Dois discursos

|Hélio Bernardo Lopes|
O Papa Bento XVI, no seu legado, deixou ao mundo a encíclica DEUS É AMOR. Aí nos expõe que Deus a todos oferece o Seu Amor ilimitado e que só à luz deste tem significado o Amor de cada um de nós para com os seus semelhantes. A não ser assim, tudo não passará de um tolher do coração, mais ou menos piegas.

Nesta posição, como facilmente se percebe, existe uma fonte de valores, existem ideias e existem pessoas a ser servidas pela comunidade humana que lhes esteja ligada. E há, como se percebe facilmente, uma hierarquia nesta estrutura: primeiro, os valores; depois, as ideias; por fim, as pessoas.

Achei graça, pois, às recentíssimas considerações do Papa Francisco em Cuba, na primeira missa ao ar livre desta sua visita. Na Praça da Revolução, numa Havana cheia de fiéis e curiosos, o chefe da Igreja Católica pediu aos cubanos para que sirvam as pessoas e não as ideias.

Perante estas palavras de Francisco, surge-me esta pergunta: servir as pessoas à luz de que valores e de que ideias? É uma pergunta com lógica, porque o Papa tem-nos referido que esta economia mata – a que ainda não chegou a Cuba e nós conhecemos bem –, pelo que estando a mesma suportada numa doutrina própria – o neoliberalismo –, se suporta em valores e veicula ideias.

Toda a ação de cada um de nós na vida corrente é determinada por ideias. Ideias políticas. Infelizmente, as hoje preponderantes na classe política mundial suportam-se nos valores do neoliberalismo, onde só conta o lucro e mui pouco as pessoas. Nós, ao fim de quatro décadas, já podemos sentir os efeitos destas ideias e dos valores que as suportam.

Por fim, as tais três ou quatro dezenas de detidos preventivos ao longo desta visita papal. Apesar de tudo, estão a anos-luz do que vivem os refugiados que tiveram o azar de cair nas garras de Vítor Orbán, das autoridades húngaras e, em última análise, do que se passa no seio da União Europeia, que lá vai fingindo nada ver e tentando menos fazer. A generalidade do povo cubano só vai perceber a futura e dura realidade quando a si chegar a grande liberdade norte-americana, onde a polícia assassina pretos e hispânicos mais facilmente que por aqui se matam os pardais.

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