O triunfo da hipocrisia

|Hélio Bernardo Lopes|
Não seria necessário que fosse o Papa Francisco a reconhecer perante o mundo que o atual grande problema que o varre resulta de estar o foco da organização social suportado no dinheiro e não nas pessoas. 

Simplesmente, reconhecida esta verdade pelo Bispo de Roma, ela assume um poder e um impacto que seriam sempre escondidos das comunidades humanas por parte do jornalismo que hoje serve os grandes conglomerados de interesses.

O sistema organizativo que suporta esta realidade que hoje nos chega diariamente é o neoliberalismo, potenciado nos seus piores efeitos pela globalização. Com tal realidade hoje omnipresente, não só a pessoa perdeu valor, substituída pelo dinheiro e pela necessidade de o gerar sempre em crescendo, como a própria Terra está à beira de uma ruína física.

O balanço final desta realidade pode medir-se pela completa incapacidade de retirar quem era pobre, ou vivia na miséria, em vastas regiões continentais, dessas situações, ao mesmo tempo que se estabeleceu este doloroso e vergonhoso máximo: um em cada quatro europeus vive na zona da pobreza, desempregado ou nem sequer assim.

No entretanto, a guerra tem vindo a alastrar e a potenciar-se em regiões vastas do Planeta. E desta realidade, diariamente conhecida, o rescaldo é agora a mais vasta vaga de refugiados que está a atingir o espaço da União Europeia, fazendo lembrar tempos que se admitiam como ultrapassados, e mostrando a completa ineficácia da dita União Europeia, Sem um ínfimo de meias palavras, a União Europeia simplesmente não existe.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e os restantes países islâmicos ou árabes simplesmente fingem nada ter que ver com o que está a passar-se. Algo inacreditavelmente, depois de se ter colocado Bashar Al-Assad como alguém já da zona do Inferno, eis que parece que os dirigentes políticos ocidentais terão agora percebido o precipício que os Estados Unidos tentaram criar à Rússia com os acontecimentos da Síria e da Ucrânia, mas que acabou por se virar contra os europeus. Num dia destes, teremos aí, com elevada probabilidade, uma guerra civil na Turquia, ou o desmoronamento libanês. Autênticas brincadeiras com o fogo, que parecem repetir a contemporização da França e da Inglaterra para com Hitler, na esperança deste invadir a antiga União Soviética…

Mas o Papa Francisco vai mais longe e mostra o principal fator gerado pela atual organização política do mundo, em especial no Ocidente: há um problema mundial, que afeta não só a Europa, mas o mundo inteiro, que é o problema da corrupção e a todos os níveis, o que também revela um baixo nível moral. Basta reparar no que se passou nos Estados Unidos, depois do estoiro da bolha imobiliária, e de como quase só Bernard Madoff acabou por ser condenado. Tal como pude já explicar, isto teve uma causa simples: o sistema que existe vive do crime e da exploração dos recursos terrenos e dos povos do mundo e da especulação de tudo quanto possa gerar lucro, seja do modo que for.

Sejamos honestos e claros: a União Europeia é uma estrutura sem comando nem controlo, onde uns milhares razoáveis de europeus vivem lautamente, aparentando servir o crescente conglomerado humano de desempregados e pobres europeus. E o que, com elevada probabilidade, deverá vir a ter lugar, é esta leva de novos trabalhadores, mas pagos com baixíssimos salários, acabando por enfraquecer, ainda mais, a situação dos que ainda aqui continuam a trabalhar. O que se dizia e no que acabámos por cair... E democraticamente, como quase todos persistem em dizer!

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