A Carta

|Hélio Bernardo Lopes|
A generalidade dos leitores que me dá a honra de acompanhar os textos que vou escrevendo lembrar-se-á, com toda a certeza, da explicação por mim fornecida ao redor do derrube do avião malaio na Ucrânia: tal situação nunca teria um infinitésimo de vantagem para a Rússia, ou para Putin, porque o que logo se passaria a papaguear na grande comunicação social, invariavelmente ligada aos grandes interesses ocidentais, seria que foi a Rússia a causadora do atentado. Citei até diversos outros casos similares, havendo sempre a necessidade de ver a quem serve a notícia vinda a lume.

Pois, isto mesmo se passa com a já histórica carta surgida ontem, no PÚBLICO, ao redor da vinda da Tróyka para Portugal. A quem não convinha o surgimento desta carta era ao PS, dado que a mesma, embora mostrando o desejo de Pedro Passos Coelho e do PSD nessa vinda, relega a discussão da temática política para um tempo já longínquo, depois do qual muitíssima água passou por sob as pontes. Até na Resistência de Materiais há um teorema que mostra a progressiva perda de importância das condições iniciais de certo problema com a distância, que é aqui o tempo já decorrido.

Hoje, já todos perceberam que a atual Maioria de Governo deverá perder as próximas eleições. Quase com toda a certeza, como referiu Daniel Oliveira, deverá mesmo levar uma banhada, ou os portugueses ter-se-iam tornado suicidas e uns idiotas. De resto, todos os dias surgem mil e um novos indicadores que apontam neste mesmo sentido.

Sendo esta a realidade, impõe-se falar o menos possível do que se passou nestes recentes quatro anos. Além do mais, hoje mesmo tem lugar o debate entre António Costa e Pedro Passos Coelho na Renascença, pelo que esta carta, a trazer benefício, seria para a coligação, porque suscitaria a possibilidade de vir a ser tratada pelos jornalistas, quando o importante é analisar o que se fez e o que se quer fazer, domínios em que a Maioria está completamente em branco. Embora, como até os seus apaniguados reconhecem, essa brancura derive de se ir continuar com mais do mesmo. Basta recordar os tais seiscentos milhões de euros que este Governo pretende tirar nas pensões de reforma.

Ou seja: este caso da carta vinda a público – pelo PÚBLICO – a quem serviria seria à Maioria, até porque os portugueses mais interessados e atentos já conhecem muitíssimo bem quem apoiou e quem até disse ter aperfeiçoado o que havia sido acordado com a Tróyka. É bom que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas se determinem a expor o que pretendem fazer no futuro, e onde pretendem ir buscar os tais seiscentos milhões de euros, porque Maria Luís Albuquerque foi, logo ao tempo, muitíssimo clara. Ou seja: a carta, afinal, não serviu para nada, porque os portugueses já estão muito treinados ao longo destes quatro anos, bastamente habituados ao diz-desdiz.

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