Foi isso mesmo, enganaram-se

|Hélio Bernardo Lopes|
Foi deveras interessante a conversa semanal, na SIC Notícias, entre Pedro Santana Lopes e António Vitorino, nomeadamente ao redor do atualíssimo tema da próxima eleição para o Presidente da República. 

De resto, o tema teria de ser o centro daquela conversa, sendo de um enorme interesse as diferenças de posição entre os dois comentadores.

Como seria de esperar, Pedro Santana Lopes compreendeu perfeitamente a candidatura de Maria de Belém, embora não tenha conseguido chegar ao ponto e a aplaudir e defender. Mas notou-se-lhe, em todo o caso, uma expectativa em face de a atual liderança do PS poder não apoiar a candidatura de uma antiga presidente do partido. Só não explicou o que devia o PS fazer se se candidatassem dois antigos presidentes. Nem se a disputa fosse entre uma antiga presidente e um outro que nunca o foi, como seria o caso de António Guterres.

Em contrapartida, e como seria natural em alguém do PS intelectualmente honesto, a candidatura de Maria de Belém causou estranheza a António Vitorino, que não percebeu a razão da mesma, para mais antes das eleições legislativas, e, pior ainda, com o conhecimento público operado no exato momento em que António Costa era entrevistado na televisão. Como se torna evidente, ninguém em Portugal, que não tenha interesse nas jogatinas da política partidária, pensa de outro modo.

A verdade é que logo ontem mesmo nos surgiu uma explicação da candidatura de Maria de Belém: enganaram-se. De molde que surge a questão: depois de tanto tempo sem nada dizer sobre a sua vontade de ser candidata, quando se percebia facilmente que o académico António Sampaio da Nóvoa tinha – e tem – uma elevadíssima probabilidade de sair vencedor – percebe-se isso mesmo nas sondagens diárias das convivências correntes –, eis que a candidatura de Maria de Belém, perante o imperativo do silêncio em face das eleições legislativas de Outubro, acabou por enganar-se e do modo estrondoso que pôde ver-se!

Cai-se, deste modo, num pequeno jogo de Teoria da Probabilidade: se essa candidatura e o facto ora ocorrido tivessem que ser analisados por um professor, eram aprovados ou reprovados, em termos da explicação fornecida, ou seja, o mero acaso? Pois, como se torna evidente, ninguém aceitaria a explicação do aleatório para o que veio a ter lugar.

E assim vai o País, sempre cantando e rindo, embora à custa da pândega política a que se chegou. São todos extremamente democratas, mas nunca conseguiram engolir a derrota sofrida às mãos de António Costa, naquelas primárias que permitiram a Jorge Coelho vangloriar-se de um tal ato cívico de procura maciça. O problema é que para se ganhar eleições há que evitar dar tiros nos pés e tudo fazer para evitar quem, a partir de dentro, acabe por deitar por terra uma vitória anunciada, só porque o candidato é exterior ao aparelho do PS. E se houve quem se interrogasse sobre o porquê de certa pressa, eu interrogo-me sobre a causa de tanto pânico dessa direita do PS... Como é possível que alguns históricos do PS vivam assim tão apavorados com gente intelectual e politicamente cimeira da sociedade civil, para mais um português de probidade inquestionável?

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