As eleições de 4 de outubro - 1

|Hélio Bernardo Lopes|
Temos as eleições à vista, ao mesmo tempo que se assiste a uma indiscutível tomada de conhecimento dos portugueses, de um modo muito geral, para a completa ausência do programa da coligação de direita de desgraçou a vida da grande maioria dos mesmos. 

Uma realidade que veio à superfície por via dos debates – poucos – a que Pedro Passos Coelho não conseguiu furtar-se. Uma situação que acabou por mostrar esta realidade simples: para lá de ter feito aos portugueses o que fez, não diz o que vai fazer no futuro, nem os jornalistas apaniguados o questionam sobre tal. Enfim, a verdade a vir à superfície...

Com o presente texto inicio um sobrevoo sobre o que foram os quatro anos da atual Maioria-Governo-Presidente, tendo em conta as suas condições iniciais, como foram geradas e o que se pode esperar para o futuro da generalidade dos portugueses depois da tomada de posse do novo Governo. Como se sabe bem, Portugal tem uma vida já de quase nove séculos, e nela surgem constantes que se foram entropiando e que continuam vivas e muito penetradas no comportamento social dos portugueses. Pela natureza das coisas, tal realidade não pode nunca ser mudada rapidamente.

Sem as antigas províncias ultramarinas, com que os portugueses mantêm uma relação próxima e afetiva, Portugal acabou por embarcar na fatídica aventura europeia, sendo que os portugueses sempre estiveram longe da Europa em termos sentimentais e afetivos. Fomos, primacialmente, um povo virado para o mar e para os destinos a que por aí aportámos.

No seio da União Europeia, como tantos apontaram a tempo e horas, Portugal passou a ser mais um Estado pequeno. A passagem do tempo lá voltou a mostrar o que sempre poderia ter sido percebido: o espírito nacional não desaparece; os Estados que comandam são a Alemanha, o Reino Unido e a França; e as dependências criadas, mais uma vez, colocaram Portugal em default perante os grandes. Uma realidade histórica com séculos.

Depois da saída de António Guterres da liderança do Governo do País, sucedeu-lhe Durão Barroso, com resultados vários que se mostram um desastre. O principal dos qua foi a sua saída, sem nexo pátrio, para o estrangeiro, sucedido por Pedro Santana Lopes, sendo que raros em Portugal apoiaram esta sucessão, sobretudo, no PSD.

Com novas eleições, surgiu José Sócrates, cujos resultados foram excelentes em crescendo, até se meter em aventuras políticas pouco claras, para mais já com a crise mundial em franco desenvolvimento. Em todo o caso, e de um modo objetivo, José Sócrates e o seu Governo foram vítimas da medida inicial da União Europeia e da posterior contramedida: primeiro, criar liquidez, levando Portugal a pedir vinte e sete mil milhões de euros; depois, inverter a marcha, criando medidas de corte a nível diverso.

Surgiu, no entretanto, o lamentável discurso de Ano Novo do Presidente Cavaco Silva. O tal discurso em que alertou para que Portugal poderia estar a caminhar para uma situação explosiva. E se antes deste discurso Portugal era apontado, em Nova Iorque, como estando no grupo do meio da União Europeia, quinze dias depois do mesmo passou a estar no último grupo. Se o Presidente da República disse o que todos puderam ouvir, como não acreditar, assim deixando Portugal numa dificílima situação?

A verdade é que a Alemanha e a Comissão Europeia aprovaram o PEC IV do Governo de Sócrates – a Alemanha, portanto –, sendo que o PSD teve até o desplante de dizer que Sócrates apenas informara Pedro Passos Coelho por telefone, quando se veio depois a saber que este estivera cerca de hora e meia em São Bento na noite em causa. De resto, Miguel Relvas, no dia da aprovação do PEC IV, chegou mesmo a dizer a um canal televisivo que o PSD se congratulava, porque se era bom para Portugal, sê-lo-ia para o PSD. O grande problema, porém, foi o possível fim político de uma liderança do PSD que se ficasse por aí.

Acontece, contudo, que tal era ainda insuficiente para reprovar o tal PEC IV. Para que isso pudesse vir a ter lugar era imprescindível o apoio dos partidos da esquerda, PCP e Bloco de Esquerda. Infelizmente, estes dois partidos, agarrando-se ao outro mundo, puseram a defesa de uma mera utopia acima dos interesses naturais e legítimos dos portugueses: juntando-se ao PSD e ao CDS/PP, PCP e Bloco de Esquerda ajudaram a derrubar o PEC IV e, por aí, o Governo de José Sócrates. Facilmente se imagina o que foi a alegria da direita portuguesa, tal como agora, com a anunciada candidatura de Maria de Belém ao Presidente da República.

Assim nasceu, pois, o Governo desde sempre sonhado pelo PSD, como tão bem o mostrou o próprio Francisco Sá Carneiro: uma Maioria, um Governo, um Presidente, mas de direita. O resultado está à vista, saldado no empobrecimento muito geral dos portugueses, numa miséria que se tem espalhado por todo o território de Portugal, num caudal emigratório que muitas das suas vítimas nunca haviam presenciado nas suas vidas, e num futuro que será difícil de repor, para mais no seio da famigerada União Europeia e com o mundo à beira de uma grande guerra, já a decorrer aos pedaços.

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