Um crescendo de pobreza

|Hélio Bernardo Lopes|
A generalidade dos portugueses que acompanham com atenção os principais noticiários televisivos recorda ainda muito bem aquele comissário europeu, ao tempo de Durão Barroso, finlandês, com uma cara de aparência pétrea e que deveria pensar não ter graça quando ria. Recordo agora que se chamará Olli Rehn.

A grande verdade é que a Finlândia é um país onde se vive bem e em que está presente o que se pode imaginar como sendo justiça social. De lá mesmo surgiu, há apenas uns meses, uma nova ideia sobre a estrutura do ensino secundário. No mínimo. Ao que parece, estará a ser experimentada, de molde a evitar resultados similares aos que tiveram lugar com o novo mapa judiciário e com o histórico CITIUS.

Ora, num destes dias, tive a oportunidade de tomar conhecimento de que também a Finlândia se propõe operar um corte na despesa pública, de modo a equilibrar as contas do país. De molde que o Governo vai pôr em prática um imposto temporário, mas aplicado aos mais ricos. Imagine-se uma tal iniciativa a ser operada em Portugal e o barulho que logo a nossa grande comunicação social suscitaria...

Claro que o Governo da Finlândia vai mais longe, porque também irá aumentar o imposto dos combustíveis, mesmo num tempo em que estes apresentam mínimos históricos. E como se dizia antigamente, o Governo vai fazer algo mais difícil ainda, completamente impensável em Portugal: cortar nos rendimentos dos governantes, reduzindo o seu salário num valor equivalente a uma semana de trabalho. Alguém imagina uma ação destas em Portugal? A consequência de nos situarmos nos antípodas desta realidade acaba por ser a de Portugal não constituir um bom país para se envelhecer no contexto da Europa Ocidental, como agora veio mostrar um relatório internacional: de parceria com Malta e com a Itália, Portugal encontra-se no conjunto dos três piores países. Além do mais, e depois do atual Governo ter posto um fim nas Novas Oportunidades, o relatório aponta a falta de oportunidades de formação sénior.

Ao mesmo tempo, veio agora a saber-se que a taxa de inscrição dos alunos na Faculdade de Direito de Lisboa, que era de dezoito euros, passou, neste ano letivo de 2015/2016, para o montante de duzentos e três euros... Imagine o leitor o que a nossa intelectualidade não diria a mais de Salazar ou de Caetano se estes tivessem a ousadia de praticar um ato deste calibre! Seria certamente pior que as consequências derivadas do tristemente célebre diploma 40 900, ao tempo de Salazar, mas sem que este tivesse um ínfimo que ver com a enormidade praticada pelo Ministro da Educação Nacional do tempo.

Hoje, de facto, já não temos o trabalho da defesa das províncias ultramarinas, temos uma apregoada democracia – os mais poderosos defendem-na com unhas e dentes –, estamos na famigerada União Europeia, mas vivemos como protetorado e sem futuro, e com uma pobreza que vai crescendo. Imagina-se, pois, com facilidade, aonde iria dar a continuação desta política e deste caminho.

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