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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Em primeiro lugar, as inenarráveis considerações de António Barreto ao redor da falta de independência dos deputados do PCP, do Bloco de Esquerda e d’Os Verdes. Mas será que os restantes deputados, mormente os da direita, são independentes das lideranças dos partidos? O que aconteceu no PSD, por exemplo, com António Capucho e com Adriano Jordão, entre tantos outros casos? Alguém, desde que com seriedade na análise dos factos, consegue imaginar que um outro candidato de direita possa concorrer à próxima eleição para o Presidente da República? Ou que a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa é independente do PSD, até do CDS/PP?
Acontece que, num destes dias, em entrevista concedida a Vítor Gonçalves, António Barreto expôs que nunca os comunistas chegaram ao poder, em democracias ocidentais, por via eleitoral. Felizmente, alguém do Público expôs a verdade sobre este tema: ao longo do século XX e do atual não faltam, na Europa Ocidental, exemplos do contrário do dito por António Barreto.
Em segundo lugar, o que esta eleição de Eduardo Ferro Rodrigues mostrou foi exatamente o contrário do que referiu António Barreto: a tal tradição ora deitada por terra é que se suportava na falta de independência dos deputados. Desta vez, mesmo com voto secreto, tiveram até lugar duas abstenções, sendo o mais provável que tenham tido origem nos tais seguristas que tudo têm feito para se colar à atual coligação do PSD e do CDS/PP.
Em terceiro lugar, a escolha de Eduardo Ferro Rodrigues. Bom, era uma das possíveis, podendo para mim servir plenamente, por exemplo, António Filipe, do PCP, ou Heloísa Apolónio, d’Os Verdes, ou um outro deputado do PS, ou mesmo o académico José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda. Há muitas décadas perdi os complexos, até porque pude escutar de um histórico deputado do CDS, ao tempo da AD, num estado de profunda exaltação, que Eanes era comunista! Tive que lhe explicar que, segundo Lenine, comunista é quem é do Partido Comunista, e não os tais da pequena burguesia de fachada socialista. A verdade é que Eduardo Ferro Rodrigues, como Presidente da Assembleia da República, concede à nossa vida política um alto grau de prestígio.
Em quarto lugar, o seu discurso. No plano da beleza e da oratória, tratou-se de um discurso fraco. Simplesmente, estes não eram os fatores essenciais para o momento que ali passava. E por isso os pontos de ordem que ali defendeu foram muito importantes: os deputados têm todos a mesma dignidade, tal como os grupos parlamentares, dispondo a Assembleia da República de um prestígio e de funções que são essenciais ao funcionamento da democracia hoje presente em Portugal, à luz da Constituição da República.
E, em quinto lugar, as infelizes, deselegantes e agressivas intervenções de Luís Montenegro e Nuno Magalhães, mostrando que o PSD e o CDS/PP destes dias vivem apavorados com a possibilidade de perderem o poder, por cujo manejo destruíram Portugal e a vida de quase dois milhões de portugueses, deixando o País à beira de uma dependência quase total e sem grande futuro. Estão longe – PSD e CDS/PP – de ajudar a consolidar a democracia materializada na Constituição de 1976. Pelo menos à frente da Assembleia da República os portugueses têm um concidadão desde sempre identificado com a Revolução de 25 de Abril e com a Constituição da República. E estou certo de que nunca se lhe ouvirão palavras que coloquem Portugal, no plano internacional, numa situação ainda pior que a já criada pela ação política desenvolvida nestes últimos quatro anos. Por fim, uma pergunta: por andam Mário Soares e Jorge Sampaio?
