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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Como se conhece entre nós à saciedade, basta acompanhar um qualquer programa sobre Justiça num dos nossos canais televisivos, e num ápice nos surgem luminárias em profusão e para todos os gostos possíveis. Em geral, em favor de criminosos ou que possam vir a ser dados como tal no futuro.
Para a generalidade dos nossos comentadores, a polícia, ou os procuradores ou os juízes sãos maus ou pouco rigorosos, até pouco cuidadosos. Já os advogados são, de um modo muito geral, absolutamente infalíveis.Como muitos recordarão, há já uns bons anos, um antigo dirigente do Benfica contou que, aí pelo meio da semana, o que os benfiquistas perguntavam era com quem é que o Benfica iria perder no sábado ou no domingo seguinte. Pois, o mesmo se deu, durante muitos anos, com os casos que surgiam no ambiente da Justiça e com gente com algum tipo de poder: acaba tudo por dar em nada.
A uma primeira vista – tem sido um pânico...–, as coisas neste domínio parece terem sofrido uma mudança. Eu não penso assim, propendendo mais para a hipótese do surgimento de uma singularidade. Simplesmente, ontem mesmo chegou a nós mais uma notícia oriunda do Sistema de Justiça da China, que se diz ser uma terrível ditadura: Guo Boxiong, Vice-Presidente da Comissão Militar Central durante uma década, ter-se-á aproveitado do cargo para obter promoções e benefícios para outros, aceitando subornos, pessoalmente ou através de familiares, estando agora a braços com a Justiça.
Acontece que Guo Boxiong é o segundo ex-Vice-Presidente da Comissão Militar Central acusado de corrupção no espaço de um ano, depois do seu colega Xu Caihuo, e de mais uma trintena de outros oficiais superiores, entre os quais um filho seu.
Estas detenções desenrolam-se no âmbito da mais ampla e prolongada campanha do género e de que há memória na China, tendo sido atingido um antigo líder da Segurança da China, Zhou Yongkang, já condenado a prisão perpétua.
De molde que termino este meu texto com esta pergunta virada para a perceção do leitor, em face da imagem que tem da vaga de corrupção que vem varrendo o País desde há décadas e da resposta do Sistema de Justiça: acha que uma realidade deste tipo poderia materializar-se em Portugal, sem que logo chovessem sobre juízes, procuradores e polícias raios e coriscos?