Coisas difíceis de conceber

|Hélio Bernardo Lopes|
Os acontecimentos que vêm varrendo o mundo, até já desde há muito tempo, vão-se mostrando cada dia mais espetaculares, embora no pior sentido que pode imaginar-se. Ou que nunca sequer se imaginou.

Em Portugal, por exemplo, os políticos e os jornalistas, comentadores e analistas, continuam a bater a tecla da democracia, tomando Putin como um Kilas e Obama com um excelso Nobel da Paz. Em contrapartida, nos Estados Unidos, Baltkom Lawrence Wilkerson, antigo chefe de gabinete do Secretário de Estado Colin Powell, afirmou que a linha política é estabelecida por cerca de quatrocentos multimilionários. Uma democracia à prova de bomba de hidrogénio, portanto. A tal democracia que James Cartar classificou, há dias, como sendo uma oligarquia apodrecida.

Ao mesmo tempo, surgiu agora a notícia de que certo espião britânico, encontrado morto em condições estranhas há cinco anos, teria na sua posse informação sensível sobre Bill Clinton. Informação que resultara da violação do diário do próprio Bill Clinton e que terá causado ao então diretor do MI6 um autêntico pesadelo. Verdade, ou mera especulação jornalística conservadora, destinada a criar escolhos à candidatura de Hillary Clinton?

Ainda nos Estados Unidos, eis que Kim Davis foi processada por se recusar a cumprir um acórdão do Supremo Tribunal Federal, recusando emitir licenças de casamento para homossexuais, dado que, para si, há uma autoridade acima daquele: Deus. Presente a juízo, foi detida, dado que é intolerável a desobediência a uma decisão legal.

Comentando esta decisão, o seu advogado de defesa salientou que hoje, pela primeira vez na História, um cidadão americano foi preso por acreditar que o casamento é a união de um homem e uma mulher. Um argumento que é falso, porque a funcionária está detida por se recusar a cumprir um acórdão do Supremo Tribunal Federal, e não por acreditar que o casamento é a união de um homem e uma mulher.

De novo nos Estados Unidos, soube-se agora o que sempre se teria podido conjeturar com total certeza: o FBI espiou durante um quarto de século o escritor Gabriel García Marquez, incluindo durante os anos em que se consagrou como escritor a nível internacional. Para meu grande espanto, Rodrigo García, filho do escritor espiado – e quem o não foi, por parte dos Estados Unidos? –, um cineasta que vive em Los Angeles, veio agora dizer que a sua família não tinha ideia de que o seu pai tivesse sido objeto de uma investigação por parte do FBI!

Consequência natural da ação criminosa do Governo dos Estados Unidos – no mínimo, já desde o primeiro presidente Bush –, aí está a quase cabal destruição da Síria, da Líbia, do Afeganistão e de tantos outros Estados ligados ao Islão ou aos árabes. Depois de criarem os mujaidines, os Estados Unidos acabaram por ver-se atacados no seu próprio território pela Al Qaeda. E se esta amainou, logo surgiu o Estado Islâmico, agora a ser combatido pelos Estados Unidos via...Al Qaeda!

A União Europeia, como agora se tem podido ver à saciedade, é coisa que nunca existiu. É excelente, sem dúvida, mas para os que ali trabalham, que ganham milhões sem pagar impostos. De molde que veio o correspondente resultado à superfície no meio da impensável crise humanitária dos fugidos das guerras e das desgraças criadas nos seus países pelos Estados Unidos, pela França e pelo Reino Unido. E sempre em nome da defesa da democracia e dos Direitos Humanos!

Certamente com boa-fé, mas cavalgando a onda de desgraça humanitária que varre a envolvente da União Europeia e já nesta penetrou com estrondo, o Papa Francisco veio pedir que cada paróquia receba uma família. E deu o exemplo: o Vaticano tem duas paróquias, pelo que nelas serão recebidas duas famílias. Ora, Portugal tem quatro mil trezentas e setenta e duas paróquias, pelo que esse deverá ser o número das famílias recebidas pelas estruturas da Igreja Católica em Portugal.

A este número há que adicionar o das misericórdias, bem como o das restantes IPSS. E também se espera a dispensa de propinas, ou outros emolumentos, com a finalidade das crianças em idade escolar poderem continuar os seus estudos. E a banca? Nada? E os clubes de futebol? Nada? E as autarquias? Não poderão as autarquias mais pequenas assegurar o apoio humanitário a cinco famílias? Portanto, fazendo contas, é fácil concluir que Portugal, malgrado tudo, poderá receber e ajudar quem nada realmente tem e muitíssimo acima dos tais mil e quinhentos apregoados pelo Governo. Foi assim que procederam o Brasil, a Venezuela, o Canadá, a Austrália, o Zimbabué, o Equador, os Camarões e o Gabão – pelo menos – para com os portugueses que deixaram as antigas províncias ultramarinas em 1974 e 1975.

