de nos contar o seu caso de homossexualidade, de pronto foi posto na alheta, como usa dizer-se. O mais espantoso é que casos como este se encontram a anos-luz de ser isolados, antes constituindo uma realidade deveras frequente e de há muitas décadas conhecida. E quem diz estes casos, diz os da pedofilia ou o de filhos e filhas à revelia do celibato.

É essencial que os simpatizantes do Papa Francisco se deem conta de que o padre Krysztof Charamsa foi já destituído de todas as suas funções e nos diversos organismos da Igreja Católica onde as exercia. Se a Igreja Católica contemporizasse, os simpatizantes de Francisco de pronto diriam: cá está, estão a dar-se mudanças e melhorias. Como se deu o que se sabe agora, sobrevém o silêncio, assim como se nada tivesse tido lugar.

Houve, porém, mudanças no seio da Igreja Católica: Francisco deixou de usar os sapatos vermelhos de que Maria Filomena Mónica tanto gostava, e que vinham de Paris, passando a usar uns outros, mas borrachões; pôs de lado o crucifixo em prata – ou platina? –, para passar a usar um outro, mais férreo; prescindiu de escolta, passando a dar beijinhos a esmo; fala com homossexuais ou com lésbicas, mas mantém-nos à margem da comunidade católica; vai num carro pequenino, em vez de numa limusina de alta segurança; etc.. Enfim, um Papa que me traz ao pensamento Anthony Quinn, no filme AS SANDÁLIAS DO PESCADOR, em que fazia de pontífice vindo de uma prisão siberiana. Bom, tudo ficou na mesma, como se viu pelo final do filme. No caso de Francisco é essencial perceber o abismo entre a aparência das suas brincadeiras e a realidade substantiva da sua liderança. O caso do padre Krysztof Charamsa responde a esta realidade…

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