No entretanto, lá acabou por se saber o que sempre teria de dar-se e eu mesmo escrevi: Pedro Santana Lopes não será candidato ao Presidente da República. E, tal como a tempo e horas vaticinei, acabará por surgir um só candidato à direita. Além do mais, até bem apoiado com essa genial ideia da candidatura de Maria de Belém. Nunca a direita se mostrou tão feliz... E por isso rapidamente aquiesci com as considerações de Maria Filomena Mónica em face desta candidatura e da completa ausência de perfil de Maria de Belém para o exercício daquelas funções. Qualquer um, com um mínimo de bom senso, percebe isto mesmo.

Em contrapartida, um comentário de sábado de Luís Marques Mendes veio mostrar o estado a que chegou o funcionamento da democracia em Portugal: se Rui Rio disser agora que se candidata, será o seu fim político! Mas porquê?! Então estas candidaturas dependem, afinal, dos partidos? E será que Rui Rio se vai ficar, receoso de que a si chegue o seu fim político?... Simplesmente inenarrável!

Num ápice, uma nova machadada, desta vez das bandas de Paulo Rangel. Conseguiu pôr toda a gente contra si e a poderem perceber o que o futuro lhes trará com a continuação da atual coligação. É verdade que Matos Correia logo veio demarcar-se daquelas inacreditáveis palavras de Paulo Rangel, mas só depois das proferidas pelo líder do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público: chicana política infeliz, a roçar algum totalitarismo.

Mas o que ainda conseguiu ser mais interessante foram as palavras da ministra Anabela Miranda Rodrigues, ao redor do famigerado caso do Estatuto dos Profissionais da GNR. Mostrou esta passagem que a professora conimbricense nunca devia ter aceitado um cargo político, porque este requer capacidade de argumentação e de falar com clareza. Vistas bem as coisas, até a imagem da Academia saiu bastante lesionada com esta intervenção da professora. Lá diz um velho ditado: cada um é para o que nasce. E talvez agora se consiga compreender a razão de ter sido preterida em certo concurso internacional, mas nunca pelo seu saber, porque esse, com toda a certeza, tê-lo-á.

No meio da maior baralhada e da miséria crescente da população ucraniana, Poroshenko começa a experimentar as primeiras dificuldades. Estou em crer que este homem, e alguns outros seus compatriotas, não irão ter um fim bom, para o que basta recordar o que teve lugar na Geórgia, logo que começou a exercer a sua (aparente) independência. Aqui, porém, tudo de deverá ser imensamente pior. Não devo estar enganado. Na Grécia, aí vêm as eleições, e de novo acompanhadas de sondagens. A verdade é que os nossos jornalistas, analistas e comentadores, tal como com as de cá, parecem nada aprender, falando como se as mesmas sejam um trabalho dotado de grande credibilidade. Depois de um empate técnico entre o sim e o não, que descambou no abismo que pôde ver-se, qual será agora o resultado?

Com o que me pareceu ser alguma estranheza, Vasco Pulido Valente deu à estampa o seu artigo, O MEDO. Mas fiquei sem perceber se Vasco só agora se deu conta de tal realidade, porque a mesma é reconhecida desde há uns três anos e pouco e tem vindo a ser alicerçada com a crescente ausência de garantias de segurança em mil e um domínios. Além do mais, criou-se a perceção de que o futuro não chegará aos portugueses. Pois se Luís Mira Amaral disse a quem pudesse e tivesse mérito que deixasse o País, como viver sem medo?!

De resto, ainda há dias António Lobo Antunes tee a oportunidade, cheio de verdade, de reconhecer que os portugueses estão a viver de forma muito dura e a serem tratados como cães, salientando que são os artistas que devolvem a dignidade às pessoas, numa alusão aos últimos anos de governação. Hoje, desde que com serenidade e sem paixão, percebe-se que Portugal tem vindo a ser vendido, nas costas dos portugueses, completamente a pataco. E, tal como eu sempre salientei, a generalidade dos portugueses nem liga um chavo ao que se passa.

Por fim, o regresso a casa, sob detenção, de José Sócrates. Indubitavelmente, trata-se de um estrondoso falhanço de quem tem responsabilidades no processo. Qual seria a diferença entre estar com pulseira eletrónica ou com vigilância policial para se evitarem prejuízos para o apuramento da verdade? Um polícia suscetível de ser usado? Mas como, se são imensos?! É uma dúvida impossível de superar. Ao menos em minha opinião. Aliás, não creio que eventuais intervenções públicas suas possam prejudicar os resultados do PS. Não dando um infinitésimo de credibilidade a sondagens, eu creio que o PS sairá razoavelmente vencedor. Ao contrário de um amigo de Sócrates, onde existem inimigos do PS é no próprio PS.

Basta ouvir as opiniões de políticos da direita sobre as candidaturas presidenciais de militantes do PS. Mas poderão surgir problemas para gente do PSD ou do CDS/PP, porque uma boa parta da verdade, por razões da elegância da política, nunca foi conhecida. Finge-se não perceber... Enfim, regressei.

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